quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Ensaio Sobre a Bruma

O mundo inteiro e o absurdo
E o devaneio e a solidão
Me precipito somando tudo
No precipício da imensidão

Amenizando a bruma desta vida que se estende
Cessar os intervalos em tudo aquilo que se sente
Fraquejo na alvorada mas a vida segue em frente
Só pra derramar poesia em outro dia que virá
Será?

Se eu dormir demais não me acorde deixa o sonho prosseguir
Aceito tudo aquilo me envolve, mesmo que eu não possa permitir
Todo dia a gente tira a sorte só pra ver o azar se repetir
Chega de se dividir em acordes, chega de rimar sobre existir

O mundo inteiro e o absurdo
E o precipício e a imensidão

São todos tons mais claros, mas o mundo segue escuro
São todos sons mais vastos, mas o mundo segue surdo
São todos funcionários, mas o pagamento é curto
E 10 bilhões de sonhos que se apagam de manhã

Se eu dormir demais não me acorde deixa o sonho prosseguir
Aceito tudo aquilo me envolve, mesmo que eu não possa permitir
Todo dia a gente tira a sorte só pra ver o azar se repetir
Chega de se dividir em acordes, chega de rimar sobre existir

Tudo aquilo que eu calo, nasce e cresce em algum lugar
Pra me assombrar de noite quando eu já me esqueci
E se eu não me esqueci o pesadelo intensifica
E o que significa quando eu morro no sonhar?

Toda sombra toma forma, toda forma tem sua cor
E a ressaca das palavras que a gente evitou
De manhã eu guardo o sonho na estante em frente a cama
Mas o desconforto segue aonde quer eu for

Há espaço pra poesia quando a distopia vem?
Todo mundo já cansou de ouvir dos dias do passado
Serve outra dose longa e acende outro cigarro
O esforço inadequado em ser aquilo que convém

Se eu dormir demais não me acorde deixa o sonho prosseguir
Aceito tudo aquilo me envolve, mesmo que eu não possa permitir
Todo dia a gente tira a sorte só pra ver o azar se repetir
Chega de se dividir em acordes, chega de rimar sobre existir

Todo mundo sonha um dia
Todo mundo sonha um dia

Programa o teu relógio e esquece o que queria
Pois o dia a dia engole quem não quer contribuir
E se é isso que nos resta não dá mais para fugir
Morfeu virou as costas para tua fantasia

Mas não basta eternidade pra justificar a ausência
Se a vida é sobre ter alma então algo deu errado
Eu até quis fazer parte, mas me exigiam tanto
Eu até quis fazer parte, mas perdi a paciência

Todo mundo vai sonhar um dia e acordar com aquela sensação
De que tudo aqui é uma mentira e que não existe solução
Todo mundo vai sonhar um dia e morrer por dentro um pouco mais
Tudo é só uma imensidão vazia, então que diferença faz?

O mundo inteiro e o absurdo
E o devaneio e a solidão
Me precipito somando tudo
No precipício da imensidão

Amenizando a bruma se é que você me entende
Cessar os intervalos em tudo aquilo que se sente
Fraquejo na alvorada mas a vida segue em frente
Só pra derramar meu sangue em outro dia que virá

Todo mundo vai sonhar um dia e acordar com aquela sensação
De que tudo aqui é uma mentira e que não existe solução
Todo mundo vai sonhar um dia e morrer por dentro um pouco mais
Tudo é só uma imensidão vazia, então que diferença faz?

Se eu dormir demais não me acorde deixa o sonho prosseguir
Aceito tudo aquilo me envolve, mesmo que eu não possa permitir
Todo dia o sol bate mais forte, expurga o que não dá pra redimir
E o resto a gente transforma em acordes e segue como dá para seguir

sábado, 16 de dezembro de 2017

Gavetas

Já que o silêncio me incomoda toma todo meu barulho
Eu vou gritar nas tuas cabeças muito abandono e drama
E revirar as tuas gavetas atrás de todo o mesmo entulho
Que preenche a nossa vida tão latino americana

Ninguém gosta de ninguém, tudo é tão conveniente
E se não for pega tuas coisas e levanta da minha mesa
E se não for pega tuas coisas e vai conhecer mais gente
Porque afinal de contas: vale a pena com certeza!

E a gente bagunça tudo, que é pra fazer volume
Pra dissimular que existe algum elo que transcende
Olha só as evidências de que somos um cardume
De pessoas que esquecerem tudo aquilo que se sente

Lá fora não é muito melhor, toda decepção se iguala
E no final a gente aceita o que tem pra esta noite
Porque o final já é tão certo que já não há o que mais valha
Eu aceito o papel que me encomendou a côrte

E a gente ri e se abraça e se conhece há tanto tempo
E é tão legal estar aqui reunindo essa galera
Mesmo que tudo isso seja só outro momento
E que no final das contas o afeto se exagera

Tá tudo bem, tá tudo ótimo, tá tudo tão encaminhado
E esse ano foi terrível, mas melhora ano que vem
Essa coisa de ter fases realmente deixa estrago
É já está convencionado de que isso nos faz bem

Mas se não vier a glória, a gente faz outra piada
E cria outra temporada desses velhos conhecidos
Pensando bem, vamos ficar e nem vamos falar nada
É obvio que vamos tocar nos fatos que estão escondidos

E olha só, tá tudo bem, encerramos outro dia
E todo mundo vai rir alto, vão até bater na mesa
É só mais um acaso estar com esta companhia
Porque no final das contas: vale a pena com certeza!

domingo, 3 de dezembro de 2017

Comum

Toda explicação possível não explica quase nada
Somos só um acidente que teima em se repetir
Ao final de cada noite, procurando pra onde ir
Procuro a resposta certa para a pergunta errada

Vem a tempestade, a fúria e o destino é transitório
Minha pele que recorda o peso de cada velho toque
Como precipitar-se as águas e pedir que não sufoque
O amor carrega sempre um sofrimento compulsório

Tudo anda misturado, não dá mais pra distinguir
Outro dia a gente tenta explicar a solidão
E quem sabe em devaneio encontrar a solução
Pra tudo que se sente mesmo sem querer sentir

Todo dia apresenta outra falha no roteiro
A gente vai seguindo a vida e não entende quase nada
E o que é que nos importa após outra madrugada
Duvidar de qualquer coisa é o que me faz inteiro

Tanta coisa entrelaçada nessa imensidão comum
O mistério desvendado traz somente outro mistério
E os castelos ilusórios vão caindo um a um
Não há nenhum motivo pra levar tudo isso a sério

Tanta coisa entrelaçada sem nunca se completar
E essa gente que aponta sem mostrar outro caminho
Toda medida possível pra não se sentir sozinho

Aceito qualquer coisa que possa melhorar

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Verdade

Eles não querem a verdade, meu senhor, eles não querem
Eles só querem a solução pros problemas cotidianos
Quem é que irá julgar? Somos só seres humanos
Como estender a mão se os outros só nos ferem?


