quarta-feira, 27 de maio de 2020

Quarto tácito

Descansa os teus olhos azuis, meu príncipe,
Que o mundo já lhe roubou seus melhores dias,
Os dias que o sol acentuava-lhe o brilho
Fazendo seu corpo vibrar, sutilmente.
Descansa, que eu velo por ti
Por quantas noites forem necessárias,
Assim como tu fizestes em vida,
Sua doce e pequena vida.

Os próximos dias serão grandes
Não esses, de quarto tácito
Jamais esses dias de tua ausência
Apenas os próximos
Apenas aqueles em que tua alma
Puder descansar em paz.

domingo, 24 de maio de 2020

Parcelas de Verdade

De súbito, iça-me ao céu, como delírio vespertino
Só pra ver se a queda é dura em qualquer situação,
Não sei mais o que fazer com esse tolo coração
Que só de imaginar, rende a ti outro suspiro.

A consciência deste enlace tem tirado meu sossego,
Me aprisiona diariamente nesta cela de saudade.
Sei que soa exagerado, mas há parcelas de verdade,
Nelas busco explicação que justifique o meu apego.

Se me queres, começas por me querer bem,
Além deste revestimento, necessito de cuidado,
Que os anos de solidão me cobriram de poeira.
Se queres desvendar-me, há um segredo e nada além,
Aumento algumas coisas, mas não tenho exagerado
Quando ouso lhe dizer que minha paixão é verdadeira.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Fratura

A certa hora, descanso os olhos 
Mesmo de luzes acesas, descanso-os
E a noite aprofunda-se, incerta, 
Mas tudo se passa lá fora.

Chia, por baixo da porta, uma verdade 
Sobrenaturalmente imposta, 
Toda escuridão é imensa
E as sombras crescem dentro de nós.

Há medos que são como pragas,
Destroem os nossos jardins,
Cobrem as nossas janelas e logo não vemos
Nada, nada além deles.

Estou certa de que minhas sombras
São parte do escuro do mundo,
Pois quando descanso os olhos
Vejo outras luzes acesas.

Cinismo

Suspiro ao abrir os olhos, sinto cansaço,
Como se tivesse sido empurrado às paredes
Por ombros duros, sei que todos carregamos pesos,
Mas alguns esqueceram-se da leveza.

Da luz dos edifícios espelhados
Vejo a vida translucida das janelas,
O espetáculo silencioso do dia a dia
Refletido, inúmeras vezes, torna-se impessoal.

Vivo e vejo todas as coisas, as coisas como são,
Despidas das fantasias do progresso,
A despeito de qualquer mística moderna
Que nos faz crer especiais.

Digo não aos olhos brancos das vitrines,
Mas minha recusa é franca e sem desprezo,
Não aceito, mas sigo sem alarde,
É que desse mundo, eu nunca farei parte.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Desarme

O novo encanto é sempre o mais intenso
Enfeitiça toda a criação poética.
Meu coração deseja, mas minha alma é cética,
Então guardo a mim tudo que penso.

Queria atravessar tudo isso ao lado teu,
Nutrir a mística que anuncia este romance,
Viver o máximo até que você se canse,
Mas não deseje se esquecer do que viveu.

Ah, pareço estar tão vivo agora,
Rendendo versos encantados para ti
Desejando que teu beijo me desarme...
Ah, como seria bom se fosse agora,
Dar sequência a tudo aquilo que senti
Desde quando me encantei pelo teu charme.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Doces Mais Doces

Gosto dos doces mais doces
Que explodem sabores intensos,
Mas logo me enjoam os sentidos
Por serem doces demais.

Gosto do açúcar que sobra,
A mão errada, com gosto,
Que escancara o exagero
Desses desejos banais.

Chego a ser deselegante...
O problema não é a frequência,
As doses são altas demais,
Como todos de uma vez só.

Nunca pensei no amanhã,
Nem sei do que será feito,
Mas não guardo nada
Com prazo de validade.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Versos Tricotados

Subitamente desaba a tempestade,
Toma meu peito por outra madrugada inteira,
E tão somente quando a sombra derradeira
Vai embora, volta a criatividade.

Queria o encanto da promessa fácil, mas
O coração ordena sempre outro caminho
E agora ponho-me a contar fio por fio
Desse novelo em que eu me envolvo e nada mais.

Nasce outro dia, desta vez peço que dure
Muito mais tempo do que os outros tem durado,
Acho que agora encontrei uma saída.
Veja bem, este presente é pra que o frio não perdure,
Sobre teus ombros estes versos tricotados
Serão o início do que nos vem em seguida.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Não Deseje Nada Além da Plenitude

Não deseje nada além da plenitude,
Nem o céu, nem as estrelas, nem o azul dos oceanos,
Não deseje que a sorte vá a encontro de seus planos,
Que os sonhos grandes trazem somente inquietude.

