sábado, 12 de março de 2022

Viagens Repartidas

Fria lâmina que busca minha pele, 

Sem conceder nem mesmo a torpe despedida,

Quebra o silêncio com meus versos tão fatais,

Doces promessas de alívio e solitude.


Houve um tempo de ternuras e paixões,

Vastas noites em que me desfiz em partes,

Memórias cintilantes deste triste devaneio

- A vida apenas - em sua face mais brutal.


Restas tu, como registro de minha sorte,

O fio de navalha firme, operador deste milagre,

Repartindo minha partida entre os que ficam

Enraivecidos pelo encontro com o destino.


A viagem acabou, minha companheira,

Tu permaneces deste lado, de cruel realidade,

Enquanto rendo-me ao sonho de outra vida.

Já não podes seguir-me ao derradeiro abismo.

domingo, 6 de março de 2022

Sobre as Sombras

Impropérios foram ditos, verdades não foram à tona

E o silêncio fez morada pelas sombras de teu bosque.

Tu partistes a buscar um outro amor que, enfim, enrosque

E deixou apenas eco das poesias que eres dona.


Vasta é a literatura que o teu nome menciona,

Sobre ela... os românticos tem escrito há tanto tempo,

Tal qual musa enfeitiçada, congelada no momento,

Quanto amor há de se achar nos versos que ela coleciona.


Certa vez, disse-me um mago, que tu havia de voltar

E reocupar os sonhos dos poetas ainda a vir,

Desde então olho as janelas na esperança de surgir

Qualquer sinal que indique que estás prestes a chegar.


Sobram muitas palavras, que são só pra disfarçar 

A ilusão que vou nutrindo na espera de um romance.

Sei que tu ergue-se ao céu e não há sombra que te alcance,

E nós, poetas, somos sombras, sem tua luz pra iluminar.