quarta-feira, 27 de julho de 2011

O olho, o fundo, o meio

Hoje, por um segundo conheci o que não sou
Me vi em um furacão e eu era, ao mesmo tempo, ele.
Cheguei perto do meu não-eu
Com raiva dei-lhe um tapa
Mas senti como se algo saísse de mim...
E não voltou.

Me vi em um abismo
Ele estava ali pleno em um vazio agudo
Gritava em ecos o que ninguém dizia
Uma voz que ninguém ousava ter
Ele me ninava.
Como se me quisesse só para ele
Como se me conhecesse
Como se me amasse

Mas e eu?
Amava o nada?
O abismo?
Amava o que não era?

De repente, meus pés me olhavam
Me pediam para saltar
E o olhar do abismo me chamava
Para conhecer o que não via

O fim me aguardava
O fim do abismo
Ou o começo
Aquilo que apenas sentia.
Em meu peito.
Em meus olhos.

Olhei para o que pensava ser eu
Havia uma covarde coragem
Ali, bem no fundo.
No fundo de um precipício dentro de mim

O que havia no fundo daquele vazio era meu umbigo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Zero

Zero.
Esse é o valor que me é atribuído.
Sou só uma sombra do que eu deveria ser pra cada um de vocês e sirvo apenas para a proporcionar diversão enquanto sou pisoteado. Sou a mesma sombra que te vela a noite, embora tudo o que sintas seja desespero e, como de costume, desapareço quando as luzes se acendem. Sou aquela sombra que vocês teimam em ignorar, fecham os olhos pra não ver e se esquecem ao nascer do sol, pois só existo com a lua, pra vocês eu só existo de noite.

Perdi a conta das tentativas de me fazer ao menos notável. Perdi a vontade de contar.

Eu sou nada... o nada que vocês sentem. Sou aquele vazio que incomoda tanto, mas que você se esquece por não saber de onde surgiu. Sou os espaço vazio do seu lado, o espaço que você nunca quis que eu ocupasse. Eu sou solidão materializada, sólida, sólita, concreta, mas sou a solidão que nunca te faz mal, pois ninguém quer o que não existe, pra vocês eu nem sequer existo.

Perdi a conta das sensações que provoquei. Perdi a capacidade.

Eu sou o que foi apagado, esquecido, torturado e substituído... mas ainda assim, o que tentou ser tudo o que podia pra cada um de vocês.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Não Tenho Sentido

Qual é o sentido de tudo isso?
Pra que repetir o que não existe?
Pra que continuar, manter o vício
Se nem é por vontade que a gente insiste?

A gente se prende e nem repara
E quando dói, a gente não sente
Transforma alegria em coisa rara
Mentindo ao dizer que a gente não mente

Qual é o sentido de ser só mais um?
Há propósito em querer ser dois?
Talvez a vida seja mesmo solidão...

Se pra você meu valor é nenhum
Pouco me importa o que vem depois
Quem fecha o peito, preserva o coração

sábado, 16 de julho de 2011

Desabafo

É bonito ver a vida girando. Bonito e triste.
É engraçado ver como as coisas se repetem na minha vida e como eu torno as coisas repetitivas para as pessoas que estão ao meu redor, eu juro que não posso evitar, por mais que eu queira (e acreditem, eu quero muito) viver coisas novas. Eu tento, diabos, eu tento muito mesmo, eu apaguei tanta gente da minha vida, só pra correr o risco de aprender a viver sem essas pessoas e conseqüentemente, corri o risco de viver sem ninguém, porque ninguém, NINGUÉM, quer viver nesse limite entre necessário e dispensável, ninguém precisa do meu limite diário de amor e ódio. Eu sou o limite, embora não tenha limites nas minhas atitudes estúpidas.

