segunda-feira, 31 de maio de 2010

Meu Soneto

Nunca soube dos tropeços
Não sabia dos erros também
Hoje sei que os recomeços
São o poder que a vida tem

Nunca fui de despedidas
De palavras mui fingidas
Sempre fiquei aqui parado
Não lembro de ter andado

Nunca soube escrever versos
Ou desenhar mil universos
Não sei porque eu me cansei
Só sei falar de inversos
E enxergar reversos
Não sei porque me entreguei

Sobre o Tempo

"E um astrónomo disse, Fala-nos do Tempo.
E ele respondeu:
Se dependesse de vós medirieis o imedível e o incomensurável.
Ajustarieis a vossa conduta e até dirigirieis o rumo do vosso espírito de
acordo com as horas e e as estações.
Do tempo farieis um ribeiro em cuja margem vos sentarieis a vê-lo fluir.
No entanto, o intemporal em vós está consciente do intemporal da vida, e
sabe que o ontem não é senão a memória do hoje, e o amanhã é o sonho de hoje.
E aquele que dentro de vós canta e contempla, habita ainda dentro dos limites
daquele primeiro momento que espalhou as estrelas no firmamento.
Quem, dentre vós, não sente que a sua capacidade para amar é ilimitada?
E, no entanto, também sente que esse mesmo amor, embora ilimitado, está
confinado no âmago do seu ser, não se movendo de pensamento amoroso para
pensamento amoroso, nem de actos de amor para actos de amor.
E não será o tempo, tal como o amor, indivisível e imóvel?
Mas se em pensamento quiserdes medir o tempo em estações, deixai que
cada estação abrace todas as outras.
E deixai que o hoje abrace o passado com saudade e o futuro com ansiedade."

Gibran Khalil Gibran, em O Profeta

domingo, 30 de maio de 2010

Linhas

Hoje eu acordei
Parecia ontem
Esquecerei, dormirei
Amanhã me contem

Ontem eu sonhei
Que hoje foi ontem
Amanhã esquecerei
Não me contem!

Amanhã serei
O mesmo que ontem
Hoje eu sonhei
Me encontrem...

Omega

"Que homem arruinado é esse
Carne translúcida e ossos frágeis
O tipo de tempo onde as putas e vilões
Tentam o livro holistico

Correndo desenfreado com pensamentos livres para livres formas
Na liberdade e clareza
Onde as matérias são deixadas pra fora como fios de tecido em
uma lavenderia
Examinar e se concentrar no maior, melhor, agora

Nós todos temos pecados que precisam ser colocados pra fora
Virtudes pelo despedaçado
E leis e sistemas
E troncos surgem dos ramos do escritório

Você sabe o que o seu aviso acarreta?

Você tem um proposito a servir?
Ou serve de proposito?

Deitado dentro de sua abundância
O valor de um verão gasto
E um inverno conquistado

Para o resto de nós sempre há o domingo
O dia da semana para o descanso
Mas tudo o que fazemos é recuperar o folego
Para que passemos com dificuldade pela piscina de sangue
E coloquemos a mão no grande livro preto

Assistir as facas fazerem zig-zag entre nossos dedos doloridos

As férias são uma contagem regressiva
Cada vez menos de sua vida
É hora de arrastar sua lingua no copo de açucar
E esperar que você sinta o gosto

Mas pra que tudo isso? (O que diabos está acontecendo?)
Cala a boca!

Eu poderia continuar, mas vamos prosseguir

Digamos que você é eu, e eu sou você
E eles assistem as coisas que fazemos
E como uma porrada de rancor
Me jogaram escada a baixo
Não me sinto assim há anos
O grande ímã de rejeição maliciosa
Me deixe ir e
Me dê um soco no ponto morto de novo

É pra lá que você vai quando não tem mais ninguém ao seu redor
É só você
E nunca teve ninguém, teve?