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Segredo

Morre aqui outro segredo: já não sei mais o que fazer
Eu que sussurro internamente o perdão pelos meus erros
Já não consigo esconder que tudo aqui é desespero
E sigo aguardando a hora em que o pior vai acontecer

Todo dia traz a tona outra falha do passado
Alguma marca que resume o que eu nem sei se sou direito
Eu volto a me questionar sobre o mal que tenho feito
E se tudo que acredito que é o certo está errado

Será que isso é sincero? Eu busco mesmo a solução?
Será que escrevo e então me esqueço, aceito como terapia?
Eu nem sei se estou fazendo algo que tenha serventia
Na maior parte do tempo o sofrimento é inspiração

Eu não quero conversar e expor tudo o que penso
Escolho transformar tudo isso em outra linha
O mural pra recordar o futuro que me vinha
Se não serve de mais nada, pelo menos me convenço

Afinal tudo é a crença no futuro mais sereno
E o que move toda gente é um sonho ou ambição
O preço é sua sanidade, não há negociação 
Aos poucos a gente se rende e perde a chance de ser pleno

É tão difícil fazer parte desse plano grandioso
E aceitar os organismos que abraçam suas funções
Mas agora entendo bem como é a falta de opções
E passo a acreditar que todo espaço é valioso

A gente foi criado pra querer somente o topo
Mas o mundo todo torce pelo fracasso geral
Porque se um rasga a cortina e expõe a farsa teatral
O silêncio pelas ruas te condena como louco

Eles venceram, é verdade, acabaram com a gente
Nós nunca tivemos chance de reverter este cenário
Eu entrego minhas armas e confirmo o itinerário
Pois o mundo continua, sem nunca andar pra frente

sábado, 25 de novembro de 2017

Depósito

Tenho escrito tanta coisa à meia luz destas manhãs
Como se às oito horas a vida fosse um desafio
Despejando a insensatez que normalmente silencio
Tudo mais vou postergando, pra servir ao amanhã

Como se o futuro fosse algo além de abstração
Devo assim me contentar com o papel que me foi dado
E aceitar que o certo para mim é ser errado
Não adianta nada procurar por salvação

As vezes vem a tempestade ou algo muito mais terrível
Madrugadas que se estendem por semanas em minha mente
Crendo haver compensação, aguardamos o depósito
Falta idade pro desgosto, nada aqui é tão incrível
É a cidade que transborda o torpor de toda gente
E as sinceras confissões de uma vida sem propósito

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Passagem

Não me acorde se eu fechar meus olhos
Não me chame para nada
Deixa eu ser somente a sombra da história já passada
Deixa que eu me acomode e feche a porta por detrás
Que eu já cansei de todo a gente que passeia por aqui
Hoje ainda não dormi...
Quando é que foi diferente?
Deixa as ilusões lá fora, toda a vida vai seguir
E se pra mim chegou a hora
Acerte o que eu não consegui


Nada disso é especial, são só voltas desse mundo
Quem digere o absurdo não entende minha passagem
Eu mesmo não entendo pra onde vai essa viagem
Certamente não me resta força para descobrir


Não me acorde se eu fechar os olhos
Eu fiz tudo o que podia
Me permita o último escape dessa imensidão vazia
Deixa que eu me acomode e por favor feche as cortinas
Que eu me cansei de ver o espectro entristecido dessa rua
Deixa a dor que não se cura
Quando é que foi diferente?
Existem certas sutilezas que a gente escolhe ignorar
Acabaram-se as certezas
Tudo mais deve acabar

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Psicose

Os fragmentos de minha vida seguem se distanciando
E a cada noite atravessada um sonho morre sem alarde
Um tanto eu venho silenciando, guardo aqui a outra parte
Certamente estou ciente, mas continuo aceitando

Talvez eu pense demais, mas do que vale isso agora?
Já não consigo me agarrar a qualquer felicidade
E sigo me afastando mais do que parece a realidade
Não consigo distinguir o caminho pra melhora

É leviana a minha rotina, não me presto a nada mais
Sigo o que parece ser o meu caminho natural
Aprofundo a dor a noite e faço o drama matinal
Dissimulo meu esforço, sei que já não sou capaz

Me disseram por aí que isso se chama psicose
E que eu já não vejo o céu nesse poço tão profundo
Realmente me faltou a simpatia pelo mundo
Eu queria achar a cura, mas exagerei na dose

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Soneto Sobre As Perdas

Nessa vida a gente perde tanta coisa
Mas nunca perde a sensação de faltar algo
E algum dia isso nos toma de assalto
E a gente nota já não ter o que perder

Nessa vida a gente perde tanta gente
A gente força os limites da ausência
E vai exercitando tanto a paciência
Ao reparar que a vida fica diferente

A gente perde as coisas por escolha
Chega uma hora que não dá pra continuar
E a vida segue como sempre tem seguido
Eu sei que isso não é mais questão de escolha
Mas se fosse eu gostaria de mudar
Só pra não ter te perdido

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Às Duas Horas

Tudo aquilo que me cerca veio a tona às duas horas
Todo tipo de fantasma que me faz alucinar
E as contas que eu já nem sei mais como pagar
O tédio e a solidão que nunca mais irão embora

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Nota #4

Dá-me a insanidade toda ou a toma por completo
Pois pra aceitar o drástico só me falta um modo fácil
Me poupa a dor da despedida com qualquer carrasco hábil
Ou então atende a prece e encerra meu destino


Não existe outra saída da minha própria consciência
E no fundo eu sei que nem com a intervenção vem a melhora
Se eu preciso sofrer mais, pago esta conta e vou embora
Já me tiraram tudo que eu amo e necessito


Então, só desta vez, volta os olhos ao lamento
Eu sei que sou culpado pelos erros e agonias
Embora meu desejo fosse apenas alegrias
Nem sempre a conclusão é resultado do intento


Eu aceito a penitência que se aplica aos desistentes
Não pode ser pior do que continuar aqui
Me satisfaz a experiência disso tudo que vivi
Que venha qualquer coisa pelo menos diferente

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Corte

O destino desses versos é padecer na tempestade
Ser recorte da tristeza que teima em se repetir
Ou o corte em minha pele pra deixar a dor sair
Algum dia a despedida se tornará verdade


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Vitrines

Portas e janelas pro vazio de minha alma
São essas madrugadas que passam tão rapidamente
É a falta de rotina que me fez inconsequente
Que agora vai levando o que restava de minha calma

São lençóis que não se lavam e carregam meu suor
Conquistado ou derramado sem calcular as penas
Eu que carrego o peso de ser quem tu condenas
Se eu não estivesse aqui tudo seria bem pior

Mas já estou muito cansado dessa velha redondeza
Retiro do jardim o sinal de minha existência
E resguardo para o fim o que sobrou da paciência
Para o derradeiro ato venho somando minha frieza

E logo não sobrou mais nada, só o que guardei aqui
Uma pilha de derrotas pra rimar com solidão
Sobra desespero e falta alguma solução
A vitrine escurecida das tristezas que vivi

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Sobre a Tempestade #1

Malfeito realmente feito e a gente permanece
E se olha no olho pra saber que isto é real
Veja bem, minha cara, a gente é tão racional
Com uma dose de conversa todo erro se esclarece 

Somando as nossas dúvidas encontraremos soluções
E no mais não leve as coisas como cálculos numéricos
A vida é tão repleta de problemas e mistérios
Não dá pra calcular a sorte nestas equações

E tudo mais deve passar, quando é que é diferente?
As coisas se constroem com as possibilidades
Então se esquece do resto e me acompanha na cidade
Como se tudo no mundo fosse feito só pra gente

E o que é que mudaria, se pensarmos de verdade?
Se fosse outra pessoa isto seria diferente?
Afinal de contas, aqui dentro ainda está quente
Mesmo que la fora caia qualquer tempestade

