sábado, 9 de outubro de 2021

Nada Diz De Quem Tu És

Agradeço pelas palavras doces, mas não as quero,

Nem quero ter de ti qualquer lembrança, nem destas vagas horas que passamos juntos

Entre semáforos e sinais (nas primeiras gotas da tempestade, que ainda cairia) 

Displicentemente costurando carros na Avenida do Contorno,

Entre uma parada e outra dessa vida que julgávamos levar

E, pouco a pouco, nos levou ao destino que temíamos

(Mas tu sabias, querida, tu já sabias...)

Nem mesmo quero recordar da voz erguida e do silêncio que abateu-se sobre nós

Nem de quando já não podia mais conduzir este acidente, anunciado e postergado, 

Miragem embutida artificialmente em todas as esquinas e pontos de ônibus

Retratando em tons mais cômicos as tragédias que viveríamos,

E - ainda assim - foi tudo em vão.

Agradeço os gestos todos, até mesmo os de barbárie e hostilidade,

Afinal, todos serão anulados pelo mais refinado aço

Desta vontade resoluta que defendes 

(e que, a fundo, nada diz de quem tu és).