sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Noites

Eu supus que ao amanhecer minha dor passaria
Que nada mais iria ficar além das sombras da noite anterior
E eu ainda espero acordado o que a manhã prometia
Pra que eu possa ser de novo feito totalmente de amor


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Noturno

"Meu pensamento em febre
é uma lâmpada acesa
a incendiar a noite.

 
Meus desejos irrequietos,
à hora em que não há socorro,

 
dançam livres como libélulas
em redor do fogo."

Henriqueta Lisboa

Livros

Os olhos dos livros que leio me rodeiam
E receio que esses sejam os únicos olhos
Que realmente anseiam pelo que tenho
E tudo o que tenho no momento, são eles.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Inutilidade Pública

O que sou? Sirvo pra que?
Fechar os olhos e esquecer
Essa falta de sentido
E me deitar de madrugada
Tentar não pensar em nada
Só no que eu tenho vivido

O que eu sou? Pra que eu sirvo?
Vivo demais, nunca me privo
Constantes são meus exageros
E na noite tão quieta
Tentar manter minha dor discreta
Tem me ocupado por inteiro

Nem sei direito quem eu sou
Sempre me disse o que restou
Desses anos de fracasso
Nem sei posso ser alguém
Embora a dor do "ser ninguém"
Me parte, a noite, em mil pedaços

E eu sei da minha utilidade
Bem menos que a capacidade
De criar meus universos
Mas não há chances pro meu caso
Já não corro atrás do atraso
Escorro aqui, em meio aos versos


sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ironias do Tempo


O tempo sempre foi cruel comigo. Acredite, torturas antigas ou doenças modernas não são piores do que o passar lento dos minutos desses grandes relógios a minha volta. Talvez seja normal para a maioria das pessoas viver dias do tamanho de anos uma vez ou outra, mas comigo as coisas são diferentes, comigo os dias tem o tamanho, uma vez ou outra. Digo mais, o tempo passa tão devagar para mim, que eu as vezes sinto como se tivesse envelhecido anos em pouco mais de um mês. O tempo sempre foi cruel comigo, essa é minha sina.

Existem ainda algumas outras grandes piadas que o tempo resolveu fazer comigo. Para torturar mais ainda essa alma já há tanto sofrida, criou-se o grande paradoxo da existência. Eu passo dias construindo castelos colossais, com todos esses sonhos e planos, para que os dias seguintes nada tenham de conexão. Os meus dias não estão ligados, minha linha do tempo nunca foi contínua. Construo coisas que são destruídas pela ferrugem do esquecimento, pois não vivo a mesma vida durante dois dias.

Por tanto tempo a vida foi assim e eu apenas aguentei calado. Até que você apareceu. No começo foi um caos, você veio para bagunçar mais ainda essa zona que era minha vida. Tirou tudo do lugar, desmanchou minha rotina, desfez meu cotidiano, apagou as pistas que eu tinha deixado pra mim mesmo e eu fiquei perdido. Me perdi completamente no escuro. Maltratado pelo tempo, esquecido até pela minha própria consciência. Não sei dizer quanto tempo passei no esquecimento.

Mas você voltou. Você voltou tão quieta e silenciosa, me tirou dessa bagunça e quis cuidar de mim. Você me deu as mãos e quis fazer parte dessa desordem que eu criei e com esses seu jeito tão sem jeito, colocou tudo no lugar. Você veio pra ser a coragem que eu tanto precisava e ainda teve coragem de sobra pra enfrentar o medo que eu tinha de você. Você veio e me abriu os braços em cada uma das vezes que os meus se fecharam pra você. Você me amou de verdade, até durante as coisas horríveis que eu criei pra nós. Você veio pra me mudar mais uma vez, só que dessa vez para o melhor que eu posso ser.

Um ano se passou e eu estou aqui, completamente bobo, escrevendo coisas sem sentido e tentando te fazer entender que eu sou o que sou por sua causa.  E olha só, você é responsável pelo cara mais feliz que eu conheço: Eu mesmo. E agora, até a tristeza dos anos passados pode se converter em alegria, como por exemplo isso aqui, que ainda é verdade:  “Hoje eu te amo com tudo o que não posso, com tudo o que não tenho”. Tudo isso é por você e tudo isso é pra você. Prometo que vou estar com você sempre que puder, prometo que meus braços vão estar abertos.

O tempo? Bom, ele sempre foi cruel comigo, mas agora eu até agradeço por ele passar tão devagar. Quem sabe assim eu não posso aproveitar mais ainda todo esse tempo com você...

