quarta-feira, 19 de março de 2014

Vazio de Mil Paredes

Meus olhos pesam diante do branco da parede
Ou será que as cores mudaram?
São tantas horas perdidas estando perdido
Que eu já perdi a conta de quantas paredes tem esse quarto

Sempre foi tudo assim vazio, as molduras só dividem o espaço.
Paredes dentro das paredes, talvez eu esteja preso e nem saiba

Eu olho em volta e vejo anúncios, homens jogando cartas, portas fechadas
Olhos que me fitam de qualquer lugar, em qualquer lugar.
Garrafas vazias
Remédios vazios
Cigarros vazios
Páginas escritas com coisas vazias demais pra mim
Mas meu quarto está cheio

E é tudo assim tão branco. Sempre foi assim?
Eu nem sei mais o que faço aqui dentro tanto tempo.
Anúncios. A iminência de qualquer coisa
Cordas que eu uso pra me amarrar a coisas que quero pertencer
Cadeiras onde ninguém mais senta
E eu já nem sei quantas paredes me cercam nesse quarto
Eram quatro hoje mais cedo, mas agora eu já contei mais
Acho que estou preso em mim.

E continua vazio, com uma lâmpada no centro clareando a imensidão ocupada por coisas desnecessárias
São várias paredes brancas e tantas portas fechadas e gavetas emperradas e fios e nós e manchas

E eu
Eu perdido em mim e na imensidão branca, que eu achava que era meu quarto

Mas é só vazio

terça-feira, 18 de março de 2014

Sigilo

A minha vontade vai além
Vai muito além dessas paredes
Que me cercam
Me limitam

Está tudo na minha pele
Está tudo na minha voz
Mas nada disso sou eu,
Nada disso fui eu
E isso me desce amargo
Talvez nem desça
Enquanto tudo queima
Só minha vontade arde

A minha vontade é muito mais
Não posso gravá-la
Nem escrevê-la
A minha vontade é muito mais do que eu

Eu faço o que eu já fiz antes
Eu passo onde eu já fui antes
Eu nasço porque morri antes
Eu morro porque é assim
Eu morro pelo que fui antes
E pelo que vou ser
Tudo que fui antes

Pra que minha vontade se repita
Soberana
A tirana que dita a minha vida
E é isso