domingo, 29 de março de 2015

Retomada

Retomar os passos do passado
pode ser um bom caminho...
A gente é tão sozinho
que ter o outro ao lado
tem que ser nosso futuro
Esses tiros no escuro
certamente irão te ferir,
mas você ainda vai rir
de tudo isso
Foi difícil
chegar até aqui,
mas te fazer sorrir
compensa tudo

sexta-feira, 20 de março de 2015

Correria

Estou cansado.

Minhas mãos já não tem o mesmo vigor de antigamente. Já não há mais antigamente no pouco espaço da memória. Já não há tanta memória no peso de minha cabeça. Já não restam ideias de mil cores. Já não vejo muita cor em meus cabelos. Já não sobra muito dos cabelos que se descabelavam em mil noites. Já não há mais noites extensas por mil amores. Já não há mais mil amores pra poesia. Já não há mais poesia em minha vida

Podia ser a idade, 
Mas é a correria.

terça-feira, 17 de março de 2015

Heterônimo

Quantos homens existem no olhar que eu te destino?
Quantas dessas palavras descrevem o que sabes de mim?
Quando escrevo para ti, por qual nome assino?
Qual dos mil amantes há de ser seu no nosso fim?

Quantos dias usastes para organizar as minhas tralhas?
Quanto vale o amor que sentes, se podes só sentir?
Quanto espaço a mim reservas, para abrigar as falhas?
Qual é o próximo passo se não podes me seguir?

Qual desses homens é o certo, o pior e o ideal?
Quantos versos descrevem a dor que escolhestes usar?
Qual será a saída quando o sonho se tornar real?
Quem, no final de tudo, você conseguirá amar?

Quantas rimas são suas e quais serão verdadeiras?
Quem te protegeria de tantos rostos familiares?
Qual resposta se esconde nas inúmeras besteiras?
Quantos homens existem por trás de tantos olhares?

Direção Contrária

O que se esconde além do que eu percebo?
Algo que no fim me mata, mas que eu adoro
Além do que imagino, além de tudo o que concebo
Qual será essa verdade que no fundo eu ignoro?

Há mais felicidade plena no que eu deixo escapar
Mas como posso me privar do desafio mais humano?
Saber do que eu já sei é fácil, não preciso me esforçar
Mas eu quero muito mais, quero refazer o plano

Jogando fora o que não é meu, mas que tomo por conforto
Me arrisco ao próximo passo, como quem do sonho acorda
E assim percebe que a realidade é só uma fila involuntária
Eu quero muito mais do que sempre me é proposto
Como quem segue a marcha mesmo ao se balançar na corda
E sabe que a verdadeira queda é ir na direção contrária

domingo, 8 de março de 2015

Mulher

Na clareza da sua pele reside algum segredo
Algo que meus dedos teimam em descobrir
A memória não vacila sussurrando calmamente
Os pontos que marquei em seu corpo, meu amor

Na beleza dos teus olhos reside um tal mistério
Algo novo e intocado, destinado a uns e outros
Dizem sempre muito mais do que seus lábios temerários
Mas quem compreende os teus olhos, escolhe sempre o desafio

Na loucura da sua mente há um espaço reservado
Os incansáveis desbravam suas veias procurando coração
Eu toco suas mãos e já leio os teus caminhos
Deixo minha assinatura, tomo por propriedade

No calor da tua boca é muito fácil enlouquecer
Arrisco até um vão palpite de que há algum veneno
O vício é certo, várias doses são letais
Mas não há mais nada que possa impedir o beijo

Me prendi aos teus cabelos, minha doce senhorita
Aqui estou tão confortável que nem planejo a fuga
Sou detento do seu corpo, então jogue a chave fora
Não há mais nada que interesse em qualquer mundo inexplorado

Devo confessar, me apaixonei pelos teus ombros
Sustentam realidades que eu sonho em me adequar
Teu pescoço que eleva a tua face à divindade
Pedestal imensurável da beleza de mulher

No teu corpo há mil maneiras de viver durante a noite
Não lhe falta tamanho, idealizo-te, pequena
Em teus braços e pernas eu edifiquei meu lar
Não busco outro lugar, já me basta ter seu colo

Mas teu jeito assim difícil é com certeza o principal
Charme feito pro destino brincar com minha vida
Complicar-se é sua arte, meu papel é resolvê-la
Encontrar em tanto encanto a minha realidade


quarta-feira, 4 de março de 2015

Sem Saideira

Não vai embora dessa vez
Fica pra um café
Pro resto dos nossos dias
Vai ficando enquanto der

Não vai, deita aqui comigo
Dorme e sonha com a gente
Mas só sonha do meu lado
Pra estar sempre sorridente

Ao abrir os olhos, me encontre
Conte outra vez sobre os nossos planos
Não precisa resolver nada
Fica aqui, por mais uns anos

Depois dá-se um jeito
A gente sempre arranja uma maneira
A gente vai prolongando a conversa
Nunca pede a saideira

Então fica, por favor
Segura a tua ansiedade
Nunca mais você me deixa
Nunca mais sente saudade

