terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Salamandra

Me tomaram tudo, exceto o dom de ser sozinho
Absorto em erros que seguem se dividindo 
Eu que renasço em fogo toda vez que o céu condena
Por portar a luz de tudo o que vale a pena


Cuidado, companheiro, nem só o ouro reluz
Morreram as dúvidas, questiona quem te conduz
Anjos e demônios lhe sussurram ao pé do ouvido
Acordarão a fera que em ti tem residido



Lembra que…


O fogo que destrói é o mesmo fogo que renova
São as ondas calmas que fazem a maré nervosa
O vento que sopra distante é o que nos corta a pele
A terra que se abra e o eterno se revele
Pra admirar o espelho…


Que já não te mostra o que acreditas ser
Revela em ti os medos que pretendes esconder
Olha para a luz, mas segue seus próprios passos
Não escutarás provérbios desses sábios falsos


Lembra que… 


O fogo que destrói é o mesmo fogo que renova
São as ondas calmas que fazem a maré nervosa
O vento que sopra distante é o que nos corta a pele
A terra que se abra e o eterno se revele
Pra admirar o espelho em sua alma


Do fogo ao fogo, mas nunca verás as cinzas
Encerra e principia mas jamais verás o fim
Do fogo ao fogo, mas nunca verás as cinzas

A salamandra queima iluminando o seu jardim

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Lobo

O Homem é o lobo do homem
A lealdade ao capital
Das matilhas do jornal
O lobo lhe volta ao olhar
A servidão contratual
E um mundo inteiro desigual
Que busca se eternizar

O homem é o lobo do homem
É da sua natureza
Ver a morte com frieza
O lobo lhe volta ao olhar
Nos dividimos em tristeza
Partilhando uma certeza
De que a hora vai chegar

O homem é o lobo do homem
Aquele ser tão dominante
Que cria o mal e o atenuante
O lobo lhe volta o olhar
Nada mais lhe é preocupante
Controla o porto e a estrada errante
Mas fica preso em seu lugar

O homem é o lobo do homem
E o fim nunca se aproxima
A guerra e a fome logo na esquina
O lobo lhe volta o olhar
E a gente segue pela sina
E faz do desespero a rima

Somos os pratos do jantar

sábado, 5 de outubro de 2019

Vicissitudes

É preciso articular essa tristeza em rima
Antes que já não me reste mais o que dizer
Tanta coisa se atropela, fica fácil de esquecer
Aquilo que o tempo não mostra, a solidão ensina

Anoto as velhas frases soltas e desisto como antes
Já não sei me completar com poesia ou com canção
E me derramo pelas noites pra encobrir a sensação
De que nada aqui me move, nada me leva adiante

De mim restou apenas o desejo da mudança
E o mal cortado, na raiz destas virtudes
Sei que sou difícil, mas nutria a esperança
Que a vida me sorriria nas demais vicissitudes

Mas não há nem mesmo a mão dos companheiros de outrora
Já não há o riso e o amor, que marcaram a juventude
Foram tantos desacertos que minaram minha glória
Que já nem me reconheço na minha própria incompletude

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Melodia

Por detrás desse silêncio ainda há muito a ser dito
Mas eu venho me calando há tanto tempo em solidão
Fecho as portas de minha casa e condeno o coração
A se acinzentar na falta que me faz qualquer atrito

Eu não vou participar de nada disso que me envolve
Vou seguir as linhas tortas e escusas de minha alma
Não aprendi a ser melhor, mas pelo menos tenho calma
E que a nova primavera pelo menos me renove

E o que reside atrás da imagem do sorriso passageiro
É a incerteza se isso tudo é enfim justificável
Será que pelo menos eu consigo ser amável?
Mostrar em linha e verso este meu eu verdadeiro

Preciso mesmo é de mais tempo e do exercício da poesia
De derramar cada vez mais do que ocupa minha cabeça
Preciso mesmo é de mais vida sobressaindo minha tristeza
E quem sabe minha existência se desfaz na melodia

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Contagem

Tiro um pouco do meu tempo pra me dispersar aqui
E me faço um bom ouvinte do que grita o meu passado
O que de mim foi esquecido, o quanto disso foi lembrado
Eu me deparo novamente com esse mundo que evito

Os caminhos que vieram foram aqueles que segui
Não tive muito tempo pra rever minhas decisões
E agora que me sobra o tempo, me faltam opções
Eu fugi de tanta coisa só para evitar atrito

E agora semiergo-me, talvez não tão resoluto
Mas cada vez mais decidido a recuperar minha vida
Reaprendi a dar valor às minhas certezas divididas
E aceitar a imprecisão do que liga o dia a dia

Já não busco mais consolo, aceito que o mundo é bruto
Tenho em mim tanta poesia pra criar meu próprio porto
Não espero a mão amiga, não procuro outro conforto
Sou eu quem vou preencher essa vida tão vazia