Eu não posso pedir desculpas, porque sei que não vou mudar. Não da pra fugir dessa fuga que é minha vida. Dentro de mim tem outro eu, e um foge do outro... Enquanto o primeiro foge do segundo ele se esconde nas pessoas que eu amo e o segundo, enquanto foge do primeiro, se esconde nas pessoas que me odeiam. Confuso. Meus sentimentos se escondem nas pessoas que eu amo, mas eles fogem da minha razão, que se esconde nas pessoas que me odeiam... E nessa fuga mútua, eu me tornei um homem de dois pesos e duas medidas. Meus amores não sabem o quão racional posso ser, meus inimigos não sabem o quão sentimental eu sou. Não lido com ambos e ainda consigo uma grande dose de culpa. Consegui transformar amor e ódio na mesma coisa... no mesmo veneno que me mantém vivo.

E a fumaça do meu cigarro toma forma. Não sei se por ironia, acaso, azar, álcool, delírio ou destino, mas tudo o que vejo na mancha cinza que saiu de mim é o seu rosto. Mas passa, quase como imaginação, como a fumaça que está no ar, como você na minha vida. Você veio quase como um cigarro. Encheu meu corpo de prazer, me sufocou e saiu da minha vida... deixando apenas as lembranças ruins que intoxicam meu sangue e minha mente, mas como um bom fumante, eu sempre quero outro cigarro. Mas isso passa, é só imaginação.

Quisera eu viver nesse mundo imaginário dos meus textos, onde toda dor é bonita e gratificada. Nessa fria realidade de julho (maldito inverno que congelou minha alma) a dor não é bonita, ela apenas dói e eu só posso sentir. Eu não aprendi nada com minhas vidas passadas e nem com o passado de quem tanto me inspira. Lispector, Meireles, Pessoa, Baudelaire, Sartre, Morrison, Smith... vocês acompanharam silenciosamente minha vida e eu não soube tirar nada disso. Mas o mundo imaginário continua aí e nesse mundo eu me sento a mesa com todos vocês, pra compartilhar estórias e bebidas, só assim a dor passa. Mas na fantasia do meu quarto a dor está estampada nas paredes


Talvez eu tenha amado demais ou talvez seja apenas mais um maço de cigarros que chega ao fim, agora não há mais nada pra me intoxicar. E além do câncer espiritual, eu sofro também da abstinência. Não, eu não amei demais, eu amei tudo o que podia. Ainda resta muito amor nesse peito fraco. Coisa de poeta, esse sadomasoquismo hollywoodiano que só fica bonito exibido pros outros. Talvez a dor não passe porque ela agora é parte da vida de cada um dos miseráveis que leram essas palavras. Talvez a dor não passe porque suas garras são mais fortes que minha repulsa. Talvez a dor não passe porque eu não a quero longe de mim, apenas pra mostrar pra mim mesmo que tudo o que se sente é eterno. Talvez a dor nem exista. Só amor...

Estou doente, sabe. Não. Eu sou doente, SAIBA. Isso me conforta de uma forma asquerosa. Sou canceriano, logo a culpa nunca será minha, mas sim dos meus problemas. Eu sou um produto dos tiros que tomei durante essa juventude interrompida. “Não importa o que fizeram de nós, mas sim o que nós fazemos do que fizeram de nós” Sartre é um gênio. Pois bem, eu me fiz de vítima, mas eu tenho NOJO (tenho nojo da palavra nojo) dessa piedade humana, tão falsa. O que todos querem é te levantar da merda pra sempre que quiserem te soltar de novo, aí onde você está? Na merda. Mas eu me fiz de vítima (sem mais devaneios), é mais fácil aceitar a dor se ela é livre de culpa. Ser traído dói, ser trocado dói mais ainda, mas ser culpado, meu amigo, isso é quase insuportável pra quem julga ter feito tudo certo sempre.

Então, é lindo ver a vida girando, mesmo que a minha gire sempre em torno do mesmo eixo e pare sempre no mesmo lugar. É lindo rever as minhas musas nessa volta. É lindo assistir nossos momentos mais íntimos que só as minhas músicas sabem traduzir. Mas é triste, porque você só pode olhar, nunca tocar e viver de novo. Eu repito os ciclos com reticências, pra poder repetir mais e mais e mais e mais, porque quando a vida parar eu vou ter que começar a agir.

Eu só acendo outro cigarro e penso: “É bonito ver a vida girando. Bonito e triste.”

