quarta-feira, 14 de abril de 2021

O Coração Continua

                                                              Ao amigo Ulisses de Carvalho


"Entra no mar, meu doce amigo, entra no mar
Que aqui nós todos temos corações quebrados
E os nossos sonhos também foram naufragados

Entra no mar, meu doce amigo, entra no mar
Que muitos deles vão te relembrar das sombras
Mas nenhum deles sabe que amanhecerá!"

Vistes, meu caro, que o coração continua, não é?
Te deparastes com a inevitável queda neste abismo de si mesmo,
E entrecortado pela angústia que nutrias, silencioso,
Gritou sozinho na esquina de tua vida, 
Ignorante da guinada que lhe vinha logo em frente.

Vistes, meu caro, que o coração continua,
Músculo, sobretudo, ativo e operante,
Até que se mostre incapaz de exercer esta função,
Músculo, sobretudo, o músculo que sustenta o corpo, 
O corpo além corpo, aquele que ignoras,
E despenca débil no abismo.

Vistes, meu caro, que o coração continua,
Teu núcleo metafórico de carne,
Pungente de dores e horrores e amores,
Tua bomba de angústias e sangue que lhe toma as veias
Ele continua, a despeito de ti.