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dys

Se hoje eu ando pelas ruas e já não sinto nada
E em cima da calçada já não sei mais pra onde andar
E se eu perdi meu tempo em tantas coisas espalhadas
Hoje eu não tenho nada pra perder e pra ganhar

E agora eu guardo as sobras dessa alma mal tratada
A imagem remendada de um triste sonhador
Mantenho esse compasso, sigo o passo na estrada
Que aqui não tenho nada que alivie a minha dor

O meu tempo já chegou e talvez tenha passado
Mas 'inda vivo de passado e sou aquilo que restou
Talvez já não me reste nenhum tempo pra mudar

No passar do tempo eu deixei tudo inacabado
Meus dias separados pelo que nunca terminou
E já não há nem mesmo razão pra continuar

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Within' You, Without You


"We were talking
About the space between us all
And the people
Who hide themselves behind a wall
Of illusion
Never glimpse the truth
When it's far too late
When they pass away
We were talking about the love we all could share
When we find it...
To try our best to hold it there
(with our love)
With our love we could save the world,
If they only knew
Try to realise its all within yourself
No one else can make you change,
And to see you're really only very small
And life flows on within you
And without you
We were talking
About the love thats gone so cold
And the people
Who gain the world and lose their soul
They dont know
They cant see..
Are you one of them?
When you've seen beyond yourself
Then you may find peace of mind is waiting there
And the time will come when you see
We're all one and life flows on within you and without you"
George Harrison 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Não Pense Duas Vezes

Todo esse amor, todo esse desejo, todo esse carinho, toda a amizade.
Toma, pega tudo o que você me deu e leva embora. Vai e leva com você todas essas coisas que eu escrevi do fundo do meu coração e você nunca quis entender. Leva também esse sorriso aqui, de um bobo apaixonado e que no final das contas é só um bobo desiludido, o mesmo bobo pisoteado, mal-tratado, esquecido e trocado tantas vezes por você.

Toma, pega tudo isso. É tudo seu mesmo, sem você não tem nem porque isso existir. Leva embora a felicidade que você me deu e a que eu tentei construir pra você. Isso mesmo, pisa forte nos meus castelos e ainda me zomba por ter feito de cada grão de areia que você me deu um tijolo pra essa construção. Isso mesmo, é sempre assim não é?

Vai, pode ir. Já me acostumei.
Só deixa aqui o respeito que você não tem por tudo o que eu sinto por você

Cruza a esquina e entra em casa. Fecha a porta, mas dessa vez tranca, pra eu saber que nunca vou entrar de novo sem ser convidado.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

De Súbito Cessou a Vida

"De súbito cessou a vida. 


De súbito cessou a vida.
Foram simples palavras breves.
Tudo continuou como estava.

O mesmo teto, o mesmo vento,
o mesmo espaço, os mesmos gestos,
Porém como que eternizados.

Unção, calor, surpresa, risos
tudo eram chapas fotográficas
há muito tempo reveladas.

Todas as cousas tinham sido
e se mantinham sem reserva
numa sucessão automática.

Passos caminhavam no assoalho,
talheres batiam nos dentes,
janelas se abriam, fechavam.

Vinham noites e vinham luas,
madrugadas com sino e chuva.
Sapatos iam na enxurrada.

Meninas chegavam gritando.
Nasciam flores de esmeralda
no asfalto! mas sem esperança.

Jornais prometiam com zelo
em grandes tópicos vermelhos
o fim de uma guerra. Guerra?...

Os que não sabiam falavam.
Quem não sentia tinha o pranto.
(O pranto era ainda o recurso
de velhas cousas coniventes.)

Nem o menor sinal de vida.
Tão-só no fundo espelho a face
lívida, a face lívida."

Henriqueta Lisboa

Réquiem

Eu andei demais por essas ruas procurando algum sentido em cada passo. Sim, essa busca pelo sentido de todas as coisas vivas já consumiu grande parte da minha vida. Não eu ainda não encontrei as respostas.

E eu que julgava saber sobre todas as coisas, todas as cenas
Eu que julgava ser muito mais do que um simples qualquer
Eu que tentava e lutava, cruzei becos, ruas, cidades pequenas
E no final ainda não sei quem está pra o que der e vier
O julgamento se mostrou mais uma vez contrário ao reverso
Pois cada verso que eu fiz pra vocês, nunca foi nada demais
E o que eu quero eu não tenho, penso e desconverso
Evitando tantas outras palavras banais

Eu só desejo a vocês o melhor dessa vida
Que seja longe de mim, que seja longe daqui
E que essa memória da gente não seja esquecida
E que esse desencontro traga o encontro que pedi


Minhas memórias são curtas e frágeis, morrem em silêncio
E eu sei que quando se trata de vocês, meus amigos, será diferente
Meu grito será ouvido e cada verso que canto será o mais intenso
Pois que eu aguente todas as dores, mas que nunca seja indiferente

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Outro Eu

"Até agora eu não me conhecia, 
julgava que era Eu e eu não era 
Aquela que em meus versos descrevera 
Tão clara como a fonte e como o dia. 

Mas que eu não era Eu não o sabia 
mesmo que o soubesse, o não dissera... 
Olhos fitos em rútila quimera 
Andava atrás de mim... e não me via! 

Andava a procurar-me - pobre louca!- 
E achei o meu olhar no teu olhar, 
E a minha boca sobre a tua boca! 

E esta ânsia de viver, que nada acalma, 
E a chama da tua alma a esbrasear 
As apagadas cinzas da minha alma!"