Desconforto

O mundo é puro desconforto
Eterno não lugar comum
Tudo se desfaz aos poucos
Seguindo sem motivo algum

O mundo é puro desconforto
Não cabe a gente por aqui
Se encaixar no compasso torto
Aprender a se dividir

O mundo é puro desconforto
Pra que tentar mudar alguém?
No fim você também vai estar morto
Não tente mais fazer o bem

O mundo é puro desconforto
A tua resposta é só azar
Trazido ao mundo por aborto
Em buscar de se encontrar

O mundo é puro desconforto
De quem é a culpa todos sabem
Eu só espero pelo acordo
Concordem apenas e se calem

O mundo é puro desconforto
Tudo é só desconfortável
Não há razão pra nada novo
Nesse mundo inexplicável

terça-feira, 3 de março de 2015

Tormento

Me escreve assim de longe por não ter escolha
Deposita nessa folha o que não quer sentir
Não há porque mentir, não há mais conjunto
A gente junto é só história, não dá pra fingir

Não tem nada em comum no que a gente vive
Não digo onde estive e não escuto onde vai estar
Não vai mais mudar, a gente não tem mas caminho
Daqui sigo sozinho pra qualquer outro lugar

Não há sinceridade que pague o preço da saudade
Não há amor demais que valha o eterno sofrimento
Não há qualquer afeto que justifique essa tensão
Só há necessidade de manter a comodidade
Só há um grito interno que me livra do tormento
Só há mais um discreto pesar neste coração

segunda-feira, 2 de março de 2015

Em Meio À Tempestade e Fúria

Quantos dias faltam pra completar a gente?
Eu já cansei de me contar
E ao me deitar com a cabeça ainda quente
Sei que é com você que vou sonhar

Contar os vários dias diferentes
Por mais amor, somar você
Mais dias longe e eu fico doente
Garanto que não vou mais te perder

Só resta o seu toque e o seu olhar
Minha mão sempre repousará na sua
Minha pele ainda é porto pro seu beijo
Na escuridão sei quem vai me guiar
E me acalmar na tempestade e fúria
E me lembrar do amor que é meu desejo

Em Nome De Ninguém

Alimenta a minha alma fraca
Toca meu rosto, limpa minhas lágrimas e me tira dessa cruz
Não sou aquele que pode salvar o meu irmão
Apenas o que já não aguenta mais o julgamento
Me dá a chance de recomeçar bem longe
Em outra terra onde não serei ninguém
Não quero o nome do senhor, nem sua missão
Apenas me deitar com aquela que escolhi
Não carrego no meu peito toda a força do divino
Sou só humano e não nasci pra liderar
Se não há mais ninguém que tome esse lugar
Ao menos acaba com a dor do sacrifício
Pode usar meu nome nessa sua igreja
Faz dos seus filhos apenas sombras do que fui
Usa o suposto amor que tenho pelo mundo
Como a poesia que alegra o seu exército 
Mas me garanta a paz que dura a eternidade
Pois morrer sofrendo é o último martírio 
Já não suporto o peso dessa existência
Que a inexistência seja ao menos silenciosa
Sem mais mulheres que lamentem a minha ida
Sem mais devotos que esperem a minha luz
Sem mais vilão que senta e espera a minha morte
Sem mais ninguém que espere o que eu não posso dar
Sou só um louco que parece abençoado
Que teve o azar de proferir as frases certas
Por piedade ou crueldade acaba enfim
Com minha passagem já tão longa por aqui

Me tira da cruz de ser eterno, de ser maior
Eu só quero ser mais um se for possível
Nem que pra isso eu pague com todas as vidas
Nem que o preço seja a minha própria vida

domingo, 1 de março de 2015

Fábula

Desmistifica-se a juventude sonhadora
Cresci bem mais nos versos tristes que na ode
Foi-se o tempo das histórias encantadas
Foi-se o tempo em que a inocência nos fazia acreditar
A fábula acabou, mas o amor não

Mas teço os contos mais fantásticos sobre nós
Faria inveja nos príncipes e princesas
Viver feliz eternamente é a ilusão
De quem espera à mesa a mão que ergue só
Qualquer castelo de romance inabalável

Pego os cacos dessas inúmeras tragédias
Lhe faço o domo que protege as tuas pétalas
Teus espinhos são como os demais
Tira meu sangue pra regar tuas raízes
Toma meus olhos pra observar tua beleza

É muito certo que acertamos algo bom
Em algum futuro irão contar essa história
"Como sofria de amores esse jovem
Mas teve o amparo de uma mão iluminada
Amor como esse é certamente de cinema"

Mas não há mística nisso tudo que vivemos
Sabemos que estamos lado a lado
Tens em mim o companheiro se quiseres
Amante e amigo, guiarei teus passos vagos
Pra que o caminho seja sempre bem traçado

Juntos daqui pra frente, sofreremos
Sofrer é parte de qualquer história boa
Não há verdade em um amor que não é triste
Não há amor se não houver verdade
Na realidade...
Não há nada se não for com você