Malditos pretenciosos, covardes
Com seu polegar no pulso
E um dedo no gatilho

Confidencial o caralho! É um segredo e você sabe

Governo é outra maneira de dizer
Melhor
Que
Você

É como gelo inquebrado
Uma acusação de assassinato que não é aceita
É como outro mundo
Onde você pode sentir o cheiro da comida
Mas não pode tocar nos talheres

Que sorte
Por fascismo você pode votar
Isso não é legal?

E todos vamos morrer um dia
Porque esse é o “jeito americano”
E eu bebi demais
E falei de menos
Quando seu assistente gravou no meio
Diga uma prece, evite a humilhação
Se recupere e (veja o que está acontecendo)
Cala a boca! (Vai se foder!)
Vai se foder!

Desculpe, eu poderia continuar mas
É hora de prosseguir, então

Lembre-se de que você é uma ruina, uma cidente
Esqueça da aberração, sua natureza

Mantenha a arma lubrificada e o templo limpo
Merda, bufe e fale blasfemias
Deixe as cabeças esfriarem e os motores esquentarem

Porque no final
Tudo que fazemos
É tudo que fizemos"

Corey Taylor

sábado, 29 de maio de 2010

Consolo na Praia

"Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho."

Carlos Drumond de Andrade

Mau Soneto

Já não meço meus tropeços
E não conto os teus também
O eu dos vários recomeços
Não sabe o poder que tem

Abusei das despedidas
Mesmo as que são fingidas
O eu que sempre está parado
Vê por onde os outros tem andado

Já cansei de trocar versos
De recompor meus universos
Nos meus contos não contei
Me afoguei em tanto inverso
Preso, espelho, no reverso
Com as palavras me casei

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Bom Soneto

Eu já cansei dos meus tropeços
Já cansei dos teus também
Já não creio em recomeços
Ou no poder que o tempo tem

Já cansei das despedidas
Tão forjadas, tão fingidas
Cansei de ficar parado
Nem lembro por onde tenho andado

Já cansei de vários versos
De recriar meus universos
Dos sonetos me cansei
Já cansei de todo o inverso
E de tudo que é reverso
Das palavras me cansei

Adeus

"Alegria não há que o mundo dê, como a que tira.
Quando, do pensamento de antes, a paixão expira
Na triste decadência do sentir;
Não é na jovem face apenas o rubor
Que desmaia rápido, porém do pensamento a flor
Vai-se antes de que a própria juventude possa ir.
Alguns cuja alma bóia no naufrágio da ventura
Aos escolhos da culpa ou mar do excesso são levados;
O ímã da rota foi-se, ou só e em vão aponta a obscura
Praia que nunca atingirão os panos lacerados.
Então, frio mortal da alma, como a noite desce;
Não sente ela a dor de outrem, nem a sua ousa sonhar;
Toda a fonte do pranto, o frio a veio enregelar;
Brilham ainda os olhos: é o gelo que aparece.
Dos lábios flua o espírito, e a alegria o peito invada,
Na meia-noite já sem esperança de repouso:
É como na hera em torno de uma torre já arruinada,
Verde por fora, e fresca, mas por baixo cinza anoso.
Pudesse eu me sentir ou ser como em horas passadas,
Ou como outrora sobre cenas idas chorar tanto;
Parecem doces no deserto as fontes, se salgadas:
No ermo da vida assim seria para mim o pranto"

Lord Byron

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Homens tão Sozinhos

De tantos desenlaces
De todos os impasses
Tudo tão comum
De tantos desencontros
Tantos outros pontos
Só resta um

Eu meço meus caminhos
Que levam a você
Penso no por que
De homens tão sozinhos
Traçados sem destinos
No que eu quero ser

Eu guardo seus recados
De dias já passados
De meses incomuns
E todos os pecados
Ou casos mal contados
Só me lembro alguns

Eu meço meus caminhos
Que levam a você
Penso no por que
De homens tão sozinhos
Traçados sem destinos
No que eu quero ser

Eu erro por caminhos
Que fogem de você
Nem sei mais porque
Um homem tão sozinho
Que anda sem destino
O que eu não quero ser

Os Três Mal-Amados

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."