Florbela Espanca

Diferente

A estrada me espera, bem longe daqui
Chama meu nome nas noites mais frias
E me acena de longe durante os dias
A estrada me espera, devo fugir

Longe de toda essa gente padrão
Trabalho, família, escola e eleição
Cerveja, cigarro, samba e oração
Não! De nada disso é feito meu coração

Eu nasci diferente e é assim que vivo
Não quero nada que esteja ao alcance
Corro do dia-a-dia tão corrosivo

Não quero que a vida normal me canse
Eu nasci pra viver o que sonhei sozinho
E sozinho eu sigo cada passo desse caminho

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Soneto ao teu Calor

Eu que contava as horas pra te ver
Hoje acordo sem você, sem companhia
Esse fantasma, que aqui jaz na cama fria
Relembra agora os passos velhos pra viver

De quanto tempo o tempo é feito?
Como um detento eu sento e perco a sanidade
Grades abertas que me tomam a liberdade
Meus carcereiros são ponteiros, na verdade

Devo chamar-te por qual nome?
Talvez de dor que me consome
Não, melhor manter o mesmo amor
E se eu ficar farto de saudade?
Se antes de ti vier a idade?
Melhor morrer do que deitar sem teu calor

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Geleiras e Calmarias

Eu só quero paz, pedir a conta e ir embora
Chegar em casa e com um cigarro no cinzeiro
Sentar na escada com o whisky companheiro
E recontar as coisas que eu joguei fora

Eu só quero transformar ódio em poesia
Aliviar a dor do pensamento
E aos poucos no piano, esse lamento
Se dissipa e morre em melodia

E depois, abro minha janela pra pegar os cacos desse dia
Recorto as frases que me doem os olhos e os ouvidos
Relembro como a vida teima em permanecer vazia
Anoto toda a série de pensamentos outrora esquecidos
Será que se eu dormir hoje, amanhã passa a calmaria?
Essa geleira em minha vida, esses problemas repartidos

E eu vou me procurar em programas de tv que eu nunca vi
Quem sabe um vilão sádico e assassino
Quem em meio ao constante desatino
Para e pensa: "Será que eu gostei do que vivi?"

No final da conta, tudo é sempre igual
A cerveja e os três copos sempre cheios
E nas palavras os já tão velhos receios
De tudo isso não dar em nada no final

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Um Pouco do Muito

Tem certas palavras que significam muito pouco as vezes...
Quando diz questão ao que eu sinto por você, uma delas é amor
Que é muito menos.

Versos Íntimos

"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera – 
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"

Augusto dos Anjos

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Ultimato

Você não está atendendo o telefone, provavelmente está dormindo.

Sabe, eu ando cansado demais, triste demais, nervoso demais, estressado demais, preocupado demais, com problemas demais pra resolver sozinho... Você ainda quer piorar as coisas, meu amor? Sempre quer.
Eu quero ajuda! Posso tê-la? Alguém do meu lado as vezes é tudo o que eu preciso, mas cadê você nesses momentos? Você não consegue enxergar porque essas coisas me machucam tanto, mas é justamente por nunca ter dado a devida importância pras coisas que são tão importantes pra mim. Será que é pedir demais um pouco mais de cuidado da sua parte? Será que você não gosta de me ver feliz?

Eu não consigo. Juro. Não sei quanto disso tudo é real e quanto são armadilhas na minha cabeça, só sei que dói. Se você não pode me curar, pelo menos dessa vez não reabra as feridas. Ou então vá embora de uma vez.

Eu não consigo lidar com o que estou sentindo e não posso, de forma alguma, me testar mais ainda com você... Vou enlouquecer! Sei que não vou dormir por muitas noites. Eu só queria alguém pra me abraçar e me ouvir. Queria que você pudesse me fazer feliz.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Pra Sonhar em Paz

Recalculei as rotas
Ando atrás de quem?
A quem eu faço bem?
Aumentei apostas
Quero mudar a vida de alguém
Ou mudar minha vida por alguém?

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Tempo de Introspecção

É tempo de introspecção...
Devo sentar-me sob o teto da varanda e ver a poeira dos meus dias subir em direção ao céu, enquanto em folhas gastas e úmidas de todas as chuvas que vivi, surgem palavras de lugar nenhum, para ninguém e sobre toda a tristeza da terra. A cena seria muito bonita, se acompanhada talvez por um punhado de folhas secas avermelhadas espalhadas sobre um jardim que há muito se esqueceu a sensação de estar deitado no chão, sob a luz de um sol quente. Esse inverno veio pra unir braços em torno do único bem comum que se manifesta em qualquer um que tenha coração: Paz de Espírito.

Talvez seja melhor incluir na minha varanda uma cadeira de balanço para você, pois espero que nada mais possa balançar o que nós construímos ao longo dos anos, mesmo em todos esses anos que ainda podem vir. Talvez seja melhor comprar um cinzeiro mais largo, afinal de contas, os meus três cigarros de solidão, agora são a nossa solidão. O jardim já não cresce mais. Como poderia crescer se nem ao menos noto os gafanhotos que se apropriaram da região, enquanto gasto cada segundo meu pensando em nós dois? E enquanto o vento carrega a poeira do nosso passado embora, eu afundo cada vez mais nos teus braços... nossos braços.

