terça-feira, 26 de setembro de 2017

Sobre Infinitos e Particularidades

(tocando your hand in mine - explosions in the sky)

Tanto tempo se passou neste silêncio e quanto mais há de passar. Como testemunhas silenciosas de outras vidas, vamos nos reservando às memórias mais calorosas que nosso passado pode prover. Mas ainda resta tanto de nós dois, é complicado mensurar. Desabafo inconsequentemente, pois sei bem que isso sempre dói na pele, como se partes de mim desafiassem a distância entre nós, mas dessa vez terei a leveza de não me fazer entender. Esta é apenas outra carta.

Nem vou esperar muito texto aparecer aqui pra dizer as coisas que realmente importam dessa vez, isso não é uma peça de um quebra-cabeça, isso nem mesmo devia estar aqui, não é registro. Eu sinto sua falta, sinto muito a sua falta, sempre senti muito, e as vezes eu só queria te ligar de noite pra conversar uns minutos, pra saber como foi tudo, mas eu me perco no magnetismo do costume, te ligar representa tanta coisa, sempre foi tão difícil ter essas conversas. Eu queria muito poder te chamar pra tomar uma cerveja, fumar meio maço de cigarros, comer alguma bobagem ou não, ou nada disso, ou qualquer coisa diferente em que a gente se encontrasse como pessoas diferentes, sabe? Alguma realidade paralela onde nada aconteceu entre nós, e eu simplesmente entrasse no bar e te visse sentada, completamente nova, realisticamente irreal pra mim, tudo diferente, só mais uma vez. Talvez em algum lugar as coisas tenham sido diferentes, talvez em algum lugar tudo tenha sido muito melhor, ou talvez as coisas que aconteceram com a gente sejam boas de alguma forma que eu não consigo perceber. Não importa.

Será que nós já somos realmente pessoas diferentes? Será que a gente mudou e melhorou em alguma coisa? Eu nunca conseguiria te dizer certas coisas, eu nunca conseguiria ouvir certas coisas de ti. Será que tudo continua como era? Eu nunca entendi muito bem o que acontecia comigo. Hoje eu sei que eu nunca me preocupei em entender como as coisas funcionavam entre a gente e nem em medir os danos. Estranho sofrer tanto e nunca ter pensado sobre este sofrimento, me faz questionar quanto de tudo o que eu vivi era real. Será que nós somos diferentes nos aspectos essenciais? Hei de me sensibilizar pela ideia, não aceitaria ter cometido injustiças no desenrolar dos anos, por mais que saiba que as cometi. Eu não aceitaria o gosto de ter perdido alguém por uma série de caprichos. Eu perdi a rédea desse passado, já não consigo me inserir em outro contexto. Isso também deve ser impressionante, pois ainda sinto coisas pertinentes à outra realidade, ainda tenho estas lembranças, ainda tenho calafrios, ainda sinto tua ausência.

Tem sempre alguma parte do meu dia que isso fica mais latente. Algum momento que te arrasta pra minha vida. Cotidianamente eu esbarro na tua ausência. É como se eu notasse que a piada seria mais engraçada contigo ou como se eu passasse sempre por algum lugar que eu tinha que ter te levado. É como se a comida fosse mais gostosa com você, ou como se a cerveja fosse melhor, ou como se o filme fizesse menos sentido. Eu tenho certeza que tudo era mais prazeroso contigo, mesmo que as vezes isso seja meio perverso. Nestes momentos de solidão eu só queria um por do sol, como o que estava aqui quando comecei a escrever este texto. Eu só queria muito barulho. Eu queria gente. Eu queria distrações. Tudo isso porque na verdade eu queria poder segurar sua mão e reviver alguns dias, que despontam a memória pela completude. Mas aí eu acordo, e a vida aponta a dualidade das coisas contigo, minha querida. Se eu lhe segurasse a mão seria pra dizer que nada nunca foi tão bom quanto estar contigo, assim como nada nunca foi tão difícil, nada foi tão doloroso. Saber que isso me corta e a dor fica pra sempre. Saber que isso me acolhe e o calor não me abandona. Eu sei bem que você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, mas também foi a pior.

Não há mérito nenhum em ter aguentado a dor que eu aguentei, ou suportado as tempestades, ou amansado a fúria. Eu fiz por amor, teria feito de novo várias e várias vezes se as forças tivessem me sobrado. Eu procurei justificativas nos lugares errados, só pra entender que se você era um karma, era o karma que eu precisava. Não teve nada na nossa vida juntos que não tenha me feito andar pra frente. Desde a menor das preocupações e vaidades até às genuínas insônias que a dor acometia. Eu aprendi coisas valiosas nas vivências mais terríveis e cada um dos desacertos me fez acertar posteriormente. Eu soube tirar o melhor disso, isso me tranquiliza. Por algum tempo eu fui vaidoso de ter me esforçado pra fazer o mesmo, mas é tão óbvio o teu sucesso, não tenho espaço nisso tudo, eu só admirei de longe. O preço que se paga por uma coisa tão boa é naturalmente ruim. Eu perdi muitos dias me consumindo na tristeza. Os danos à minha sanidade são cada vez mais nítidos. Eu viveria de novo...