O que eu quero lhe dizer é que a gente só se soma
E que o jogo perigoso é só um jogo que se ganha
E que por mais que solução pareça um tanto quanto estranha
O caminho faz sentido quando a gente o toma

E isso tudo não diz nada, pelo menos para mim
Eu jamais teria medo das minhas próprias escolhas
O que me pesa a cabeça eu desanuvio em folhas
E se não funciona é fácil decretar o simples fim

Não me assusta e não te assusta, vamos admitir 

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Sobre Infinitos e Particularidades

(tocando your hand in mine - explosions in the sky)

Tanto tempo se passou neste silêncio e quanto mais há de passar. Como testemunhas silenciosas de outras vidas, vamos nos reservando às memórias mais calorosas que nosso passado pode prover. Mas ainda resta tanto de nós dois, é complicado mensurar. Desabafo inconsequentemente, pois sei bem que isso sempre dói na pele, como se partes de mim desafiassem a distância entre nós, mas dessa vez terei a leveza de não me fazer entender. Esta é apenas outra carta.

Nem vou esperar muito texto aparecer aqui pra dizer as coisas que realmente importam dessa vez, isso não é uma peça de um quebra-cabeça, isso nem mesmo devia estar aqui, não é registro. Eu sinto sua falta, sinto muito a sua falta, sempre senti muito, e as vezes eu só queria te ligar de noite pra conversar uns minutos, pra saber como foi tudo, mas eu me perco no magnetismo do costume, te ligar representa tanta coisa, sempre foi tão difícil ter essas conversas. Eu queria muito poder te chamar pra tomar uma cerveja, fumar meio maço de cigarros, comer alguma bobagem ou não, ou nada disso, ou qualquer coisa diferente em que a gente se encontrasse como pessoas diferentes, sabe? Alguma realidade paralela onde nada aconteceu entre nós, e eu simplesmente entrasse no bar e te visse sentada, completamente nova, realisticamente irreal pra mim, tudo diferente, só mais uma vez. Talvez em algum lugar as coisas tenham sido diferentes, talvez em algum lugar tudo tenha sido muito melhor, ou talvez as coisas que aconteceram com a gente sejam boas de alguma forma que eu não consigo perceber. Não importa.

Será que nós já somos realmente pessoas diferentes? Será que a gente mudou e melhorou em alguma coisa? Eu nunca conseguiria te dizer certas coisas, eu nunca conseguiria ouvir certas coisas de ti. Será que tudo continua como era? Eu nunca entendi muito bem o que acontecia comigo. Hoje eu sei que eu nunca me preocupei em entender como as coisas funcionavam entre a gente e nem em medir os danos. Estranho sofrer tanto e nunca ter pensado sobre este sofrimento, me faz questionar quanto de tudo o que eu vivi era real. Será que nós somos diferentes nos aspectos essenciais? Hei de me sensibilizar pela ideia, não aceitaria ter cometido injustiças no desenrolar dos anos, por mais que saiba que as cometi. Eu não aceitaria o gosto de ter perdido alguém por uma série de caprichos. Eu perdi a rédea desse passado, já não consigo me inserir em outro contexto. Isso também deve ser impressionante, pois ainda sinto coisas pertinentes à outra realidade, ainda tenho estas lembranças, ainda tenho calafrios, ainda sinto tua ausência.

Tem sempre alguma parte do meu dia que isso fica mais latente. Algum momento que te arrasta pra minha vida. Cotidianamente eu esbarro na tua ausência. É como se eu notasse que a piada seria mais engraçada contigo ou como se eu passasse sempre por algum lugar que eu tinha que ter te levado. É como se a comida fosse mais gostosa com você, ou como se a cerveja fosse melhor, ou como se o filme fizesse menos sentido. Eu tenho certeza que tudo era mais prazeroso contigo, mesmo que as vezes isso seja meio perverso. Nestes momentos de solidão eu só queria um por do sol, como o que estava aqui quando comecei a escrever este texto. Eu só queria muito barulho. Eu queria gente. Eu queria distrações. Tudo isso porque na verdade eu queria poder segurar sua mão e reviver alguns dias, que despontam a memória pela completude. Mas aí eu acordo, e a vida aponta a dualidade das coisas contigo, minha querida. Se eu lhe segurasse a mão seria pra dizer que nada nunca foi tão bom quanto estar contigo, assim como nada nunca foi tão difícil, nada foi tão doloroso. Saber que isso me corta e a dor fica pra sempre. Saber que isso me acolhe e o calor não me abandona. Eu sei bem que você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, mas também foi a pior.

Não há mérito nenhum em ter aguentado a dor que eu aguentei, ou suportado as tempestades, ou amansado a fúria. Eu fiz por amor, teria feito de novo várias e várias vezes se as forças tivessem me sobrado. Eu procurei justificativas nos lugares errados, só pra entender que se você era um karma, era o karma que eu precisava. Não teve nada na nossa vida juntos que não tenha me feito andar pra frente. Desde a menor das preocupações e vaidades até às genuínas insônias que a dor acometia. Eu aprendi coisas valiosas nas vivências mais terríveis e cada um dos desacertos me fez acertar posteriormente. Eu soube tirar o melhor disso, isso me tranquiliza. Por algum tempo eu fui vaidoso de ter me esforçado pra fazer o mesmo, mas é tão óbvio o teu sucesso, não tenho espaço nisso tudo, eu só admirei de longe. O preço que se paga por uma coisa tão boa é naturalmente ruim. Eu perdi muitos dias me consumindo na tristeza. Os danos à minha sanidade são cada vez mais nítidos. Eu viveria de novo...

Tudo bem, tudo bem se isso não fizer diferença nenhuma, eu não tenho propósito. Tuas lembranças conversam comigo e eu as vezes sinto que preciso responder. São pequenas doses de adrenalina ou amor, que me fazem digitar rapidamente coisas desconexas. São as raras madrugadas passadas em claro lembrando de alguma coisa que vivemos. É olhar pro banco do lado e lembrar de você. É um toque que me acorda, mas tudo é imaginação. Não tem problema, eu não tenho propósito. Isso não é arte, mas eu sei que é bonito. É pertinente, afinal é aceitar que essa parte de minha vida foi bonita também. Hoje seria diferente? Sim. Hoje eu só te levaria pra algum lugar legal. A gente conversaria sobre os últimos meses, sobre trabalho, sobre as aventuras mais recentes, sobre novidades, sobre família, sobre planos, sobre sonhos, sobre música, sobre shows, sobre restauração, sobre livros, sobre filmes, sobre séries, sobre bares, sobre cervejas, sobre comidas, sobre tudo o que eu tenho feito, sobre tudo o que você tem feito, sobre tudo o que os outros tem feito, sobre tudo o que não tem sido feito, mas será. Sobre a gente, separadamente.

Sobre infinitos e particularidades,

Sobre amor.


sábado, 23 de setembro de 2017

A Arte da Esquiva

Devo abaixar o tom de voz mais uma vez, é inteligente se fazer imperceptível, pois o que não é visado não é afetado. É assim que a gente vive a noite, sendo a sombra da própria sombra, até quase esquecer que a existência é concreta. Nos esgueiramos pelas portas e janelas, tampando as frestas que acusam o dia, por favor, nos tire a sanidade, mas devolva a noite.