E sem pensar, eu posso desabar. Não espero que sintas o mesmo jamais, só quero que entenda que trago o peso de coisas demais em minhas costas. Enquanto saímos lentamente desse inverno para nossa tão querida primavera, o contrário nunca acontecerá. O inverno nunca sairá de mim. E nos teus braços, um dia eu irei escutar um tão singelo "vai passar, meu bem" e eu vou saber da inocência perene de cada uma dessas palavras, sussurrando um "não, não vai" tão frio, que você se agarrará em mim com mais força, tão baixo, que você se esforçará pra escutar. Mas a tranquilidade continua. Eu sei que a sua efemeridade nada tem a ver com a eternidade dos meus dias, que podem ser poucos, mas são o suficiente pra me afogar nas incertezas e inseguranças. Me assustar com a cadeira de balanço, balançando ali no canto, sem você sentada. Dois cigarros apagados e um terceiro aceso em minha mão, pra digerir a saudade e a solidão. 

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Aos Tolos

Pros olhos que fecharam, eu vim de braços abertos
No silêncio me julgaram por seguir passos incertos
Eu quis mais do que devia e pago com meu desespero
Eu quis dar tudo o que tinha, sem nunca ter sido um inteiro

A perfeição é para os tolos
Quem muito espera nada tem
Ficar amargo em desconsolo
De não ter ido mais além

E enquanto esperam pelos certos
Os braços que vem para salvar
Eu atravesso estes desertos
Sem saber o que procurar

Mas eu achei o melhor sonho
Não interessa o bem ou mal
E eu já não me envergonho
De escolher o que é real

Porque eu aprendi que o ser perfeito que os tolos buscam
Buscam uma perfeição bem maior do que a tolice

sábado, 21 de julho de 2012

A Lista

"Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?"

Oswaldo Montenegro

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Doce Rotina

E do silêncio fez-se o som
O murmúrio abençoado
Nesse quarto esfumaçado
Fracos traços de homem bom
Eu deixo o violão de lado
Da janela cai o sol
E escondido no lençol
Recrio um sonho inacabado

A madrugada é minha casa
É onde eu perco a essa postura
Deixo solta a criatura
Que desses duros dedos vaza
E assim reconto a amargura
Nos mesmos versos de outros dias
Lembrando tantas noites frias
Que nem a lua me atura

E é assim que escrevo o canto
É assim que canto a vida
Em meio a crença dividida
De que vivo pelo encanto
E assim pago minha dívida
Por respirar pela manhã
E assistir a vida vã
Que surge pela rua tímida

terça-feira, 3 de julho de 2012

Restos de Outro Ano

As horas passam
Enquanto eu fico aqui parado
Me mato mais de trago em trago
Conto cigarros pra acabar

Pessoas passam
O mesmo passo acelerado
E aquele olhar de preocupado
Sempre com pressa de chegar

Eu sento novamente à mesa
Fecho novamente a porta
Nutro sempre essa certeza
De que a saudade corta

Estou aqui pra contar o que restou
De mais esse ano que passou...

domingo, 1 de julho de 2012

Nada Além de Nós

Junho foi embora e me deixou pra trás. Me deixou aqui, sentado na varanda, esperando a hora que esse aperto no peito vai passar. Junho foi embora e me deixou sozinho, completamente sozinho. Eu estou sentado na varanda, fumando meus cigarros intermináveis, enquanto você não se importa, isso é o que mais dói.



Julho já chegou. Bateu na porta, mas eu ainda não sei se estou pronto pra deixá-lo entrar, não sei se é tempo de me abrir. Quantas mudanças virão com esse novo mês? Você vai estar aqui? Ou vai continuar tão longe? 



"A minha saudade é uma ponte
Eu a atravesso para que assim veja você e só assim
Me encontro, e não me acostumo e nem me conformo
Não espero de nós nada além de um sim"



Sim, é verdade. Eu continuo atravessando... Pontes cada vez mais largas, pra atingir alguém cada vez mais inatingível. Talvez seja por isso que esses versos lhe agradam, por saber que sempre serei eu quem não espero nada além de um sim, enquanto você pode usar todos os nãos.


Mas não espere que o mesmo homem bata sempre na sua porta. Já não provo meu amor pelo sofrimento e sim por continuar ao seu lado independente de cada uma das suas crueldades comigo. E quando seus olhos se fecharem para mim, meus braços se cruzarão pra você.


Eu vou deixar Julho entrar e se sentir em casa... Aprendi que quanto mais frio o inverno se torna, mais próximo ele está do seu fim... ou do nosso.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Respostas na Sombra

"'Sofro... Vejo envasado em desespero e lama
Todo o antigo fulgor, que tive na alma boa;
Abandona-me a glória; a ambição me atraiçoa;
Que fazer, para ser como os felizes?'
- Ama!


'Amei... Mas tive a cruz, os cravos, a coroa
De espinhos, e o desdém que humilha, e o dó que infama;
Calcinou-me a irrisão na destruidora chama; 
Padeço! Que fazer, para ser bom?'
- Perdoa!


'Perdoei... Mas outra vez, sobre o perdão e a prece, 
Tive o opróbrio; e outra vez, sobre a piedade, a injúria; 
Desvairo! Que fazer, para o consolo?'
- Esquece!

'Mas lembro... Em sangue e fel, o coração me escorre:

Ranjo os dentes, remordo os punhos, rujo em fúria... 
Odeio! Que fazer, para a vingança?'

- Morre!"


Olavo Bilac

Dialética

"É claro que a vida é boa 
E a alegria, a única indizível emoção 
É claro que te acho linda 
Em ti bendigo o amor das coisas simples 
É claro que te amo 
E tenho tudo para ser feliz 
Mas acontece que eu sou triste..."


