quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Segredo

Morre aqui outro segredo: já não sei mais o que fazer
Eu que sussurro internamente o perdão pelos meus erros
Já não consigo esconder que tudo aqui é desespero
E sigo aguardando a hora em que o pior vai acontecer

Todo dia traz a tona outra falha do passado
Alguma marca que resume o que eu nem sei se sou direito
Eu volto a me questionar sobre o mal que tenho feito
E se tudo que acredito que é o certo está errado

Será que isso é sincero? Eu busco mesmo a solução?
Será que escrevo e então me esqueço, aceito como terapia?
Eu nem sei se estou fazendo algo que tenha serventia
Na maior parte do tempo o sofrimento é inspiração

Eu não quero conversar e expor tudo o que penso
Escolho transformar tudo isso em outra linha
O mural pra recordar o futuro que me vinha
Se não serve de mais nada, pelo menos me convenço

Afinal tudo é a crença no futuro mais sereno
E o que move toda gente é um sonho ou ambição
O preço é sua sanidade, não há negociação 
Aos poucos a gente se rende e perde a chance de ser pleno

É tão difícil fazer parte desse plano grandioso
E aceitar os organismos que abraçam suas funções
Mas agora entendo bem como é a falta de opções
E passo a acreditar que todo espaço é valioso

A gente foi criado pra querer somente o topo
Mas o mundo todo torce pelo fracasso geral
Porque se um rasga a cortina e expõe a farsa teatral
O silêncio pelas ruas te condena como louco

Eles venceram, é verdade, acabaram com a gente
Nós nunca tivemos chance de reverter este cenário
Eu entrego minhas armas e confirmo o itinerário
Pois o mundo continua, sem nunca andar pra frente

sábado, 25 de novembro de 2017

Depósito

Tenho escrito tanta coisa à meia luz destas manhãs
Como se às oito horas a vida fosse um desafio
Despejando a insensatez que normalmente silencio
Tudo mais vou postergando, pra servir ao amanhã

Como se o futuro fosse algo além de abstração
Devo assim me contentar com o papel que me foi dado
E aceitar que o certo para mim é ser errado
Não adianta nada procurar por salvação

As vezes vem a tempestade ou algo muito mais terrível
Madrugadas que se estendem por semanas em minha mente
Crendo haver compensação, aguardamos o depósito
Falta idade pro desgosto, nada aqui é tão incrível
É a cidade que transborda o torpor de toda gente
E as sinceras confissões de uma vida sem propósito

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Passagem

Não me acorde se eu fechar meus olhos
Não me chame para nada
Deixa eu ser somente a sombra da história já passada
Deixa que eu me acomode e feche a porta por detrás
Que eu já cansei de todo a gente que passeia por aqui
Hoje ainda não dormi...
Quando é que foi diferente?
Deixa as ilusões lá fora, toda a vida vai seguir
E se pra mim chegou a hora
Acerte o que eu não consegui


Nada disso é especial, são só voltas desse mundo
Quem digere o absurdo não entende minha passagem
Eu mesmo não entendo pra onde vai essa viagem
Certamente não me resta força para descobrir


Não me acorde se eu fechar os olhos
Eu fiz tudo o que podia
Me permita o último escape dessa imensidão vazia
Deixa que eu me acomode e por favor feche as cortinas
Que eu me cansei de ver o espectro entristecido dessa rua
Deixa a dor que não se cura
Quando é que foi diferente?
Existem certas sutilezas que a gente escolhe ignorar
Acabaram-se as certezas
Tudo mais deve acabar

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Psicose

Os fragmentos de minha vida seguem se distanciando
E a cada noite atravessada um sonho morre sem alarde
Um tanto eu venho silenciando, guardo aqui a outra parte
Certamente estou ciente, mas continuo aceitando

Talvez eu pense demais, mas do que vale isso agora?
Já não consigo me agarrar a qualquer felicidade
E sigo me afastando mais do que parece a realidade
Não consigo distinguir o caminho pra melhora

É leviana a minha rotina, não me presto a nada mais
Sigo o que parece ser o meu caminho natural
Aprofundo a dor a noite e faço o drama matinal
Dissimulo meu esforço, sei que já não sou capaz

Me disseram por aí que isso se chama psicose
E que eu já não vejo o céu nesse poço tão profundo
Realmente me faltou a simpatia pelo mundo
Eu queria achar a cura, mas exagerei na dose

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Soneto Sobre As Perdas

Nessa vida a gente perde tanta coisa
Mas nunca perde a sensação de faltar algo
E algum dia isso nos toma de assalto
E a gente nota já não ter o que perder

Nessa vida a gente perde tanta gente
A gente força os limites da ausência
E vai exercitando tanto a paciência
Ao reparar que a vida fica diferente

A gente perde as coisas por escolha
Chega uma hora que não dá pra continuar
E a vida segue como sempre tem seguido
Eu sei que isso não é mais questão de escolha
Mas se fosse eu gostaria de mudar
Só pra não ter te perdido