Devo desviar dos móveis e tirar os meus sapatos, pois qualquer som é alto. A gente aprende a ser discreto e guardar a própria voz, dar ouvidos às paredes pra notar qualquer tremor e até mesmo fecha os olhos por pretender ser invisível. Lutando contra si mesmo pra dormir durante a noite, e sentir a derrota do amanhecer se repetindo. Hoje é terça ou sexta ou domingo ou quinta ou qualquer dia, porque todos são iguais, eu nunca quis existir em nenhum deles. E é difícil se anular durante o dia, porque o sol consola os doentes, mas não os renova. Vamos levantar da cama e sorrir para os porteiros dos prédios, não nos permitiriam o ócio, não nos permitiriam o silêncio, não nos permitiriam o torpor. 

E a cabeça segue zonza, em decorrência de outra tentativa de encerrar as coisas no auge, seguir não sendo a partir de uma lembrança feliz, uma noite gasta em meio aos meus. Não fomos feitos pra alvorada, nós nos escondemos em nossas próprias cavernas, nós nos esquecemos do que reside lá fora. O mundo não é meu, esse mundo não. E assim a gente prossegue por mais algumas semanas, resistindo às duras penas da sociedade: Pagar, coexistir, contribuir e obedecer. Seguir de preto pelas ruas cinzas, pois não devo me prender a nenhuma classe que não me honra os honorários. Abotoadeiras, gravatas, cintos, sapatos sociais, valises idênticas. Metrificados, aparados, limpos. Deus sente orgulho de vocês. Do resto ele se esquece.

Vocês que dormem cedo não sabem o que é ser forte. Vocês que acordam cedo não sabem o que é a angustia. A sensação de estar sozinho que é sempre amargo-doce, se questionar sobre os desejos e a fonte da inspiração. Eu desvio das cadeiras, pois não quero ser culpado por nada. Eu ando pelo piso mais certeiro, evitando sempre o ranger das acomodações, descansando em parcelas, pra se deitar cada vez mais devagar... tudo é tão barulhento.

Não posso dar mais evidências, a noite avança. Logo vem outra batalha, logo vem outra alvorada, e eu continuo aqui, me permitindo ser o nada que reside no quarto ao lado, me permitindo deixar o rastro de minha própria imundice. Metamorfoseado em qualquer animal selvagem que se esconde por instinto, pois sabe que todo e qualquer ser humano é um predador em potencial.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Novidades

Anunciando novidades que só valem para mim
É isso que eu faço nesse espaço que me cabe
É isso que eu faço com o tempo que me cabe
É isso que importa quando diz respeito a mim

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Frases Curtas

Tenho escrito frases curtas, que não enchem minha cabeça
Sigo a minha natureza, nada é muito diferente
A gente tenta um pouco mais se adequar à correnteza
É costume persistir pra ver se algo vai pra frente

Tenho escrito frases curtas sobre o que quero esquecer
Cicatrizando toques que marcaram minha pele
Poesias mais baratas que nunca eu tornei a ler
Um diário todo feito pra que o tempo não revele

Tenho escrito frases curtas, sem motivo, sem valor
Sobre como as coisas curtas marcam involuntariamente
O restante do meu dia tenho doado ao meu torpor
Pra que as frases curtas não se alonguem em minha mente

Tenho escrito frases curtas e já tão repetitivas
Como as poesias vivas que escrevi pra estes momentos
Acho que gosto das palavras, elas são definitivas
Evito sempre toda gente que só fica por um tempo

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Ritual Visual

E a fumaça para o tempo toda cor se misturou
Do pouco que sobrou nós não iremos nos lembrar
Deixa o escuro te contar o que você sempre buscou

Quem eu sou?
Há dias eu me sinto louco
E o tempo tem passado pouco

As folhas assobiam mas é tudo outro segredo
É que o homem sente medo de tudo que é oculto
Deixa o coração bater no susto aceita o desacerto
Que eu aceito que nós nunca mais conseguiremos
Nunca mais encontraremos o fundo disso tudo
Nunca mais mudar o mundo, entender o absurdo
Que é viver no mundo que é real

Realidade vai voltando, mas a gente vai fugir
Pra nunca ter que existir pela força do costume
Deixa a dor pra quem não se assume e busca o Ritual
Visual, deus sussurra em teu ouvido, tudo fica divertido
E a fumaça para o tempo
toda cor se misturou e do pouco que sobrou
Nós não iremos nos lembrar de como era antes
Reconhecer os semelhantes que ficam para trás
Escolhem o cotidiano seguem por seguir o plano real

Habitual
Eu sempre nego o que é real
Danço em qualquer ritual visual

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

24 de Agosto de 2017

Nada disso é sobre viver
É sobre se perder nas contas
E já não segurar as pontas
Se aprofundar na angústia de sobreviver


Nada disso é sobre ter felicidade
É só alivio cada vez mais raro
Pagar o preço cada vez mais caro
E já não ver encaixe na sociedade


Nada disso é sobre aprendizado
É apanhar mantendo a compostura
E ver que tudo se torna amargura
E já nem crer que o esforço é compensado


Nada disso é sobre poesia
É o sedativo pra este sofrimento
Pontuação que encerra o momento
Pra gente esquecer da vida vazia

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Saturado

São horas que se estendem por bem mais do que entendemos
E sonhos distorcidos pelas telas tão brilhantes
Um mundo assim tão vasto, mas tão pouco fascinante
Estamos saturados de tudo o que já conhecemos

Indiferença

Eu silencio o escândalo potencial de minha ruína
Na demão de tinta que me cobre a imperfeição
Remendando novamente o que sobrou do coração
Por adequação é que a gente aceita viver na rotina

Sei que nada disso basta, sei do mundo e sua vileza 
E que nada tem valor porque tudo é subjetivo
Talvez por saber disso é que eu reduza minha certeza
À vida tempestuosa pra alcançar um objetivo

Mas no fim não vale a pena, não vale coisa qualquer
E nada cura a sensação de ser um teatro por fora
E nada mata minha vontade: apagar tudo e ir embora
Sublimando as sensações até meu corpo desfazer

E por postura ou hombridade a gente segue andando em frente
E nem entende muito bem se é por vontade ou por pressão
Vai aos poucos misturando o que é verdade e o que é ilusão
Matando os sonhos lentamente até morrer indiferente.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Muito Amor Desperdiçado

Muito amor desperdiçado em tantas noites sem dormir
Costuro frases pra ninguém, pois já usei de tanto nome
Que a lua me abandone já que ninguém fica aqui
Pelo menos leva embora a culpa que me consome

Não foi pra machucar e nem para ser machucado
Tudo aqui é só um misto de vontade e confusão
E uma série de outras vozes que ecoam no meu coração
Tudo o que eu desejei foi amar e ser amado

É complicado estar aqui assumindo o que eu fiz
Eu podia ser melhor, mas eu nunca me importei
E agora é delicado aceitar que magoei
Tanta gente que me deu tanto do que tinha em si

Se fui bom ou fui ruim? Nunca foi suficiente
E agora sou tão diferente que acho graça do passado
Eu pecando no cuidado, amando e sendo displicente
Recebendo indiferente todo amor que me foi dado

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Aposta

É um relance que diz muito, são palavras que te faltam
E de repente tudo isso é só mais outro desengano
Outro dia pra sofrer porque a gente sempre erra o plano
E então todas as convicções de súbito me escapam