Vinícius de Moraes

Nossa Sincronia

Arde a dor que aos poucos, se apropria
D'alma, mente e da carne crua
E do desespero faz-se a amargura
Que aos poucos lhe consome a alegria

De que vale a consciência já tardia?
Se a vontade de ir frente era tão pura
E cada frase tua tão segura
Qual fim levou a nossa sincronia?

Na nossa história, tão real, faltou firmeza
Pra lhe dar a mão e acabar com essa distância
Pra que em sorriso, terminasse essa tristeza

Mas você prefere o medo à importância
Muda de vida, como muda a natureza
E se despede pra viver de inconstância

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Travessia

Eu quero mais, muito mais do que conheço
Até poder guardar a vida em um clichê
Depois de já saber de tudo então, me esqueço
E tenho a vida inteira pra aprender...

Quero sentir, se isso provar que eu estou vivo
E decorar o cheiro que cada vento trouxe
Eu quero muito mais do que prazer apreensivo
Quero a dúvida, o sabor do amargo-doce

Eu quero a vida em cada circunstância
Até afogar em minha própria amargura
Saber de cor a dor pra cada cura
Atravessar, qualquer que seja a distância

Mas nunca quero chegar ao outro lado
Pois da luz que tenho vejo a escuridão surgindo
E sei que a realidade é essa aqui
Pra no final descobrir que estou errado
Quanto mais vivo, mais vejo a morte me sorrindo
Pra relembrar tudo o que eu me esqueci

terça-feira, 22 de maio de 2012

Eu Te Amo

"Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir"



Chico Buarque e Tom Jobim

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Síndrome da Fênix

A dúvida dói...
Não saber pra onde correr,
Não ter onde se esconder.
Eu já voltei de viagem tantas vezes,
Que já perdi as contas
Dos lugares em que deixei parte de mim

É difícil viver.
Ninguém me disse que seria assim,
O começo das coisas que tem fim.
Eu já me machuquei tantas vezes,
Que já perdi as contas
Das cicatrizes que trago em meus braços

E você e eu,
E nossa falta de conjunto
E essa descrença no mundo
Eu já me perdi em ti tantas vezes
Que já até perdi as contas
De quantas 'você' já conheci

E por fim essa amargura
Fruto das dores do passado
E do que nunca será apagado
Eu já renasci tantas vezes
Que já perdi as contas
Das vidas que vivi...
Das mortes que carrego nas costas.

O Me! O Life!


"Oh me! Oh life! of the questions of these recurring,
Of the endless trains of the faithless, of cities fill’d with the foolish,
Of myself forever reproaching myself, (for who more foolish than I, and who more faithless?)
Of eyes that vainly crave the light, of the objects mean, of the struggle ever renew’d,
Of the poor results of all, of the plodding and sordid crowds I see around me,
Of the empty and useless years of the rest, with the rest me intertwined,
The question, O me! so sad, recurring—What good amid these, O me, O life?

                                       Answer.
That you are here—that life exists and identity,
That the powerful play goes on, and you may contribute a verse."

Walt Whitman

sexta-feira, 11 de maio de 2012

À Flor da Pele

Insatisfeita convivência
Fiz de madrugada a tarde
E por tardia consciência
Fui insone e fui covarde

Invariável experiência
Aprender a não fazer alarde
Reconstruindo minha decência
À flor da pele que ainda arde

O que eu fui em tantos anos?
Do que eu fiz restou valor?
Eu vivi somando enganos
Esperando o erro sucessor

Depois de velho, um desengano
Eu quis o encanto e tive dor
E só depois revi meu plano
Pra ver que só queria amor

terça-feira, 8 de maio de 2012

Do Alto (Só um Café)


Eu já posso ver o sol daqui do alto
E agora não parece a hora certa pra fugir... ou desistir
Não se apresse... só comece
Tenho tempo pra te ouvir... te seguir

Não há histórias de tempos de glórias
Pra se discutir
Chega de festas e falsas promessas
Eu cansei de sentir... e mentir

E se de repente eu te encontrar
No meio das ruas de outro lugar
Será?
E no meio da noite eu vou acordar
Escutando a tua voz chamar
Vem cá...

Eu já posso ver o céu daqui do alto
E salto na hora que chegar pra ficar
Nada aquece, eu já fiz prece
Pra te achar... te guardar

E se de repente você me achar
Perdido nas rua, na porta de um bar
Será?
E no meio da noite eu vou de acordar
Com um violão na janela a cantar
Vem cá
Que eu posso te dar o que você quiser
Te tomo e te faço a minha mulher
Se vier
Que eu divido minha casa, dou o coração
Eu já te procuro a tanta estação
Pro que der
E vier
Ou só um café


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Reticências


Doce vagar de lembranças
De tudo aquilo que poderia ser
Mas não foi.