João Cabral de Melo Neto

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ecos D'alma

"Oh! madrugada de ilusões, santíssima,
Sombra perdida lá do meu Passado,
Vinde entornar a clâmide puríssima
Da luz que fulge no ideal sagrado!

Longe das tristes noutes tumulares
Quem me dera viver entre quimeras,
Por entre o resplandor das Primaveras
Oh! madrugada azul dos meus sonhares.

Mas quando vibrar a última balada
Da tarde e se calar a passarada
Na bruma sepulcral que o céu embaça

Quem me dera morrer então risonho
Fitando a nebulosa do meu sonho
E a Via-Látea da Ilusão que passa!"

Augusto dos Anjos

Tantos Desencontros

Existiam duas almas que se buscavam
Perfeitamente criadas, por acaso ligadas
Perfeitamente criadas, uma contra a outra
Mudadas, uma pra outra, por rotas trocadas

De tantos desencontros se fez o casal
Em eterna luta contra um cruel final
Juntos buscando qualquer plenitude
Somente sozinhos tomavam atitudes

De mais desencontros as pontem caíram
E todos os contos e poesias sumiram
De tantos erros o acerto se desfez
E tudo o que, da perfeição, foi criado
Hoje faz parte de longínquo passado
Que em sonhos sempre se repete outra vez

terça-feira, 25 de maio de 2010

Minhas Fortalezas Caídas

"Oh estações, oh castelos!
Que alma é sem defeitos?

Eu estudei a alta magia
Do Amor, que nunca sacia.


Saúdo-te toda vez
Que canta o galo gaulês.

Ah! Não terei mais desejos:
Perdi a vida em gracejos.
Tomou-me corpo e alento,
E dispersou meus pensamentos.

Ó estações, ó castelos!

Quando tu partires, enfim
Nada restará de mim.

Ó estações, ó castelos!"

Arthur Rimbaud

Apagaram as Luzes

Apagaram as luzes.
E eu fico aqui sozinho
Sem saída, sem caminho
Buscando pistas sem cessar,
Mas apagaram o luar
E eu já não sei por onde ir

Apagaram as luzes.
Eu me recolho entre medos
Vendo escorrer em meus dedos
As chances de me reencontrar
Não sei por onde começar
Ou se é possível, enfim.

Apagaram o luar...
Apagaram tudo enfim.
Estrelas a se despedaçar
Poeira ou algo assim

Apagaram as luzes.
O resto eu mesmo apaguei
Desfiz tudo o que achei
Apagaram as luzes.
Minhas histórias apaguei
Minhas memórias desmanchei

Apagaram as luzes.
Já apaguei as dores
Descolori as flores
Apagaram as luzes.
Os rostos apaguei
As manchas eu lavei

Apagaram as luzes
As cruzes e os abutres
As cores e os rumores
Mil fatores e amores
Todas as rimas podres
E ruínas raras
Todos os dias quentes
E as tardes claras

Todos os caminhos tortos
E as encruzilhadas
Todos os sorrisos mortos
E as mãos dadas
Tudo que tenha forma
Cor ou vida
Tudo que me machuque
Ou reabra a ferida
Apaguei o ser.

Acenderam as luzes.
Me encontrei sozinho.
Não posso apagar o que vivi
Não posso corrigir o que escrevi
Mas posso apagar isso dos outros

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Jogos e Máscaras

"Dê uma máscara ao homem e ele dirá a verdade."
Oscar Wilde

Ele tirou as máscaras. Havia se cansado do peso que carregava acima do pescoço e do que repousava em seus ombros. Agora era partir para o novo e quem sabe parar de interferir tanto na vida dos outros. Nunca... Quem sabe pudesse começar uma nova relação sem haver o peso das mentiras? Pouco provável. As pessoas não lhe encantavam o suficiente, ele só extraía o que lhe interessava para jogar fora depois. Era tudo um jogo.