Mas sou eu quem vou rolar os dados de minhas certezas
E encontrar somente resultados duvidosos de nós dois
Mas é assim que eu vivo, amo e deixo o resto pra depois
Gasto muito afeto compreendendo as sutilezas

Eu sou poeta, afinal, e isso é sobre se arriscar
E a inspiração que causa o sentimento mais profundo
Todo dia acorda alguém e almeja assim mudar o mundo
Eu descrevo muito amor mudando as frases de lugar

E você vai ver repetição, porque eu compreendo plenamente
O que eu sinto, o que eu quero, o que eu desejo de você
Temerário, mas convicto, me arrisco estando a tua mercê
Outro dia se passou e eu ainda não sei como se sentes

sábado, 22 de julho de 2017

Anunciação

Deve haver uma maneira de expressar o inexpressável
Algo pra amarrar os pontos dessas tais declarações
Ou poesia sinestésica que explique as sensações
Ou qualquer que seja a forma de tornar amor quantificável


Me escute com teus olhos, já que ainda estou distante
Não é só se permitir, o encantamento é genuíno
O conforto magnético que em cada encontro vai surgindo
E ainda é muito pouco tudo que nos vem adiante


Eu não sou bom com as palavras, eu sou bom com sentimentos
Tenho plena consciência que você me tira o chão
Seguramente vale me entregar à imensidão
Me apaixonar um tanto a cada um destes momentos


Então quando você voltar, meu tempo inteiro é teu
Aguardei ansiosamente, definhando de saudade
Tenho até me perguntado se isto é realidade
Ou se foi só em sonho que você me apareceu

domingo, 16 de julho de 2017

Decay

Errando por caminhos que já não conheço
Sonhos que já não posso mais sonhar
Tudo que me tira a paz é apenas o começo
Eu ainda tenho muito pra sacrificar

Vários dias iguais e o tempo não se mede
A gente não soma o que está perdendo
A luz que falta, a escuridão que segue sendo
E todo tipo de esperança que é tão breve

Toda luta é desperdício se a luta segue adiante
E eu que venho enfrentando esta vida desde sempre
Só espero que pelas manhãs eu ainda me lembre
Aquela velha fantasia de um futuro constante

Trajo vestes que me pesam, meus ombros se retesam
E a essência deste mundo vem me desequilibrando
Ilusões tão convincentes das escolhas que nos restam
Enquanto tudo a nossa volta segue se deteriorando

quinta-feira, 13 de julho de 2017

13 de Julho de 2017

Qualquer toque há de bastar ao arrepio de minha derme
E os mais profundos desenganos que se acalmam no silêncio
São teus olhos, outra vez, tomando conta de minha mente
E tudo o que eu desconheço, mas já é parte de mim
De repente a distância nos ensina algo sobre o amor
A gente teima não notar, mas sofre a ausência partilhada
Não há nada pra teorizar, eu só sei que sinto muito
E não sinto nenhum pesar pelas verdades reveladas
Você já sabia, você sempre soube do que calo
Pois no íntimo sentimos e pensamos parecido
Entre minhas mãos as tuas mãos e o temor deste futuro
Aceita-me, sou parte da vida que vem adiante
É isso sim, eu amo a tua presença
E poderia tecer milhões de frases pra provar
Se tudo assusta quem rodeia, eu sigo com tranquilidade
A amo e seguirei amando, se esta é a sua vontade

O Caco de 2017

Transportado ao velho amanhecer que nunca foi embora
Sou aquele que viveu se repetindo por gostar de repetir
Aqui dentro ainda é noite, enquanto o sol brilha lá fora
Ao luar eu vou gritar tudo o que eu não quero ouvir

Tudo isso aqui é meu, até as chagas que deixaram
E vocês nunca imaginaram o que eu guardo pra mim
E é melhor que seja assim, pois dos muitos que me amaram
Só os que se encantaram que eu levo até o fim

O velho amanhecer é a sombra do futuro próximo
A sensação de que o mundo vai passar desencontrado
E todo o verso trabalhado não será utilizado
Porque ninguém consumirá o que é altamente tóxico

As ilusões foram embora, os fantasmas vão também
Se o velho amanhecer voltou, que o céu azul revele
Os terrores que me cobrem e que habitam minha pele
Abraçar a insanidade é o que sempre me convém

quarta-feira, 12 de julho de 2017

À Minha Procura

Dentro de mim o que nunca sacia
É a busca pelo que não entendo
E sendo assim, minha alma vazia
Da dúvida vai se preenchendo

Correntezas que vão, correntes que ficam
São tantas coisas que passam
Amores que enlaçam, ilusões edificam
E os sonhos que se embaraçam

À minha procura quem é que se lança
Se não eu que nunca me encontrei
Não pertencer é o que tenho em comum
Com toda gente que achei

Nada a fazer senão esquecer o medo
E tudo o que me prende ao tempo
E o tempo que passa e escorre entre os dedos
Lembrando o valor dos momentos

Hei de encontrar algo que faça jus
Ao tanto que deixo de mim
E nessa escuridão que se faça a luz

Que eu me redescubra no fim

terça-feira, 11 de julho de 2017

Carinho

Toda sorte de transtorno que nos trouxe até aqui
Tem mais valor do que as coisas que podem nos afastar
Tudo o que há de ocorrer pra gente se concretizar
É todo o carinho que posso expressar por ti


São tão poucas as lembranças e tanto dia pela frente
E essa imensa correria que nos priva das vivências
Tudo que eu te desejo são boas experiências
E que ao meu lado viva o enlace mais recente


Que o tempo passe e tudo passe, só não passe a plenitude
E que o toque valha mais do que as palavras repercutem
E que o frio não congele o que tem nos aquecido
Que você retorne logo e faça jus à completude
Que os dias se prolonguem, que as distâncias se encurtem
E que tudo mais no mundo possa então ser esquecido



sábado, 8 de julho de 2017

Adequação


Muito pra dizer e nada pra ser dito
Muita calma pra conter o desejo primitivo
E paciência pra seguir com tudo aquilo que convivo
Mas nada mais no mundo valerá algum conflito


A vida que nós temos é a que dá pra viver
E aceitar cada um dos erros é só parte do processo
Não querer ser grandioso só facilita algum sucesso
O verdadeiro objetivo está em se compreender


O que é que escapa aos olhos e ainda assim faz diferença
Como frases escondidas entre as linhas da canção
Tudo aqui é tão pequeno perto da imensidão
Buscamos pertencimento ou apenas outra crença?


