terça-feira, 30 de junho de 2020

Teu Corpo Hipotético

Todo espelho revela-me, ao fundo os mistérios,
Decifra o sorriso que ostento e direi:
Há no reflexo um sujeito poético
Que grita em silêncio o que já calei.

Pressiono em meu peito teu corpo hipotético,
E beijo-o, em sonho, como beijaria em vida.
As coisas que sinto, que penso e que sonho
Se reinventarem quando encontrei você.

Por sob as certezas mais nobres da alma,
De dentro da câmara quente do coração,
As noites se estendem quando, tolo, imagino
Todas as noites que logo virão.

Se houvesse, mesmo que insólita, a chance
De tê-la em meus braços esta noite, a teria.
Dois dias de insônia, delírio e fraqueza
Dois dias de amor - quem acreditaria?

Esta noite de estrelas, esvaziada de essência,
Os astros proíbem nossa plenitude,
A lua brilha, mas já não ilumina mais nada
Por compaixão aos amantes distantes.

Se fosse possível lhe daria a posse
De cada emoção que fizeste-me sentir
E a faria senhora de nosso tempo juntos
Dona de tudo que eu quero escrever.

Mas resta tua ausência, gritante e exposta
Mais verdadeira que nosso romance,
Que o tempo passe e o peito descanse,
Pois logo seremos inseparáveis.

Duvida da paz, duvida da morte
Questiona as estrelas, a lua e o sol
Duvida do amor, duvida da sorte
Mas acredita em minha declaração.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Diante do Mar

Sento-me diante do mar
A imaginar como seria
O corpo distante do meu
Aquecendo a cama fria.

Se um dia pudesse te amar
Do resto todo esqueceria,
Assim como o mundo esqueceu
Como se escreve poesia.

És livre, vem me libertar
Da solidão e da agonia,
Toma este corpo que é teu,
Preenche esta mulher vazia.

Mas só venhas se for pra ficar,
Pois eu jamais saberia
Como escrever um adeus
À minha própria alegria. 



Quando menos esperar

Quando menos esperar, já serás parte de meu canto,
Parte destas linhas tortas que te escrevo displicente.
Então, só pelo susto, é que eu logo te adianto
Que me apaixonar agora é um tanto coerente.

Quando menos esperar é que eu ajo, silencioso,
E te escrevo novamente, pra frisar o envolvimento.
Não peço que respondas, é somente o que não ouso,
Mas saibas que a desejo, a todo momento.

Quando menos esperar, já estarás me esperando,
Mas nunca saberás ao certo o que deves esperar,
Se até a mim assustas o desenrolar dos planos.
Quando é que a espera acaba? Isso está me inquietando.
Ansiosos, como nós, nunca souberam esperar,
Mas é que nós dois sabemos evitar os desenganos.



Desastres e Transtornos

Te fiz uma promessa, aos teus olhos desatino,
Entretanto cá estou mais uma vez versificando
A mística imprecisa do meu mais novo encanto,
Já não sei o que esperar de tantas peças do destino.

Me conta toda a história que viveu até aqui
Que eu enfeito com palavras o momento que vivemos
Não críamos ser possível, como nos surpreendemos,
A minha próxima história tem espaço para ti.

Vem, mas traz o teu desastre e teu transtorno
O que deu errado antes, que é pra gente consertar,
E o que ainda quer viver nos anos que vem a seguir.
Vem, mas saiba que depois não há retorno,
Cada poema que escrevo é só pra te enfeitiçar
Com essa ânsia de viver o que ainda vamos construir.


sexta-feira, 26 de junho de 2020

A Criança e o Mar

O mar logo será natural aos teus olhos, criança,
Não se assuste com a imensidão a frente,
Tua vida veio como um sopro de esperança
Que renova um mundo indiferente.

Virão vários dias de luta e algumas noites de sonho,
E as vezes a força parece falhar, é verdade,
Mas saibas que tu terás sempre o tamanho
Das tuas ideias, somadas à força de tua vontade.

Tua história não acaba na praia, entre a areia
E o sol que te banha, não se prenda ao medo latente
Que emana das feras do fundo do mar.
Escuta somente aquilo que teu próprio peito anseia,
E faz tua história como vier-lhe à mente,
Tu tens um mundo a conquistar.



quinta-feira, 25 de junho de 2020

Códigos e Cifras

O passado mais terrível que edificou o lastre
Foi ressignificado à memória tragicômica
Uma relação com estragos de proporção atômica
E que seria sempre o meu melhor desastre.