Apenas em minha mente as cenas são reais
Uma felicidade conquistada em penosas mentiras
Ilusões que neblinam meus olhos

Mas não há tempo que volte, amor
E o meu presente já faz parte de mim
Espero que ainda me aceites assim,
Com algumas rugas a mais 

Laços


Contínuo amanhecer
E mais uma vez você deixa seus rastros
No travesseiro, nos lençóis, nos meus sonhos
Sinto sua presença na xícara vazia de café
Sim, vou enlouquecendo aos poucos

Vejo-me sendo apagada de seus pensamentos
Com um sofrido esforço em vão
Permaneço viva no seu olhar
Essa imagem te persegue em todos os becos
Com tentativas fracassadas de afogá-la
Confesse, ela é o que mantém o brilho
Que em lágrimas desaparece

Passado em entrelaço
Presente em descaso
Futuro à espera de um abraço

Devaneios


Cálida noite que me desalenta nesta profunda insônia
Deixando em meus olhos as marcas de sua represália
Não, não me arranques lágrimas que acusam minha culpa
Minha presença já é uma denúncia.

A vida que ainda vaga o seu corpo
Se esgarceia em busca do calor que emana da minha boca

Busque no amor que transbordava
Um alimento para sua alma desesperançosa
Pois minha estrada ainda está em curvas.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Despertar de Domingo

E do nosso sonho sobrou só o despertar
Abrir os olhos de manhã e ver você sorrindo
Você diz que sou louco por não querer mais sonhar
Mas não quero gastar o nosso tempo dormindo

E essa cama aqui é nossa, meu armário já é seu
Lá embaixo a mesa posta, chá pra quem adoeceu
Cura a gripe e alergia, só pra saudade não da fim
Pra resolver isso eu espero que você volte pra mim

Traga dores e dilemas, o que, em seu coração, couber
Traga retratos e problemas, traga tudo o que puder
Espero que só venhas e nunca tenha que voltar

Traga os quadros das paredes e os filmes que não viu
Traga as alegrias velhas e os medos que já sentiu
Só não traga o seu relógio, pro nosso tempo não passar

terça-feira, 24 de abril de 2012

Auto Abstrato

Já era tarde no meu mundo particular. Parecia que a única luz que eu ainda podia usar como guia, era a luz da tela do meu computador.... E nessas horas tudo é muito grande, tudo é muito pesado. Nunca vou saber ao certo o que me motivou durante todos aqueles meses ruins, que pareciam nunca acabar. Eu nunca soube ao certo o que você queria... eu nunca sei ao certo o que você quer.

 Qual é a graça de uma carta que nunca chega ao destinatário? Pois essa é a utilidade de cada uma de minhas palavras... Palavras que escorrem dos meus dedos até os teus olhos. De que vale o mais sincero descarrego em forma poético, se no final das contas a prosa sempre vai tratar dos mesmos assuntos? Era assim que eu via a gente, pois nada do que eu dizia parecia chegar a você. Se porventura chegasse, não chegaria a mente, cristalizaria nos seus olhos fortes.

 Mas nessas horas tudo é muito grande, mal cabe dentro de mim. É difícil segurar sentimentos que não parecem mais ser seus. Toda essa desconfiança que veio contigo de brinde, isso não era pra ser meu. Essa descrença em palavras tão belas. Poderia ser mais triste? Eu esperei anos para conhecer o que você guardava dentro dessa fortaleza que trazes no peito e de repente, as certezas mais bonitas da minha juventude parecem lendas. Companheirismo, lealdade... De onde veio esse amor tão vago?

  Eu fechei meus olhos e esperei que tudo ao meu redor sumisse. Eu queria poder queimar cidades só para reconstruí-las ao meu modo... Eu queria pintar um quadro, escrever um livro, cantar uma música que você não ouvisse. Eu só queria que você pudesse sentir tudo o que eu sinto. Eu queria desconstruir um mito e ver se há amor em algum lugar fora de mim.

sábado, 14 de abril de 2012

Caravelas

"Cheguei a meio da vida já cansada
De tanto caminhar! Já me perdi!
De um estranho país que nunca vi
Sou neste mundo imenso a exilada.

Tanto tenho aprendido e não sei nada.
E as torres de marfim que construí
Em trágica loucura as destruí
Por minhas próprias mãos de malfadada!

Se eu sempre fui assim este Mar morto:
Mar sem marés, sem vagas e sem porto
Onde velas de sonhos se rasgaram!

Caravelas doiradas a bailar...
Ai quem me dera as que eu deitei ao Mar!
As que eu lancei à vida, e não voltaram!..."

Florbela Espanca

quinta-feira, 22 de março de 2012

Palavras de um Nobre Vagabundo

Aos mendigos e arruaceiros, me apresento
Sou uma medida incerta, misterioso me fiz
Familiar a tantos, talvez por puro intento
Sou um espelho do tempo, reflexo do que quis

Estou de passagem, eternamente por enquanto
Sempre correndo atrás de um bar mais imundo
Pois na sujeira dos outros só vejo encanto
Já que a minha é a sujeira de todo mundo

Não me entrego por pouco mais que nada
Dá-me tudo ou não se arrisque
Minhas palavras já tiveram dona e ladra
Hoje são para qualquer copo de whisky

Não deixo de mudar meu eu semanalmente
Afinal, qual é a graça da permanência?
Mas guardo as migalhas do caminho em mente
Pois aprendi que a solidão é penitência

Sou fruto de outras dores e tantos amores
Mas não caio do pé por pura teimosia
Não fui feito pra viver com as flores
Mas não me entrego como mercadoria