É mais simples se aceitamos que alguns dias são pesados
E outros dias são tão bons que não deviam acabar
Objetificando vontades que devem sempre nos guiar
Sonhos para persistir e pesadelos acalmados

terça-feira, 4 de julho de 2017

04 de Julho de 2017

Desequilíbrios que nos tomam por completo, caminhos tão difíceis pra seguir
As tristezas tão tangíveis que ocupam a madrugada, tudo isso é solidão nos bares da cidade
Somos nós que abrimos mão dia após dia, hora após hora, de qualquer traço de felicidade
Porque sabemos no final das contas que só nos resta prosseguir

Vamos aceitar a vida adulta, porque é o que nos resta quando as contas chegam
E o baixo desespero resultante do vazio que optamos por sentir
A gente aceita e assina o cheque, mas já não vê a hora de partir
Frágeis seres humanos que já não lembram mais o que desejam

Esse torpor não passa com o que é convencionado, mas é assim que a ilusão se manifesta
Não há abraço ou bebedeira que sufoque estes lamentos
E aos poucos a gente aceita que a vida tem uns bons momentos
E tudo mais é doloroso, aproveitamos o que resta

Alguns se cansam cedo e cessam logo o sofrimento
Alguns escolhem a luta e vão de acordo com a maré
Uns poucos nem percebem como esta vida é
E eu no meio disso já nem sei mais porque tento

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Reeducação

Esqueci que haviam outros dias, outros anos
Vesti a mesma fantasia e nem pensei
O quanto o gasto apaga o que eu conquistei
E agora é a hora de recalcular os planos


Foi inconsequente e certamente prazeroso
Virando as noites em busca de diversão
E nunca quis nem procurar evolução
Satisfação era meu bem mais valioso


Hoje eu nem sei o que é que esperam de mim
Sei que eu desejo algum conforto e resultado
E ver crescer o sonho que tenho criado
De ser aquele que comemora no fim


Então este é o sinal de minha mudança drástica
Me despeço do impulso destrutivo
Seguindo em frente mesmo sem nenhum motivo
Pra ver se a vida é realmente assim fantástica

domingo, 2 de julho de 2017

Soluções

Tarde da noite e ainda estou me aprofundando em tua face
Esse é o caminho para tudo o já que foi e ainda pode ser
Aprofundando sentimentos que já não posso mais conter
Tudo é desejo de você, então que o tempo apenas passe

Não fazia sentido, mas tudo isso tem sentido
A gente deu tão certo, em silêncio e sem alarde
E agora todo dia se resume em fim de tarde
Pra chegar a outra noite em que você estará comigo

Já tinha saudades aqui antes de você ir embora
Eu gosto tanto de dividir a minha cama pra nós dois
Agora que sabes o caminho, vê se não vai esquecer
Desfaz a nossa tristeza, pelo menos por agora
A gente se abraça e deixa o resto pra depois
Se o encanto se acabar, que ainda reste eu e você

sexta-feira, 30 de junho de 2017

Má Sorte

Toma por lição o gosto da má sorte, as coisas que procuramos inconscientemente
E mente pra quem quer que seja, já não interessa mais
Cansado de ser o que veste a camisa e enfrenta tudo hoje
Eu poderia apenas aceitar o mecanismo e ser a engrenagem, usufruir das adequações sociais.
Poderia ser diferente, mas não será, pois eu prefiro me anular de outras maneiras
O mundo só nos paga desconforto, irmão, o mundo não se importa não
E assim será por incontáveis anos
Realmente tenho aprendido alguma coisa, mas a mudança tangível não veio
E o antigo compositor baiano ainda diz que tudo é divino e maravilhoso
Mas este reino não abre as portas para mim.
Eu tiro tudo da cabeça
Pois essa é a única referência a tiros e a cabeças que me permito comentar
E outros dias virão, são muitas chances
Mas eu já estou cansado demais pra tentar

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Pelas Noites


Vou guardar minha tristeza e dar espaço ao que não entendo
E se você estiver lendo saibas que és a culpada
Torno a ver o dia vindo e dou adeus a madrugada
Mas minha alma está macia e o coração segue batendo


Confesso que considerei me esvaziar em versos tristes
Sobra vontade de arrancar qualquer identificação
Entretanto a plenitude tomou conta da razão
Enquanto tudo vai morrendo, só o romance aqui persiste


Não vou teorizar nada do que tem acontecido
Somente gasto minhas palavras desejando tua presença
E com um meio sorriso aceitar a nova e intensa
Sincronia que nem sequer precisa fazer sentido


Devo arrumar a casa e esperar por outro dia
Mas a cidade está tão fria e você me aquece tanto
Meus lençóis já entenderam que sou vítima do encanto
E aguardam ansiosos mais motivos pra poesia


E eu devia sussurrar ao pé do teu ouvido
As coisas que assumi nesse último encontro
Se não vens ainda me alegro, se vier estarei pronto
Toma meu corpo por inteiro e o sentimento aqui contido


Mudando a essência melancólica desta obra que lhe é dada
Eu não espero nada além do quiser proporcionar
Nesta manhã vou assistindo o acaso se transformar
Na perfeita ansiedade pela tua chegada


Como pode ser diferente se tudo é magnetismo?
Genuinamente entregue ao teu súbito poder
É fácil me apaixonar quando só penso em você
E de repente é fácil combater qualquer abismo


Que essas noites se prolonguem no conforto dos teus braços
E que tudo que é profundo te toque com sinceridade
Que a paciência ensine a aproveitar qualquer saudade
E que eu possa decorar os detalhes de teus traços

domingo, 25 de junho de 2017

Sinestesia

Somos cura pro amargor que nós mesmos causamos
Pra fugir desse torpor que a vida força para dentro
Vamos recriar o amor e nos encontrar no centro
Aproveitar este sabor do caso que nós começamos


Bagunça a minha vida com o olhar silencioso
Destrói esta barreira erguida entre nós e a felicidade
Deixe a dor se esquecida e me acompanha na cidade
Com esperança repartida no futuro misterioso


Não se esquece deste toque
Te compus em melodia
Saudade e sinestesia para além da madrugada
Não se afasta assim tão cedo
Deixa amanhecer o dia
Descobrir o que seria nossa vida misturada


Algo deve nos bastar então que seja este conforto
Faz do meu corpo lugar de descanso pra sua pele
Tudo o que eu não lhe falar espero que o tempo revele
O interesse a despertar meu coração já quase morto


Não se esquece deste toque
Te compus em melodia
Saudade e sinestesia para além da madrugada
Não se afasta assim tão cedo
Deixa amanhecer o dia
Descobrir o que seria nossa vida misturada

sábado, 24 de junho de 2017

Bagunça

Desfaz minha postura, descruza meus braços para ti
Convenientemente somos meio complicados
Compreendo tua dor nestes segredos revelados
E novamente deixo um pouco disso tudo aqui


Naturalmente meu desejo é aproximar
Seguir acreditando que isso é compensação
E me condicionar aos momentos sem pretensão
Pois todo esse conforto não é fácil de encontrar


Não me assusta a inspiração que se repete por sua causa
Se encontras meu olhar é porque quero te entender
Toda essa bagunça não diz nada sobre o enlace
Tem algum encaixe, algo que você me causa
E novamente vem o impulso que me leva a te escrever
Apreciando a sorte que fez que a gente se encontrasse



















sexta-feira, 23 de junho de 2017

Redenção #1

São pequenas alucinações, é isso. Nada disso é pretensão, eu nunca quis evoluir, mas, como os delírios causados pela febre, a nossa pele se endurece a cada epifania. A ilusão da melhora, a busca pela redenção, eu só queria ter suas mãos nas minhas essa noite. A claridade pra encerrar a sombra confunde-se com a claridade da manhã e a clareza da sua pele, tudo isso somado e eu venho me precipitando à sua justiça.


Quem somos nós nesse novo dia? Quem seremos amanhã? Nada além de estranhos em alguma noite que não se repetirá. Devo me acostumar com essa maneira de ser, ser não sendo alguma coisa de você. Poderia escrever pra sempre sobre pontes que atravessamos, sobre noites que nos entrelaçamos, sobre como nos machucamos e nunca diria nada, porque diante da nossa realidade atual, o passado já não tem veracidade.