Não deseje a morte com palavras incoerentes,
Nem o céu, nem o inferno, nem jardim da salvação,
Não deseje que o tempo de descanso ao coração,
Pois tristeza e solidão são problemas recorrentes.

Não deseje força pra aguentar a tempestade,
Nem que o céu desague as águas em qualquer outro dia,
Não deseje o ombro amigo, que tuas dores alivia,
Tu tens o mesmo tamanho que a tua força de vontade.


Estridulação

Quando faltam-me as palavras, calo,

Como se calasse a própria alma inquieta

E remediasse, assim, toda vaidade.



Nos outros dias me derramo.

Como tenho derramado tanto de mim pelas noites,

No devaneio sonolento do crepúsculo desfaço-me,

Irreconciliavelmente,

E o sonho, caloroso, morre

Quando calo-me pela manhã.



Há poesia no silêncio e nas coisas

Não configuráveis,

A mística dos pontos pretos na parede branca,

A metafísica da estridulação dos grilos,

O feitiço do tempo.

Há poesia no silêncio e nas coisas

Que ignoro quando fecho os olhos,

Um mundo além do ideal

Recompondo-se a cada segundo.

Vês que o universo começa aqui,

Mas jamais entenderás sua real extensão

Enquanto mensurá-la com palavras.



Quando faltam-me as palavras, oiço,

Como se ouvisse a própria alma inquieta

E evitasse toda solidão

No canto manso do vento.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Jovens Tristes

Caiu, imperceptível, teu pranto no passado,
Doce fantasma dos dias mais cinzas que vieram,
Descansa o peito desse mal que lhe fizeram,
Eu sei tão bem o quanto a teria amado.

Duras as penas dessa via que se estende
Atravessando pelos mares e oceanos...
Como o destino, tão irônico, pretende
Conectar o que não existe há tantos anos?

Dorme, tua sombra não pesa mais nada,
O sol do Senhor ilumina a tua glória,
Meus versos de amor estavam errados...
De certo a resposta já foi encontrada:
Faltava era eu, junto a ti, em tua história,
Dois jovens tristes e apaixonados.

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Síndrome Respiratória

Arfa teu peito, arde por dentro como brasa,
Procura o ar, que só te falta isso.
Respira, com a mente resoluta e o objetivo
Fixo em buscar alívio.

Há métodos, não tão convencionais, 
Que certamente, tão sombrios, tem verdade,
Tuas respostas não estão nas capas de jornais,
Olha pra dentro.

O ar, que não existe agora, foi sumindo
Com os anos passados em branco,
Aos poucos se diluindo na insensatez,
Como se cansasse de ti.

Afinal, quem não se cansaria?
Você que já não se levanta de sua cama,
E torce, vergonhosamente,
Pra que a glória pouse em tua janela.

domingo, 10 de maio de 2020

Caprichos

Verifico os bolsos e cadernos, faltam palavras,
Nada, além do acaso que nos une, está escrito,
É tempo, ainda, de considerações
Acerca do amor que vivo e repito.

Por todo o mar que nos separa, derramo 
A essência triste deste dia,
A lírica padece, os olhos cerram-se,
O resto é só sinestesia.

Resiste, na distância, o sentimento 
- Declaro guerra a toda abstração -
Quero viver o que é concreto
Mesmo que o concreto seja a solidão.

Não há pares além do par que somos
E, por capricho, nós nem somos nada.
Descanso o corpo sobre as ondas,
Há batalhas que não devem ser travadas.




domingo, 3 de maio de 2020

Desenrolar de Eventos

Existe um charme na loucura irracional
E no que se apresenta sempre tão intenso.
Meu coração é meio estranho e sem consenso,
Mas desejar-lhe, querida, é tão normal.

É natural o desenrolar de eventos.
Eu só penso em tua presença a toda hora
E como o mundo estende essa demora
E não te traz, enfim, aos meus aposentos.

Se tudo envolta é só o caos e a intemperança
Vamos fechar todas as portas e janelas,
Que só me importa o que nos vem a seguir.
Eu me permito, me preencho de esperança,
Me apaixonando a cada pouco revelas...
Ansioso pelo que eu ainda vou sentir.


sexta-feira, 1 de maio de 2020

Despreparado

Intocável, por sob uma camada de poeira,
Descansa, em paz, meu coração
Salvo de qualquer transtorno ou emoção,
Guardado apenas à paixão certeira.

A ti, guardei um tanto pra depois.
A história inteira ficará pra outro momento,
Pois na distância não há de haver contentamento
E certas coisas são melhores a dois.

Concebo sonhos bem mais loucos do que este.
O que seria mais um outro desengano? 
Eu já desejo as tuas palavras todo dia...
Quisera ter um outro peito que não ardesse,
Mas tu viestes de surpresa neste ano
Ah - se eu soubesse - eu me prepararia...