Escolhi a vida como estação final
E pelas ruas eu gritei pra todo o mundo
Espero nunca ter sido meramente igual
Palavras de um nobre vagabundo

segunda-feira, 12 de março de 2012

À Luz Distante

Havia uma luz que aguardava, assim distante
Algum espectro que a fizesse prisioneira
E que em meio a agonia rotineira
Tome-lhe ao seu colo e pra ela cante

Eis que surge algum espectro na janela
Cantando-lhe uma canção pra ela feita
E ela que esperara ali, perfeita
Ainda não cria na beleza que era ela

E o espectro que não esperava nada
Pedia que o amasse por amar
E que não mais parasse de sonhar
Em tal história que apenas começara

E essa luz era só sonho que vivia
Que por sonhar assim tão delirante
Não notava, que do teu brilho ofuscante
A sombra era o espectro que queria

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Posso Escrever Os Versos Mais Tristes Esta Noite

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros, ao longe”.

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis, e às vezes ela também me quis...

Em noites como esta eu a tive entre os meus braços.
A beijei tantas vezes debaixo o céu infinito.

Ela me quis, às vezes eu também a queria.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
Minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Como para aproximá-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.

Já não a quero, é verdade, mas quanto a quis.
Minha voz procurava o vento para tocar o seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a quero, é verdade, mas talvez a quero.
É tão curto o amor, e é tão longe o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre os meus braços,
minha alma não se contenta com tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo."

Pablo Neruda

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Distração

Todo dia às 7 saio pra comprar o pão
Já sem me questionar se isso é verdade ou ilusão
Assisto outro cigarro apagando-se no chão
E a vida segue em frente e toma outra direção

Todo dia às 7 acordo e corro pra estação
Já sem me questionar se é por vontade ou por pressão
Assisto outro cigarro desfazer-se em minha mão
E a vida ocupada esconde-se na multidão

Será que eu me perdi ou me esqueci de procurar?
Encaro o meu retrato em outro tempo, outro lugar
Será que eu te perdi ou não cheguei a te encontrar
Decorei as palavras do que iria perguntar

De volta ao palco armado com minha voz e minha razão
Ensaio cada frase disfarçando a solidão
Os dias se repetem ou fui eu quem não mudei?
Sou tão desatento que nem lembro onde andei

Será que eu me perdi ou me esqueci de procurar?
Encaro o meu retrato em outro tempo, outro lugar
Será que eu te perdi ou não cheguei a te encontrar
Decorei as palavras do que iria perguntar

Eu não sei se é por descuido ou distração
Mas já perdi tanto tempo em solidão
Eu não sei se é por descuido ou distração
Mas já perdi tanto tempo em solidão que hoje eu digo não

E agora acordo às 7 em qualquer outro lugar
Já não paro mais em casa pois você nunca está lá
Já olhei por toda parte, eu só queria te falar
Que o espaço na minha vida é feito pra você ocupar

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Prêmio de Consolação

O silêncio ainda prevalece
Que um pro outro seja dúvida
E do amor mútuo fique a dívida
De todo o resto a gente esquece

E é assim que a gente segue
Sem nem saber com quem vivemos
Se é pra ter o que queremos
Não pense em nada, só se entregue

Nós nos fizemos prisioneiros
Sem nem mesmo enxergar a cela
E não sabemos o que nos espera
Quais são os castigos verdadeiros

Estranho é amar quem mau conheço
E ter que me satisfazer
Eu devo ter que agradecer
Por saber mais do que eu mereço

domingo, 5 de fevereiro de 2012

À Minha Aquariana

Existe no mundo, algo que deve ser julgado como ideal. É isso que as pessoas esperam da gente, as atitudes certas, os sentimentos certos, mentiras surpreendentes, verdades claras. O mundo espera ouvir da gente as palavras certas, em qualquer ocasião. Isso não costuma incomodar meu coração com licença poética, mas hoje, eu parei pra pensar nas palavras certas pra dizer pra você, meu amor.

Eu passei dias procurando as palavras certas pra lhe falar sobre o tempo, pra falar como ele passa rapidamente, cruelmente. Pois é, meu amor, os anos passam e pra gente só sobra viver eles de uma forma ideal, tal qual tudo mais deve ser. Mas não, não quero que você pense que me preocupo com a forma que lhe julgam por viver assim, da forma que vives, da forma que és.

Talvez seja isso que encante todos à sua volta, essa sua forma de viver sem se preocupar com o que os outros vão pensar.

Então, me vi forçado a pensar nas palavras certas para falar o que sinto por você, sem me preocupar com a rigidez do julgamento das pessoas ao meu redor. E sabe o que eu consegui? Nada. Acho que nada no mundo é certo o suficiente pra lhe falar sobre o que sinto por você. Amor é um sentimento fabricado demais para definir essa devoção que tenho a você. Carinho é um diminutivo justo quando se trata do cuidado que tenho para contigo. Saudade é limitado demais para exprimir a falta que você me faz, até mesmo quando fica longe de mim por algumas horas. Talvez eu seja exagerado demais, justamente por saber que tudo o que sinto por você é exagerado demais.

