sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Amigo, perdestes o rumo

Amigo, perdestes o rumo,
Já não podes prender-se ao chão,
Travaste as batalhas erradas
À ordem de um sonho
Que nunca foi teu.

A porta batida detrás, jamais
Tornará a se abrir,
Enquanto tu fechas o invólucro
E decreta o recesso da luta
À sombra de tua soberba.

Tu sonhas, amigo, eu sei,
Vislumbra jardins e fontes gloriosas,
O reencontro catártico
O perdão transcendental
Que tua metafísica aponta como saída.

Mas teus pés pisam em falso
E tuas forças emanam do equívoco.
És todo remorso e já não sabes
Ser capaz, já não tentas ser correto,
Já não pode se importar.

Cantas a solitude egoísta da noite
E repousas oculto pelas manhãs.
Teus olhos tencionam a indiferença,
Mas traem-se na dor da cobiça
Enquanto atravessas a sala apressado.

Sorri, dividido, sem dentes expostos
Ostentando a máscara do que tu não és.
Tua alma cansada não podes mentir:
És refém de si mesmo, amigo, pois segues
Sonhando com a vida que perdes sonhando.