Tudo bem, tudo bem se isso não fizer diferença nenhuma, eu não tenho propósito. Tuas lembranças conversam comigo e eu as vezes sinto que preciso responder. São pequenas doses de adrenalina ou amor, que me fazem digitar rapidamente coisas desconexas. São as raras madrugadas passadas em claro lembrando de alguma coisa que vivemos. É olhar pro banco do lado e lembrar de você. É um toque que me acorda, mas tudo é imaginação. Não tem problema, eu não tenho propósito. Isso não é arte, mas eu sei que é bonito. É pertinente, afinal é aceitar que essa parte de minha vida foi bonita também. Hoje seria diferente? Sim. Hoje eu só te levaria pra algum lugar legal. A gente conversaria sobre os últimos meses, sobre trabalho, sobre as aventuras mais recentes, sobre novidades, sobre família, sobre planos, sobre sonhos, sobre música, sobre shows, sobre restauração, sobre livros, sobre filmes, sobre séries, sobre bares, sobre cervejas, sobre comidas, sobre tudo o que eu tenho feito, sobre tudo o que você tem feito, sobre tudo o que os outros tem feito, sobre tudo o que não tem sido feito, mas será. Sobre a gente, separadamente.

Sobre infinitos e particularidades,

Sobre amor.


sábado, 23 de setembro de 2017

A Arte da Esquiva

Devo abaixar o tom de voz mais uma vez, é inteligente se fazer imperceptível, pois o que não é visado não é afetado. É assim que a gente vive a noite, sendo a sombra da própria sombra, até quase esquecer que a existência é concreta. Nos esgueiramos pelas portas e janelas, tampando as frestas que acusam o dia, por favor, nos tire a sanidade, mas devolva a noite.

Devo desviar dos móveis e tirar os meus sapatos, pois qualquer som é alto. A gente aprende a ser discreto e guardar a própria voz, dar ouvidos às paredes pra notar qualquer tremor e até mesmo fecha os olhos por pretender ser invisível. Lutando contra si mesmo pra dormir durante a noite, e sentir a derrota do amanhecer se repetindo. Hoje é terça ou sexta ou domingo ou quinta ou qualquer dia, porque todos são iguais, eu nunca quis existir em nenhum deles. E é difícil se anular durante o dia, porque o sol consola os doentes, mas não os renova. Vamos levantar da cama e sorrir para os porteiros dos prédios, não nos permitiriam o ócio, não nos permitiriam o silêncio, não nos permitiriam o torpor. 

E a cabeça segue zonza, em decorrência de outra tentativa de encerrar as coisas no auge, seguir não sendo a partir de uma lembrança feliz, uma noite gasta em meio aos meus. Não fomos feitos pra alvorada, nós nos escondemos em nossas próprias cavernas, nós nos esquecemos do que reside lá fora. O mundo não é meu, esse mundo não. E assim a gente prossegue por mais algumas semanas, resistindo às duras penas da sociedade: Pagar, coexistir, contribuir e obedecer. Seguir de preto pelas ruas cinzas, pois não devo me prender a nenhuma classe que não me honra os honorários. Abotoadeiras, gravatas, cintos, sapatos sociais, valises idênticas. Metrificados, aparados, limpos. Deus sente orgulho de vocês. Do resto ele se esquece.

Vocês que dormem cedo não sabem o que é ser forte. Vocês que acordam cedo não sabem o que é a angustia. A sensação de estar sozinho que é sempre amargo-doce, se questionar sobre os desejos e a fonte da inspiração. Eu desvio das cadeiras, pois não quero ser culpado por nada. Eu ando pelo piso mais certeiro, evitando sempre o ranger das acomodações, descansando em parcelas, pra se deitar cada vez mais devagar... tudo é tão barulhento.

Não posso dar mais evidências, a noite avança. Logo vem outra batalha, logo vem outra alvorada, e eu continuo aqui, me permitindo ser o nada que reside no quarto ao lado, me permitindo deixar o rastro de minha própria imundice. Metamorfoseado em qualquer animal selvagem que se esconde por instinto, pois sabe que todo e qualquer ser humano é um predador em potencial.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Novidades

Anunciando novidades que só valem para mim
É isso que eu faço nesse espaço que me cabe
É isso que eu faço com o tempo que me cabe
É isso que importa quando diz respeito a mim

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Frases Curtas

Tenho escrito frases curtas, que não enchem minha cabeça
Sigo a minha natureza, nada é muito diferente
A gente tenta um pouco mais se adequar à correnteza
É costume persistir pra ver se algo vai pra frente

Tenho escrito frases curtas sobre o que quero esquecer
Cicatrizando toques que marcaram minha pele
Poesias mais baratas que nunca eu tornei a ler
Um diário todo feito pra que o tempo não revele

Tenho escrito frases curtas, sem motivo, sem valor
Sobre como as coisas curtas marcam involuntariamente
O restante do meu dia tenho doado ao meu torpor
Pra que as frases curtas não se alonguem em minha mente

Tenho escrito frases curtas e já tão repetitivas
Como as poesias vivas que escrevi pra estes momentos
Acho que gosto das palavras, elas são definitivas
Evito sempre toda gente que só fica por um tempo

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Ritual Visual

E a fumaça para o tempo toda cor se misturou
Do pouco que sobrou nós não iremos nos lembrar
Deixa o escuro te contar o que você sempre buscou

Quem eu sou?
Há dias eu me sinto louco
E o tempo tem passado pouco

As folhas assobiam mas é tudo outro segredo
É que o homem sente medo de tudo que é oculto
Deixa o coração bater no susto aceita o desacerto
Que eu aceito que nós nunca mais conseguiremos
Nunca mais encontraremos o fundo disso tudo
Nunca mais mudar o mundo, entender o absurdo
Que é viver no mundo que é real

Realidade vai voltando, mas a gente vai fugir
Pra nunca ter que existir pela força do costume
Deixa a dor pra quem não se assume e busca o Ritual
Visual, deus sussurra em teu ouvido, tudo fica divertido
E a fumaça para o tempo
toda cor se misturou e do pouco que sobrou
Nós não iremos nos lembrar de como era antes
Reconhecer os semelhantes que ficam para trás
Escolhem o cotidiano seguem por seguir o plano real

Habitual
Eu sempre nego o que é real
Danço em qualquer ritual visual