Nós, piada do destino, reescrita anualmente,
Tão distantes e unidos, nestas longas madrugadas,
Receosos de tomar novas decisões erradas,
Mas cientes de que o outro sempre estará presente.

Sob um mar de letras, caladas e descontentes,
Há meus códigos e cifras, disfarçados, tão amáveis,
As verdades de meu peito sempre tão indecifráveis,
Dentre tantos que me leem, só tu, de fato, entendes.

Por justiça e por amor, porque sempre mereceste,
Ao teu lado seguirei todo o caminho em frente
Se é pra dizer coisas de uma forma diferente:
Nunca houve um tempo mais nosso do que este.

sábado, 20 de junho de 2020

Resposta Completa

Quero que percas teus receios e a contagem das horas,
As preocupações de todo dia e os anseios de amanhã,
Quero que abra teus braços para minhas palavras vãs
E à vasta realidade que teu olhar ignoras.

Ah, logo vem o sol e outro dia fugidio,
Tudo aquilo que nos prende e nos faz tão incompletos
Também encontrará seu fim diante o tempo e seus decretos.
Vê se esquece dos poréns e pensa só no desafio.

Vê se pensas, vê se pensas, tu me dizes sem pensar,
Como se houvesse prazer em uma resposta mais completa.
Ah, quimeras que residem em tua expressão quieta...
Já não sei o que é que penso, quando tu me volta o olhar.

Veja bem, estou certo destes versos, mesmo imerso em incerteza,
Vou deixar pra trás um mundo imperfeito em tua ausência
E me prender em teus braços, encantar-me por tua essência,
Me fazer, mais uma vez, cantor de tua beleza.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Formol

Ampulhetas, ampulhetas de um tempo errado,
Das luzes mais brilhantes que cegaram os vagalumes,
Arte que já não se nota em um mundo fragmentado
E só vai desafogar devido a força do costume.

São questões obsoletas, mas é tudo o que eu tenho,
As perguntas que não calam tem que ter encerramento...
A glória que nunca veio, em detrimento deste empenho
De manter-me vivo a noite, condensando o pensamento.

Ah, estas pobres borboletas vão morrer com a luz do sol
O bater das asas move, mas o sonho não se sustenta,
Só lhes restarão as cores, conservadas no formol,
E a imposição do belo, da forma mais violenta.

Nem poetas, nem cometas, nem qualquer revolução,
As frases de maior efeito hoje estampam camisetas,
Românticos, modernos, pós-modernos, tudo em vão,
Todos estão condenados a morrer nas baionetas.

sábado, 13 de junho de 2020

Bela

Rejeito a explicação mais coerente
E é sorrindo que me assumo enfeitiçado.
Rendido à mística desse amor urgente
Que se apossou do coração abandonado.

Que bela surpresa era o destino reservado
Tão complicado traduzir em poesia
É que se eu soubesse que você existia
Não descansaria até estar ao teu lado.

Toma cuidado, coração, vê se te acalma,
Palavras belas não serão suficientes
Dessa vez tens que fazer por merecer.
Eu já sabia, bem no fundo de minha alma,
Que a completude me aguardava logo em frente,
Tu já me tinhas, muito antes de saber.

sábado, 6 de junho de 2020

Estranhos que se cruzam na rua,

Estranhos que se cruzam na rua,
Como nós.
A face muda que evita o olhar
Já nem pensa o que dizer,
Imaginando se o outro sente o mesmo.

Estranhos que se cruzam na rua,
Como nós temos sido.
Talvez não tão estranhos
Pela marca da memória, ainda vívida,
Mas distanciados.
Nós que éramos tão próximos,
E talvez por isso distanciados,
Mas só digo de mim
Quando digo que não suportaríamos,
E me dói pensar que tenha que supor
O que tu sentes.
Depois de tantos anos o que é que sei?
O que é que sabes de mim se não história
Aquela que passou e as que te contaram.

Estranhos que se cruzam na rua,
Dispostos frente a frente pelo acaso,
Vamos outra vez virar os olhos e fingir
Que somos ainda mais estranhos.

Vamos passar mais uma vez despercebidos
Até o ponto de nem sermos reconhecidos
No conforto de nunca ter que dizer nada
Pois realmente não há nada pra dizer.