Depois de muito tempo os jogos cansam! Ninguém gosta de ganhar sempre, e ele se colocou em uma posição onde não havia chance de derrota. Ele vencia todos os adversários, mas sempre perdia a batalha que realmente importava, a batalha contra ele mesmo. Ele sempre perdia, no final das contas. Mas a paixão, ou talvez obsessão, só aumentava. Ele se importava com pouca gente, esses poucos conheciam o seu eu autentico, ou quem sabe uma parte desse eu.

Mas agora ele mudaria, não haveria espaço para as mentiras em seu cotidiano. Não haveria falsas promessas, nem jogos por diversão e manipulações em geral. Não iria mais mentir...
Pobre diabo.
Depois de tantos anos de uma mentira só, já quer começar a contar outra?

Conclusivamente Inconclusivo

"Eu admito que minhas visões jamais poderão significar para outro homem o tanto que elas significam para mim. Eu não lamento por isto. Tudo o que eu peço é minhas conclusões devem convencer aqueles que buscam a verdade de que há muito mais que vale a pena ser buscado por trás de tudo isto, e que pode ser alcançado com métodos parecidos, ou não, com os meus. Eu não quero ser um pastor de ovelhas, nem ser o fetiche de um grupo de tolos e fanáticos, menos ainda o fundador de uma fé cujos seguidores se sentem contentes em apenas repetir minhas opiniões. Eu quero que cada homem possa traçar seu próprio caminho através da selva."
Confissões de Aleister Crowley, Capítulo 66, página 617

domingo, 23 de maio de 2010

Flores

Deixo-lhe as flores.
As lembranças das dores
As fotos de todas as cores
As palavras de alguns amores

Deixe minhas dores
E talvez poucas flores
Se ainda houverem amores
Ou fotos de todas as cores

Deixaram as cores
Levaram vários amores
Palavras de várias dores
Pisaram nas flores

Não há amores
Nem mesmo as cores
Que habitavam as flores
Deixaram só dores,
Só dores

quarta-feira, 19 de maio de 2010

De Uma Estrada

Com um ponto de partida
Chego a qualquer final
Encontro qualquer saída
E nada será igual

Não há estrada impossível
Nem barreira intransponível
Não há acerto infalível
Nem uma mentira incrível

Não há lugar nenhum no mundo
Que não chegues com seus pés
Mesmo que já saibas tudo
Ou que duvide de mil fés

Mesmo que dependas só da sorte
Pra chegar a algum lugar
Mesmo que nunca se importe
Se algum dia irá chegar

Não se canse de andar
Mesmo que nas mesmas rotas
E permaneça a trilhar
As mesmas linhas tortas

De uma estrada eu trago estórias
Vidas e muitas memórias
De uma estrada eu trago um canto
E a razão de todo encanto

terça-feira, 18 de maio de 2010

Armadura Invisível

O que são meus olhos agora

Você já escuta o silêncio da minha alma

Meus mistérios se entrelaçam no seu corpo

Para que uma noite fria não se torne uma noite fria


Gosto de você respirando em mim

É uma forma de sentir que em mim há algo da sua sobrevivência

Gosto de me ver desenhada no seu sorriso

Como se ele me pertencesse


Abraçando um sonho contigo

Desses que quando se vê já está voando

Vagando no labirinto de um espelho

Encontrando e se perdendo


Pintando o futuro nos nuances de um presente

Cálido sentimento que me acolhe

E espera pacientemente o desarmar dos medos

Que insistentes surgem mudos


Se consigo desbravar o que és

Adormeço serena com o desenvolver do crepúsculo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Vitral do Amanhecer (Velho Amanhecer)

O Vitral do Amanhecer

A manhã é contornada
Pela noite inacabada
E a tarde equilibrada
Inícios de madrugada

A manhã inacabada
E a noite contornada
A tarde madrugada
Iniciada, equilibrada

A manhã de madrugada
É de noite equilibrada
Já a tarde inacabada
No início é contornada


A manhã equilibrada, entre a noite e a madrugada, já de tarde contornada...
A caminhada inacabada



