sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Efêmero Encanto

Dizem que tudo que sinto
Escapa-me com facilidade
E sei que, no fundo, é verdade,
De certa maneira consinto.

Por saber que assim sou
Me agarro aos amores intensos,
Tecendo mil planos extensos...
Quando percebo passou.

De cada amor resta a lembrança
Do corpo que dormia ao lado,
Como um retrato inacabado
Que dura ao tempo e a intemperança.

Por esse motivo que canto
Pra dar justiça ao coração
E eternizar a sensação
Do mais efêmero encanto.

domingo, 22 de novembro de 2020

Coisas que faço, pois vivo, que faço pra poder viver.

Estas coisas que faço, nas quais gasto meu tempo,

Sem qualquer traço de paixão ou de intento,

As coisas que faço, já nem tocam meu coração,

Mas faço, como se não me restasse nenhuma opção.


As coisas que faço, nem queria fazer,

Faço-as, enquanto o sol segue seu curso,

Faço-as, sem crer em retorno ou recurso,

Sigo fazendo-as enquanto viver.


E, afinal, faço-as sem propósito ou questionamento,

Como se a condição imposta fosse imposta, de fato, 

E detenho o protesto que minha alma ainda pensa em fazer.

São coisas que faço, criadas na inércia do tempo, 

Que nunca me dizem nada, nada de imediato, 

Coisas que faço, pois vivo, que faço pra poder viver. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Resiliência

Até poderia ser pela falta de sorte, 

A falta de uma chance, pela falta de aviso,

Por faltarem contigo, e que pouco isso importe,

Mas no fundo tu sabes: não é nada disso.


Poderia até culpar o mundo, que sequer se pensa,

Mas tu que se pensa e se sente, não se culpa e se ressente...

Se não dormes o sono dos justos, então de nada compensa,

Mordido em silêncio profundo, de quem cala e consente. 


Poderia até ser pela indústria que massacra o autor,

Pela sociedade que oprime teus companheiros,

Ou pelo carma do que fizestes, também. 

Por aquilo que escolhestes, seja lá o que for, 

Ou o que não escolhestes, de modos grosseiros,

Mas é a tal da resiliência, que você não tem.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Guarda-me

Guarde-me dentro de teu peito, amada minha, 

Guarda-me inteiro em seu sonho mais bonito, 

Se não restam esperanças, eu ainda acredito, 

Guarda-me contigo e nunca estarás sozinha. 


Guarda-me, assim, nas lembranças mais ternas, 

Guarda-me, enfim, como o que restou 

Do amor mais sincero, que o tempo tomou, 

Bem antes do tempo das juras eternas. 


Guarda meus olhos, meus beijos, minha voz 

A memória mais quente da vida que negas, 

E o caminho de volta, pra quando quiseres. 


Guarda-me, agora, que o tempo é feroz, 

Preserva este tolo, que ao teus pés se entrega, 

E, mesmo que louco, ainda te queres.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Devolvo à natureza um sorriso tímido

Devolvo à natureza um sorriso tímido

A cada manhã que acordo, mesmo que barulhenta

<< Às vezes, preferivelmente barulhenta>>

Por sentir-me parte de algo maior,

Por respirar tão fundo, calmamente enchendo o corpo de oxigênio,

E desprender-me, etérea, das preocupações mundanas.


Percebo a vida como troca,

Em que nem sempre sabemos quando receberemos nossa parte.

Sigo doando-me inteira, sem pensar na medida das coisas que entrego,

E recebo o silêncio com a calma resoluta de quem respira fundo.


A fluidez de meu pensamento não pode fazer-me mal,

A partir dela desfaço-me em tudo, reúno-me em nada,

Choco-me às ondas, 

Balanço na alta das marés, 

Corro com as correntes,

Esvazio-me na lua cheia, só pra preencher-me quando ela é nova,

E tudo em mim é novo, impossivelmente novo,

Mas concreto e real, como sou,

E basta-me ser.


Às vezes as nuvens fecham-se e o dia me oprime,

Mas toda tempestade lava a alma.

Como a água, minha liberdade é adaptação,

E rendo ao mundo o que há de melhor em minhas formas.


Se a chuva cai forte, penso na força da terra, 

que aguenta, serena, toda carga sobre ela jogada.

Se a chuva cai mansa, a terra renova-se em vida

E os ares sopram pro novo,

Eu apenas respiro fundo

E durmo tranquila sob a chuva que bate nas telhas.


Se o dia amanhece cinzento, o sol tem todas as cores

E eu posso tê-las também,

Tudo que preciso segue comigo.

Guardo ao peito a calma que emprego nos versos que fico,

Nem penso ainda nos versos que vêm.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Cometa

Posto que sou chama, digo que queimo frio,

Já não aqueço mais aos que procuram meu abrigo,

Tremulo ao vento gélido da ventana semiaberta,

Semiaberta como eu, fui e tenho sido.


Posto que sou rocha, digo-me oco por dentro,

Já não sustento mais os alicerces desta vida,

Duro por fora e por dentro, pra guardar não sei o que,

Erodindo, solitário, às camadas de influência.


Posto ser o que me mostro, digo que não valho a pena,

Pois me mostro intermitente, como um surto de minha alma,

Com o intento de frisar que sou eu sempre capaz,

Capaz de decorar a minha fala e movimento.


Posto que sou nada disso, devo ser coisa nenhuma,

Devo ser como um cometa, passo pra deixar registro,

Então adentro a noite extensa, o universo e o vazio,

Para todos que ficaram morro no esquecimento.