quinta-feira, 22 de março de 2012

Palavras de um Nobre Vagabundo

Aos mendigos e arruaceiros, me apresento
Sou uma medida incerta, misterioso me fiz
Familiar a tantos, talvez por puro intento
Sou um espelho do tempo, reflexo do que quis

Estou de passagem, eternamente por enquanto
Sempre correndo atrás de um bar mais imundo
Pois na sujeira dos outros só vejo encanto
Já que a minha é a sujeira de todo mundo

Não me entrego por pouco mais que nada
Dá-me tudo ou não se arrisque
Minhas palavras já tiveram dona e ladra
Hoje são para qualquer copo de whisky

Não deixo de mudar meu eu semanalmente
Afinal, qual é a graça da permanência?
Mas guardo as migalhas do caminho em mente
Pois aprendi que a solidão é penitência

Sou fruto de outras dores e tantos amores
Mas não caio do pé por pura teimosia
Não fui feito pra viver com as flores
Mas não me entrego como mercadoria

Escolhi a vida como estação final
E pelas ruas eu gritei pra todo o mundo
Espero nunca ter sido meramente igual
Palavras de um nobre vagabundo

segunda-feira, 12 de março de 2012

À Luz Distante

Havia uma luz que aguardava, assim distante
Algum espectro que a fizesse prisioneira
E que em meio a agonia rotineira
Tome-lhe ao seu colo e pra ela cante

Eis que surge algum espectro na janela
Cantando-lhe uma canção pra ela feita
E ela que esperara ali, perfeita
Ainda não cria na beleza que era ela

E o espectro que não esperava nada
Pedia que o amasse por amar
E que não mais parasse de sonhar
Em tal história que apenas começara

E essa luz era só sonho que vivia
Que por sonhar assim tão delirante
Não notava, que do teu brilho ofuscante
A sombra era o espectro que queria