O verdadeiro amanhecer


Amanhecia todo dia...
Todo dia o sol trazia
A mesma vida tão fria,
A mesma rotina tão vazia

O verdadeiro amanhecer
Já não era aprazível
E o sentimento terrível
Era um sol a se acender

A verdade amanhecia
Em mil sóis de cor nenhuma
E rezamos pra que tudo suma
Ou que pare em calmaria

Entre penhascos cai o sol

Entre as montanhas surge a lua

E ao rufar do meu tarol

Minha vida sai à rua


Eu caminho entre nuvens
Que não existem de manhã
Vago entre vagalumes
Que iluminam a vida vã

E os mil sóis em minhas gavetas continuam a gritar...
Pedem um espaço a mais, multiplicam-se sem parar...
Cada um grita as mesmas frases que você veio cantar...
Cada um cantar as mesmas frases que você veio gritar...

Nosso velho amanhecer
Já não amanhece mais
Mas não posso esquecer
E nem caminhar em paz

domingo, 16 de maio de 2010

Vida

Viva, homem! Saiba festejar
Seja alegre ou vulgar
Não queira se preocupar
Não queira se machucar...

Amor? Passará com o tempo
Tenha como um passatempo
Que o momento passe em paz
E que saibas deixa-lo pra trás

Não queira saber do mundo
Não queira estar em tudo
Nem ser adulto
Se não puder
Não queira viver demais
E busque viver mais
Pois o bom mesmo
É o paradoxo

Saiba se impor!
E se recompor...
De todo espinho engrandecido
Se cure agradecido
As cicatrizes são pra sempre
E jamais virão em vão!

Pra todo limite e fronteira
Há sempre uma segunda-feira
Pra se renovar
E pra cada desejo antigo
E cada vontade de perigo
A sexta vem pra consumar!

Saiba se portar
E sempre lutar
Mesmo que te leve a morte
E no mais, nunca se importe
O pior azar é precisar da sorte.

sábado, 15 de maio de 2010

Minhas Sombras

Eu não quero te esquecer
Não quero te deixar
Não quero deixar nada passar
Não quero nada sem você

Me recuso a aceitar
Qualquer final que seja assim
Qualquer palavra sobre fim
Eu quero ser, não mais estar

Não quero olhar pra tudo que me lembre você
E ficar triste porque passou
Nem pensar que acabou
Não posso te ver e ficar quieto
Nada mudou
Meu amor, nada mudou

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Cromatismo

Lavo minhas mãos daqui pra frente
Si não pode mais ser diferente
Dói em mim lembrar das noites frias
Recordar aqueles outros dias
Minha alma é cada vez mais fraca
Faz de conta que não há nenhuma marca
Solidão cromática...
Bem'oldada
Sustentada...
Nenhuma quinta é justa
E tudo se oitava...
Música doentia

terça-feira, 11 de maio de 2010

Frio

Alegre-se!


As coisas que parecem ser eternas não costumam durar dias...
E o que foi feito pra acabar em dias atravessam os anos.
As mais belas palavras, com o tempo, ficam tão vazias...
E várias e várias conversas vazias costumam mudar nossos planos.

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É engraçado como o dia fica mais frio quando se está sozinho.
Ele via tantas pessoas sofrerem do mesmo mal, tantos que se congelavam debaixo de um céu tão claro e de um dia tão quente.
Ela não.
Ela ficava no alto das montanhas, viajava com as nuvens. Ela era o calor.
Não era necessariamente o sol, mas ela brincava com o astro, se vestia em luzes.

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O dia amanheceu especialmente cinza, especialmente claro.
Não havia ela no alto das montanhas e o sol não quis sair
As pessoas daquela cidade experimentariam uma solidão nova
Um vazio raro...
Uma nova sensação da qual não poderiam mais fugir...