Não, exagerado não, tudo o que sinto por você é justo, afinal você me cativou assim. Você, com a sua realidade de aquariana. Você, com as suas respostas vagas, sua indiferença ocasional, sua frieza, seus sentimentos que são apenas citações de músicas que gostamos tanto. Você, com a sua beleza estonteante, com o seu silêncio observador, com o seu charme hipnótico. Você com a sua inconseqüência calculada, com o seu desprezo com o que não lhe importa. Você com as suas definições alternativas para cada coisa que a gente conhece. Você inteira, cada defeito que eu amo, cada qualidade que me é essencial. Você, completamente você. É só isso que eu quero, mas querer ainda é muito pouco perto dessa necessidade que tenho de você perto de mim.

Mas é só você e é só isso que eu preciso. Talvez a única coisa ideal que eu tenha encontrado até hoje é você e eu só espero poder ser assim para você também um dia.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Dorian

As the colours of the wall fade away 
My face will stay the same 
As the years go by and the poets cry 
You won’t forget my name 

Take a good look at this Picture 
What can you see? 
Shall I whisper never and live forever 
As a ghost inside of me? 
Would you still Love me If I was old 
Or would you take your words away? 
I will keep my Picture locked and safe 
And my beauty will be a fake 

Time will never pass for me 
And I’ll never be set free 
And my curse will never die 
My Picture must be this phantom of me 
Forever... 

As the years will fly away 
My face will stay the same 
And you all will die while I’m still alive 
I’ll be lonely by the end 
And i’m running in my dreams 
From the evil things I’ve done 
I’ll wear this mask of blood and flesh 
Of the man that is long gone 


Dorian, come take a look at me. 
What is wrong with me? 
What is wrong with you

domingo, 22 de janeiro de 2012

Próximos Dias

Acho que ando fumando demais. Todos esses cigarros ainda me farão muito mal, em algum futuro, talvez já tardio, em que você não estará mais ao meu lado... em que nenhuma de vocês estará mais ao meu lado. Já estou acostumado a sentir tudo dobrado durante a minha solidão, no que tange a dor do corpo não há de ser tão diferente da dor da alma.

Enfim, estou fumando demais. Já não tenho mais folego pra grandes amores, meu coração não suporta mais esse excesso de carga emocional, o mesmo excesso que já suportou e superou diversas vezes com incrível facilidade. Já não tenho mais aquele vigor de jovem apaixonado, aquela vontade de poeta relutante. Já não creio mais nas máximas do amor sincero e puro, que nada quer. Não acredito nessa doação. Acredito no potencial devastador desses filtros vermelhos, que devoro com rapidez.

Ainda assim fumo, para esperar dias que nunca chegam. Fumo para matar certas vontades dentro de mim. Fumo pra sufocar as palavras que não mais quero pronunciar, como aqueles inúmeros "eu te amo", que já disse com tanta sinceridade, pra tantas pessoas que conheci. Hoje, ainda os repito, não menos sinceros, de forma alguma. Sinto de verdade, tudo que já disse sentir e ainda digo. Digo agora com algum pudor, a resguarda natural de saber que essa simples expressão de sentimentos pode me tornar prisioneiro de uma pessoa... uma pessoa que talvez nem mereça mais nada de mim, quanto mais o meu corpo e alma por inteiros.

E sigo fumando, cada dia mais. Os dias ainda não chegaram e eu parei pra dizer a uma de vocês que ainda sinto saudade das coisas que nunca tivemos a chance de realizar. Há em mim algum remorso pelas coisas que deixamos inacabadas... coisas que deixamos pra construir depois, e os Deuses sabem se teremos outra oportunidade. Parei pra dizer a outra que saboreie teus cigarros, da mesma forma como eu, pois nosso tempo, se é que haverá um tempo nosso, ainda não está tão próximo de chegar, mas quem sabe com um pouco de paciência teremos a chance. Parei para dizer a última o quanto eu sinto. Por você eu sinto tudo, do mais sincero amor ao mais terrível ódio, mas saiba que estou contigo, mesmo que navegando nesses mares bravos, sempre estou contigo... assim como sempre estive.

Meus cigarros acabam, mas sempre haverão outros. O meu amor acabará um dia, mas sempre haverá outro, e com o de vocês será igual, porque é assim que nós aprendemos a viver, buscando alguém pra completar algo que pode ser perfeito sozinho. E melhor ainda acompanhado de um quarto esfumaçado, uma janela aberta, uma xícara de café e tudo o que houver de mais triste na lista de reprodução. É assim que nós vivemos até hoje e assim viveremos os próximos dias.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Ao Sono

O dia hoje amanheceu estranhamente vazio
E eu, que já não fecho mais os olhos, vi
Escondido atrás das nuvens, pálido, frio
Não sei se o dia assim se fez ou se assim senti

Hoje eu só pensei em ti, no que queria lhe dizer
No tanto que menti, nos sonhos que sonhei

Por fim eu te procurei e disse tudo o que queria
Você só se esquivou e adiou para outro dia
Você sabe que eu sofri, enquanto você, pra mim, mentia
E agora... Como acreditar em quem não se confia?

Mas o dia foi estranho e a noite segue em frente
E eu sei que, mais uma vez, a madrugada será fria
Eu sonho com tudo o que eu queria diferente
E você preserva essa sua vontade já tardia