segunda-feira, 11 de junho de 2012

Respostas na Sombra

"'Sofro... Vejo envasado em desespero e lama
Todo o antigo fulgor, que tive na alma boa;
Abandona-me a glória; a ambição me atraiçoa;
Que fazer, para ser como os felizes?'
- Ama!


'Amei... Mas tive a cruz, os cravos, a coroa
De espinhos, e o desdém que humilha, e o dó que infama;
Calcinou-me a irrisão na destruidora chama; 
Padeço! Que fazer, para ser bom?'
- Perdoa!


'Perdoei... Mas outra vez, sobre o perdão e a prece, 
Tive o opróbrio; e outra vez, sobre a piedade, a injúria; 
Desvairo! Que fazer, para o consolo?'
- Esquece!

'Mas lembro... Em sangue e fel, o coração me escorre:

Ranjo os dentes, remordo os punhos, rujo em fúria... 
Odeio! Que fazer, para a vingança?'

- Morre!"


Olavo Bilac

Dialética

"É claro que a vida é boa 
E a alegria, a única indizível emoção 
É claro que te acho linda 
Em ti bendigo o amor das coisas simples 
É claro que te amo 
E tenho tudo para ser feliz 
Mas acontece que eu sou triste..."


Vinícius de Moraes

Nossa Sincronia

Arde a dor que aos poucos, se apropria
D'alma, mente e da carne crua
E do desespero faz-se a amargura
Que aos poucos lhe consome a alegria

De que vale a consciência já tardia?
Se a vontade de ir frente era tão pura
E cada frase tua tão segura
Qual fim levou a nossa sincronia?

Na nossa história, tão real, faltou firmeza
Pra lhe dar a mão e acabar com essa distância
Pra que em sorriso, terminasse essa tristeza

Mas você prefere o medo à importância
Muda de vida, como muda a natureza
E se despede pra viver de inconstância

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Travessia

Eu quero mais, muito mais do que conheço
Até poder guardar a vida em um clichê
Depois de já saber de tudo então, me esqueço
E tenho a vida inteira pra aprender...

Quero sentir, se isso provar que eu estou vivo
E decorar o cheiro que cada vento trouxe
Eu quero muito mais do que prazer apreensivo
Quero a dúvida, o sabor do amargo-doce

Eu quero a vida em cada circunstância
Até afogar em minha própria amargura
Saber de cor a dor pra cada cura
Atravessar, qualquer que seja a distância

Mas nunca quero chegar ao outro lado
Pois da luz que tenho vejo a escuridão surgindo
E sei que a realidade é essa aqui
Pra no final descobrir que estou errado
Quanto mais vivo, mais vejo a morte me sorrindo
Pra relembrar tudo o que eu me esqueci