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Eles já não sentiam mais frio. Já não sentiam mais nada, a pele não permitia mais a sensibilidade. Mas não parecia tão ruim assim. Eles se livraram de um grande incomodo, o frio cortante de antes havia passado, o frio que não era absoluto, mas congelava e torturava um pouco mais a cada dia. Hoje não, eles agora estavam completamente congelados e suas peles já não permitiam a sensibilidade, o toque, o tato. Era bom. Eles não sentiam mais nada, mas ao menos não sentiam a dor e o frio da velha solidão.

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Mas no outro dia ela reapareceu e lhes deu, do sol, a luz
E a solidão voltou a torturar a pele ainda pouco sensível


Ele era um dos poucos que não sentia mais nada...
Sofria muito mais do que os outros, nas mãos da solidão.
Preferia não sentir nada à sentir tudo que lhe aflingia.
E nem mesmo o sol que ele tanto amava...
Ou a mulher que o carregava na mão
Esquentava a sua pele, hoje tão fria.

Mas era bem melhor assim.

domingo, 9 de maio de 2010

O Meu Romance

"Brilha Onde Estiver"

Cada vez mais perdido nessas frases
Cada vez mais longe dos sentidos

Não consigo mais me achar no que descrevo
Não há mais nada de mim no que escrevo

E a cada estrofe elaborada
E cada rima já usada
E a velha frase tão falada
Eu sempre me pego em ares que não são meus
Sempre me pego lembrando de traços seus


Cada vez mais perdido nessas frases
E em tantas fases
Que eu sempre soube que eram iguais
E ainda hoje não me encaixo nos ideais
Que eu sempre defendi
Pra ti

Nas várias justificativas
Tantas palavras significativas
Esperam guardadas pra outra ocasião
Quem sabe até lá eu recobre a razão...

Cada vez mais longe dos sentidos
Sentimentos omitidos
Que até hoje são ideais
E que sempre serão iguais
Pra ti
Te defender de alguém?
Acho que era de mim


Já me perdi de novo
Devia ter mapeado tudo isso
Pra não correr o risco
De esquecer do que é novo...

Mas no mais nada mudou
O tempo só consolidou
Momentos pra me torturar
E o olhar se conformou
O sorriso se apagou
Vou ter que me acostumar

E só pra ti que escrevo
Só pra ti que me descrevo
Saiba desconsiderar
Ou então levar em conta
Que não tento mais mudar
Esse romance mal escrito
Esse filme tão mal dito
Que nós sabemos... Nunca vai acabar

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Poesia Rima Com Nostalgia Pt.4

Poesia Rima Com Nostalgia

Depois de muita caminhada
Nos vemos nos mesmos lugares
E vemos que não mudamos nada
Só estamos um pouco mais vulgares

E no quarto mês sem mim
Meu corpo foi se acostumando
Quem sabe daqui até o fim
Algo enfim vá melhorando


E como sempre nunca acaba
E só resta versos pra agonia
E como sempre isso traz
Mais motivos pra poesia

E eu vou de novo ao seu encontro
E levo comigo o que sempre guardei,
Aquelas velhas palavras suas,
E cada momento em que eu te amei

Eu sei que não era pra ser assim
E que eu como sempre, pus tudo a perder
Sei que sempre sobra a despedida
Mas juro que sempre tentei entender

Saiba que nada me cura
Eu já lhe expliquei, amor
Sobre os meios de esquecer
E levar a vida sem rancor

E dos erros irreparaveis
Quero fugir, só ir embora
Não tenho espaço pra guerras
Já passou da minha hora

E nesta cama eu me deito
Coberto em frases que falei
E no final sou só um escravo
Desta vida que manchei

Quantas vezes disse
Que só não da pra ser
Não da pra prosseguir
A lugar nenhum sem você

E nada é como eu escolhi
E isso me faz ser bem menos
Do que poderia ser
E eu me entrego aos meus venenos

Acho que no fim eu quero
E não lembrar do fim
E não quero mais sentir
Ou ouvir falar de mim

Meu eu-lírico jaz morto
Soterrado em notas breves
Esmagado pelo peso
Das palavras nunca alegres

Quem dera hoje sublimar
Ou ser falso e inconcreto
Só um jeito de fugir
Desse mundo tão concreto

Já não há passagens
Nem mesmo histórias
Nem mensagens
Apaguei as memórias

Rasgarei as fotografias
E tudo que houver de errado
Se posso ser esquecido, esquecerei
você que está ao meu lado

E no meu sonho havia tanto
Concreto caído ao chão
E vários destinos certos
Mortos na contra-mão

Não fugirei, não mais
Está na hora da entrega
Não há mais como sair
Pois não saida pra quem nega.