E eu sou resultado da sua desonestidade ou da minha? Da sinceridade de um amor desperdiçado.

Por Força do Hábito

A leveza posicionada como objetivo e cura
Temo engolir os monstros se ficar de boca aberta
Mas já não dá pra manter a respiração certa
E reteso cada músculo por não encontrar postura


Não é pra ser compreendido que escrevo dessa vez
Não dá para ser mais claro sobre o que tenho vivido
Nem mesmo eu posso entender o que me tem acontecido
Tenho tentado aceitar que tudo isso é insensatez


Eu sigo encarando as teclas, não encontro inspiração
Tudo isso é só um modo de esvaziar minha mente
Repetindo esta mentira eu me torno complacente
E agora meu sono depende de minha própria criação


Já não busco mais leitores, só quero encontrar alívio
Não é justo dividir meu sofrimento nestas rimas
Se fracassando eu não aprendo, então a solidão ensina
A melancolia estraga qualquer tipo de convívio


Eu sou tão arrogante, só sei falar de mim
É encenação se me comporto como amigo interessado
A verdade é que eu nem mereço ser lembrado
E sou o único culpado por minha vida ser assim


Deixo aqui mais uma nota, pois o fim se aproxima
Devo atravessar a bruma e encontrar a minha paz
O resto é só silêncio e já nem importa mais
Meu hábito escreve, mas o desespero assina

Ensaio Sobre Os Postes de Minha Rua

É lastimável estar aceso novamente neste horário
Acompanhando o desempenho dos postes de minha rua
Desejando me tornar qualquer outra criatura
Vendo gente natural e sendo sempre o que é contrário


É lastimável ser aquele que atravessa as madrugadas
Vendo cada um de meus medos se tornar imensidão
E temendo que o sol leve embora a escuridão
Procurando soluções que nunca foram encontradas


E a cidade então desperta de repente ao meu redor
Conduções que vão levando homens tão atarefados
Condições tão sistemáticas dos modelos aplicados
E as questões que são silêncio, porque sabemos de cor


Será que o ciclo de minha vida é apenas um delírio?
Eu acredito cegamente no meu próprio calendário
Trimestres trabalhando e só uns dias com salário
E ainda assim me calo, pois é drama esse martírio


Todo mundo segue em frente, porque só eu que ainda resisto?
Assisto mecanicamente as engrenagens sociais
E não desfaço o devaneio de viver os ideais
Enxergo minha alma tão pobre e nem sei porque persisto


E até os postes se apagaram, só resta minha luz acesa
Cinco da madrugada e meu sonhar foi postergado
Vou aturar mais umas horas de questionamentos vagos
Buscar na origem da agonia alguma cura pra tristeza

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Cinco da Manhã em Belo Horizonte #1

Pouco espaço e pouco tempo, nossa luta mais moderna
Dizer alguma coisa nos segundos que nos restam
Como cativar seres que já não conversam
Saudade do passado é a única coisa eterna


Talvez fosse diferente há quase cem anos atrás
Caminharíamos mais próximos sob a luz das luminárias
Sem querer se contentar com uma história ou várias
Mas sabendo que sempre viria muito mais


E as telas hoje diminuem, tudo deve se adequar
Eu prefiro o toque aos livros do que aos computadores
A resolução aumenta mas não esconde o show de horrores
Que é trabalhar para viver e viver pra trabalhar


Talvez o que nos falte seja alguma coisa nova
Um antidoto anticientífico que acabe com esse tédio
E assim mantemos o homem sempre a base de um remédio
Pensando bem assim, nada nunca se renova


E assim Belo Horizonte vive pelas madrugadas
A boemia e a gritaria pelos bares da cidade
Sem poesia o romance vive com simplicidade
Nós já nos esquecemos coisas que eram adoradas


A nostalgia não é só minha e não sugere derrotismo
A força do progresso que aloca tanta gente
Que perturba os meus iguais e ainda assim segue em frente
Que venha outra revolução enxaguar nosso cinismo





quarta-feira, 21 de junho de 2017

Irresponsabilidade

Eleito o novo passatempo para os dias complicados
Me aprofundar nas entrelinhas e o vazio que nos cala
E arriscar cinco ou seis versos que justifiquem minha fala
Deslizar nas armadilhas de dar tempo a este acaso


É curioso escrever sem pretender causar suspiros
Acontece que as vezes precisamos de bem pouco
E das poucas intenções a gente nem espera o troco
E se for pra escolher, é bem assim que eu prefiro




Veja bem, minha querida, a poesia intensifica
E amplia cada coisa, as vezes sou irresponsável
Mas é que eu não tenho nada de melhor pra oferecer
Se você gostar assim, então o texto fica
Quem sabe um jantar chinês pode ser bem memorável
Só me dê mais motivos, pra que eu possa lhe escrever

terça-feira, 20 de junho de 2017

Soneto Aos Amigos Errados

O tempo que nos cabe é curto, mas a ausência torna tão latente
Como a amizade vinda das coisas que não podemos compreender
Como os amigos exercem o papel de aliviar o nosso sofrer
Como os poetas atribuem valor a tudo aquilo sem um valor aparente


Sinto sua falta, amigo, aguardo pelo seu retorno
Devo lhe dizer que torço para que seus dias tenham tempestades
Pra que o céu se cubra em nuvens negras e não mais só sua realidade
Pra que a gente redescubra os bares da avenida do contorno


Apenas quero que esse tempo passe e que teu carro buzine em minha porta
E que todas as sirenes da cidade apontem nosso destino
E que todos os próximos dias sejam melhores que os passados
E se te falta dinheiro ou tempo, nada disso nos importa
E se o ensejo nos proíbe o riso ainda nos cabe cada desatino
E que no final das contas, saibas que tu és o melhor dentre os errados

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Atente-se

Eu escrevo todo dia, sem falhar nem um
Escrevo sobre qualquer assunto que me baste
E qualquer maré que me arraste
E qualquer amada e qualquer bebum

Sobre muito pouco eu realmente digo
E em muito pouco eu realmente me atento
E ainda assim posso dizer de tanto sentimento
Talvez seja isso o que cês chamam de perigo

Desinteressado em tudo e de repente algo me chama
E acende o que for pra queimar em qualquer recipiente
Seja pra me iluminar ou pra manter meu corpo quente
Seja pra você voltar a me prender em minha cama

De todo este cardápio eu escolho repetir a gente
E quem sabe o que virá de tanto assunto meio amargo
E quem sabe o que sairá de tanto verso acumulado
Quem mais pode nos dizer o que é que vem pela frente?

quinta-feira, 15 de junho de 2017

15 de Junho

O mundo sempre vence a gente
Eu me cansei dessa batalha
Aceito o destino que me valha
Eu já não sei ser persistente


Meu corpo não aguenta mais
Ficou apenas a loucura
E tudo mais só me satura
Parece que eu fiquei pra traz


Não quero mais dessa maneira
Se é pra viver que valha a pena
Se é pra sofrer aceito a pena
Mas manda então a dor inteira


