quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Confraria

                                                                                                Prelúdio

    

Esvazio-me, como de costume, 

No clímax de outra madrugada desperdiçada entre excessos e promessas.

Solenes companheiros de esquina, trajetos repetidos,

E a conhecida sensação de sermos apenas nós, amigos do acaso, 

Contra toda sorte de transtorno que a vida tem a oferecer...

Ao fim, resta remorso,

Não por qualquer traço de moral que os inomináveis detentores da sociedade

Garantem, vergonhosamente, ser um único caminho para o céu,

Mas por saber que nosso cinismo já nos deixa mais próximos do inferno.


Viver é fácil, 

Basta deixar que o vento sopre e as tempestades caiam, 

No meio tempo tudo é só uma trovoada,

Um relance breve de uma eternidade vaga,

Um sopro fresco ou um choque forte,

Qualquer caminho serve quando nada leva a lugar nenhum.


Retas traçadas, viagens repartidas, sonhos que temos adiado pela falta de coragem.

Busca aí outra resposta, qualquer coisa que não fale de energia

E da vontade incognoscível de seres míticos.

Esta confraria reúne-se para admirar os mais belos fracassos,

E a culpa é de cada um de nós.


A César o que é de César, 

A Ulisses o que é de Ulisses,

Ou Douglas, Daniel, William, Leopoldo, 

Aqueles que podemos citar os nomes,

Todos nós merecemos as moedas de prata que o traidor recebe,

Por buscarmos, incoerentemente, uma saída para baixo

Enquanto contemplamos a Lua,

Os astros,

O vazio que nada mais pode preencher.


O que temos é lindo,

Patético, mas lindo,

Pouca coisa importa quando esvaziamos latas e frascos,

Recipientes sórdidos de angústia,

Prostrados em um presente com aspecto de passado,

Repetindo a punição, porque é tudo o que conhecemos.


Mas a madrugada acaba ao som da última moeda,

E logo voltamos à realidade das coisas,

Tudo aquilo que escolhemos ignorar e logo deixa de existir,

Afogado pela escuridão da noite e o silêncio das casas vizinhas.

Prelúdio de memórias fictícias,

Afinal, o que é real esconde-se muito além desta esquina,

De qualquer praça ou padaria,

E já não me interessa nada que eu possa viver de forma prática,

Hoje só quero sonhar.

sábado, 13 de maio de 2023

Meu Coração

Descansa em paz, meu coração...
Vê se não vai perder-se em outro recomeço,
Culpar os outros pelo teu próprio tropeço
E acabar-se nesta angustia sem razão.

Tu fostes forte e se propôs ao infinito,
Mas não há amor além da tênue divisória
Onde o afeto torna-se mais um atrito,
Resta carinho e a inércia da memória.

Desprende-se da mágoa, névoa torpe,
Esquiva-se da trégua e, enfim, suporte,
Este caminho há de ser pago com suor.

Esconde-se do vício, vasto abismo,
Entrega-se ao início sem cinismo,
Que o tempo há de provar se foi melhor.