Filosofias de bar
Tudo é igual
E que as frases durem um mês
Ou até o final

Pois minhas pegadas já marcaram
Um caminho só da minha alma
A escolha da solidão
Foi feita com calma

Depois de nunca dar em nada
Cansei dos mesmos lugares
E parto pra outra caminhada
Buscando outros lugares

E no quarto mês sem fim
Meu corpo foi melhorando
Quem sabe o melhor pra mim
E ir logo se acostumando

Vapor nas Ruas

E aqui me encontro morto
Ao sol de um dia quente
Que não é nunca diferente
De todos esses dias tão iguais

E já que não me sobra nada
Nem mesmo uma mulher amada
Ou Luta armada
Nem mesmo guerra de ideais

De que me vale o peito exposto
E a dor que eu levo no rosto
Se não há em mim algum real valor?
Ou bem pior do que a morte
Quem sabe essa pouca sorte
Ter nascido e não virar vapor...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ruinas

Me falta alguma coisa...
Não sei dizer o que é ao certo
Nem sinto que estou perto
De realmente descobrir.

Esse espaço me sufoca
Mas não sei o preencher
E não da mais pra entender
Até que ponto eu devo ir

Esse espaço lhe pertence
Mas aqui já não lhe quero
E agora eu só espero
A ferida se fechar

E a solidão de novo vence
Mas já ando novas trilhas
E esquecerei as ruinas
Que você só me faz lembrar

domingo, 2 de maio de 2010

Seguir em Frente

Certa vez ouvi dizer
Sobre o conceito de viver
Que era algo como
Seguir em frente e esquecer

Hoje eu tento de mil formas
Concertar as velhas normas
Que eu já não sei mais cumprir
E quem sabe de algum jeito
Corrigir esse defeito
Que não me deixa mais sorrir

Não quero me guardar em traumas
Nem me entregar de corpo e alma
Nem entregar nada afinal
Seguir em frente e esquecer
Pra então poder viver
E poder ser diferente
No final...

Cansei de ser igual
E de te ver igual
Já que não vamos mudar
Vou esquecer e caminhar
Pra ver se assim
Enfim
Aprendo

O Humano Merlin

Já não era mais o mesmo
Merlin, o antigo mago
Não havia mais passos a esmo
Não havia mais gole ou trago

Seus olhos cansados no espelho
Refletiam o que ele já não queria ver
Não havia mais razão ou conselho
Não havia mais razão de ser

Barba e cabelo emolduravam o rosto
E todas as marcas de noites em claro
Um sorriso amarelo de puro desgosto
E que distribuia um sorriso raro

Não havia mais gente na sala a entoar
Os velhos cânticos dos dias melhores
O silêncio calou as histórias do lar
E do lado de fora não havia mais vozes

Já não havia em sua mão um cajado
Já não havia em sua casa um quintal
Não havia mil druidas a seu lado
Nem mesmo algum ser espiritual

Já não havia mais folhas pra se conversar
E nem mesmo Deuses, nem Lua nem Sol
Não havia mais motivos para se orar
Não havia mais pesca, nem vara ou anzol

Um druida a sós não passa de um louco
Não há razão pra viver sabedoria parada
E se de sua imensa vida aproveitara tão pouco
Agora então, não lhe restara mais nada

Não havia mais vida em seu bosque sagrado
Não havia mais nada de sagrado em sua vida
Não havia mais bosque, nem Merlin, nem mago
Não havia mais vida pra ser mal vivida