Eu não suporto minha memória
Não sirvo pra ser adequado
Não vou viver enclausurado
Nessa peleja pela gloria

sábado, 10 de junho de 2017

Sobre Nós #25

Esse é o último se você quiser
É o último recado que lhe guardo na casa vizinha
Existem vários usos para a palavra bem
Mas sempre preferi guardá-la como "meu bem"
Não dá pra prometer sucessos, mas é possível ter cuidado
E podemos encontrar um termo que agrade nosso meio
Eu, como você, também receio
Mas eu também desejo estar ao teu lado
É difícil mesmo, talvez seja mais fácil dar as costas
E aceitar as coisas postas entre nós a cada dia
Se despedir mais uma vez ao início da segunda chance
Dói muito menos do que ao fim do segundo beijo
Mas que fique sobre nós alguma coisa boa
Uma lembrança doce ou teu calor na cama
Ou então se der me chama e a gente vai pra frente
E tenta só mais uma vez fazer tudo diferente

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Estranhamentos

Então já que você não confia, vamos pelo caminho incerto
Não tem nada que nos ligue e nada que nos aproxime
Mas de repente a vida age, no fim não subestime
Porque no final das contas a gente ainda está bem perto

Eu vou atravessar esquinas que parecem com as tuas
E sem saber por onde andas a gente pode se esbarrar
Sem conhecer minha silhueta você pode me encontrar
Pode ser em outro país ou em um boteco em sua rua

Soa tão obstinado o destino que me envolve
Mas nada disso é resoluto, eu só me arrisco enfeitiçar
Talvez porque no fundo eu gosto mesmo de arriscar
Mas não há um só tropeço que o tempo não resolve

O importante é que aqui estamos, com ou sem estranhamentos
E se não dá pra ter cerveja que o chá esteja quente
E que toda essa demora só termine de repente
Pra dar lugar ao que vier nos próximos momentos

terça-feira, 30 de maio de 2017

Os Amantes


Somos tão ultrapassados no quesito amar o próximo
Que hoje em dia aprendo tanto observando os animais
Sejamos apenas sinceros, sejamos bem mais naturais
Só não dá pra prosseguir e achar que tudo isso é ótimo


A gente classifica os outros em gavetas bagunçadas
Com certezas mal criadas de tantos maus exemplos
E erguendo impessoalidades que se tornam nossos templos
Onde se ora e se agradece pela vida mal amada


Será que dá pra começar de novo acrescentando mais amor?
Ou apurar o nosso tato no que diz respeito ao outro
Ver que ter apreço é quase nada e assim de pouco a pouco
A gente reconstrói nosso afeto sem fervor


Seres humanos cansativos já cansados de apanhar
Seguindo o dia a dia ignorando semelhantes
Resignificando o que seriam os amantes
Percam tempo entre vocês, se permitam apaixonar

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Pretensiosamente

Perigosas ligações despretensiosas, aquelas cheias de pretensão
Onde já não mais medimos ao certo todos os passos dados
É tanto avanço que se perde por desejo e por paixão
Mas quem é que negaria amar os destinos errados?

Invariavelmente é aqui que eu te encontro
Vamos nos esbarrando sem sair deste lugar
E o que é que eu quero mostrar apresentando o contraponto
Se no final de tanta prosa não temos casos pra contar

É que as coisas que me inspiram são sempre duvidosas
Ou melhor, misteriosas, cheias de espontaneidade
E de repente é um sorriso que clareia esta tormenta
E no meio de uma crise, daquelas bem furiosas
Será que com leveza vem também tranquilidade?
Se vier, eu já me alegro, como for a gente tenta

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Devir

Refletindo a correnteza, são teus olhos em minha mente
É não ter sido diferente e ainda assim estar aqui
Ser a minha voz que ecoa e silencia tanta gente
E no alto de mim mesmo eu já nem sei pra onde ir

Tudo isso é meu devir, meu espírito se solta
600 voltas nesse sol que já não aquece nada
E o fim é a alvorada, é tudo aquilo que não volta
É só mais uma canção que não quer dizer mais nada

Escorre em minha pele tanta coisa que não sei
E é só mais uma questão, só parte desta coleção
Do que é que se esconde em meio a nossa visão
E de tudo o que eu diria, quanto eu disse ou me lembrei?

É mais um passo ao abismo, e tudo é só imensidão
Toda aquela solidão que se sente acompanhado
E ao fechar os olhos alcançar conexão
Com tanto desse mundo que nunca foi achado

Escorre em minha pele tanta coisa que não sei
E é só mais uma questão, só parte desta coleção
Do que é que se esconde em meio a nossa visão
E de tudo o que eu faria, quanto eu fiz? Eu me lembrei
De nunca levantar a voz
De nunca me abalar a sós
De nunca mais depender de nós
Que tudo que existe é muito mais do que a existência
De sempre me lembrar do eu
E nunca me esquecer quanto doeu
E quando eu me perder no caminho que é seu
Aperto ao peito a consciência


Como se fosse

Como se fosse o tempo agindo em todas as coisas,

A por coisas imensas em espaços comprimidos

E terror em sonhos jovens, pesadelos repetidos,

Como se fosse o tempo agindo em todas as coisas.

 

O primeiro amor passou, assim como o décimo quarto

E os boletos se acumulam por debaixo da soleira.

Frágeis os papéis que regem a sua vida inteira,

Devorando-te por dentro, deixa um gosto tão amargo.

 

 

Como se fosse o tempo agindo, sempre mais rapidamente,

Os espaços que aumentam em sua cabeça e em sua cama.

E o dilema que não cessa ao longo de outra semana:

O que traz felicidade é ser amado ou paciente?

 

Como se fosse verdade ou como se cabível fosse a crença...

As fases se agravam, os preços sobem de repente

E já não é possível conquistar o equivalente,

Murchando no reflexo desta agonia intensa.

 

Alugo espaços brancos que possam ser rabiscados,

Pago aleatoriamente com alguma inspiração,

Apenas deixem-me afundar de vez em minha abstração

E se alguém me procurar, anote aqui quaisquer recados.

 

Vai a crise, a tempestade, a fúria e o destino é transitório

Minha pele que recorda o peso de cada velho toque.

Como precipitar-me às águas e pedir que não sufoque?

O amor carrega sempre um sofrimento compulsório.

 

 

 

Surrealmente, tenho escrito tudo isso em devaneio,

Acordo no outro dia e já não me reconheço.

Reparo que o montante de fracasso é tão espesso,

Mas volto a debruçar-me no sucesso que não veio.

 

Sou comum como meus versos, como o tempo a agir,

A por umidade nas paredes e nas faces...

É tanta despedida que não tem seu desenlace.

Comum também é tudo aquilo que volto a sentir.

 

Incontáveis são as histórias de angústia, de saudade,

Em minha mocidade me afundei em todas elas

Quis botar em prática, mas fecharam-se as janelas.

Nada vale a dor de ver o amor ruir à falsidade…

 

Como se fosse o tempo agindo em todas as coisas

E deixando só ferrugem onde ontem era desejo.

A que horas vem a paz e me leva no cortejo

Como se fosse o tempo agindo em todas as coisas?

 

 

O sono, tal qual flor, ao menor vento oscila

E só nos primeiros raios de alvorada desabrocha,

A essência sinestésica do belo se desdobra,

Guardo meu descanso neste texto que vacila.

 

Como se fosse o tempo agindo em todas as coisas

E personificasse-me na escrita desses versos.

Viajando entre sonetos, poesias e universos

Para encontrar o mesmo tempo 

Agindo sobre as mesmas coisas.