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Já que sou

O jeito é ser...

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Eu tentei me livrar de tudo que me incomoda, e descobri que pra isso só precisava de uma noite de sono
Só que aí eu me lembrei que pra isso eu preciso de sono e então a insônia volta a me atacar...
Sabe aquela velha história de que os problemas se acentuam de noite...pois é, tudo bobagem.
A minha teoria é que os problemas se acentuam quando você vê mais problemas dentro deles, uau, que óbvio
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O engraçado é que aparentemente eu não tenho problema nenhum. As coisas estão se encaixando aos poucos na minha vida...eu descobri que não preciso me adaptar aos outros pra viver bem com eles e descobri que não quero viver com grande parte deles....

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Eis o grande drama da vida de um platonista... a aproximação... andei reparando no meu próprio desespero e foi o suficiente pra me deixar desesperado.

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É, bem melhor agora. Me encontrei novamente através de toda a indiferença e da pena que eu posso sentir de alguém, e dessa vez não é de mim mesmo.

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Vontade de matar alguém, não qualquer pessoa, vontade de matar um certo alguém. Não sinto raiva, muito menos ódio, seria bom demais pra ela ^^

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Volto a me machucar. Tenho que parar com essa autoflagelação mental, afinal as pessoas não fazem nada pra me machucar e eu consigo me sentir pior ainda com isso. É muito mais fácil sentir raiva de alguém.

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Uma seção de filosofia transcedental sem nenhuma influência externa. Chegar o mais alto possível é muito fácil, difícil é lidar com a descida.

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_Que descida? Olhe pra você mesmo rapaz, você já está no fundo do poço - Diz a voz irônica do ridiculo
_É bom guardar isso em sua cabeça pra evitar futuros problemas - acrescenta a dura voz da consciencia
_E saiba aonde você quer chegar antes de dar o primeiro passo - diz a sensata razão
Um desenho gravado em pele por cima de uma ferida então se manifesta
_ As vezes o lugar mais alto em que podemos chegar é o chão. Não deixe de lado o que os outros disseram mas lembre-se de que a única coisa que pode ser desequilibrada aqui é você.

E então eu saí pra fumar um cigarro e refletir sobre tudo o que tinha dito pra mim mesmo.

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E varias vezes refleti sobre o ridiculo humano, e varias vezes me lembrei da inconstancia, da depressão, da bipolaridade, dos multriplos transtornos, traumas, dores, medos...vidas...seria enfim a existência do ser que aqui escreve muito mais do que isso?

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ah a alegria, como é doce, efêmera, fraca, forte, amarga e leve. Como passa, vem, para, olha, pensa, fala, age, volta, vai e me deixa enfim, porque eu sou pouco demais pra algo grande demais.

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E o amor, terá entrado na rotina? Ou é a única coisa que mantém esse corpo de pé? Estranho falar mas depois de sexta as coisas ficaram mais simples.

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Ressaca moral, arrependimento de palavras ditas sem ao menos um reflexão mínima

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Eu te odeio, por favor não me deixe

14/11/09

Insanidade

Ultimamente a tristeza tem me tomado as palavras
Essa loucura virou minha loucura
Desfiz os idealismos, reformulei as crenças
Seus sonhos antigos são minha amargura

Hoje, essa insanidade toda não me fascina mais
Mas ainda penso em tudo com saudades
Suas mentiras não machucam como a um tempo atrás
Hoje o que dói são as tuas verdades

domingo, 3 de julho de 2011

Menos Um Ano Me Restou

Mais um ano se passou
E eu não ganhei mais nada
Nem sorriso e nem amor
Só uma página virada

Mais um ano se passou
E eu nem conto o que perdi
Mil pedaços do que sou
Tantos anos que vivi

Mais um ano se passou
E é só um ano a menos
Agora eu vivo o que restou
Sabendo que nos perdemos
Pensando em tudo o que sou
E o que nós dois nunca seremos

sexta-feira, 1 de julho de 2011

À instabilidade das cousas no mundo.

"Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol e na luz, falta a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância."

Gregório de Mattos