quinta-feira, 22 de março de 2018

Distimia

Eu conheço bem os sons das madrugadas
E a imensidão das ruas que se estendem pela frente
Não saber os caminhos, mas andar indiferente
Revendo o amanhecer entre janelas e fachadas

Eu entendo bem de qualquer solidão
E dessa sensação de já não fazer parte
Enquanto a vida segue, minha alma se reparte
E se perde silenciosa em meio a multidão

Eu sei bem como é já não ter mais coragem
E aceitar o pouco como aquilo que te cabe
Repetindo as dores que todo mundo aqui já sabe
Pra se jogar pra baixo só por vício de linguagem

Eu conheço bem o sabor do pesadelo
E a incapacidade de lembrar do irreal
Acordar assustado e achar tudo normal
Me afastar do teu rosto só por querer revê-lo

Entendo bem da falsidade e dos ruídos abstratos
E do vai e vem nas ruas que nunca nos levou a nada
Replico minhas medidas atrás de soluções erradas
Aos poucos todos se esquecem dos verdadeiros fatos

Eu sei bem como é viver no meio termo
Entre a vontade de seguir e o impulso à desistência
Desgasto o entusiasmo preservando a coerência
Transformo meu entorno no mais profundo ermo

Me reconheço no descaso e acho bela a depressão
E qualquer erro e qualquer falha que caiba à humanidade
Também tenho ciência que tudo isso é só vaidade
Melancolia é só uma fuga de toda a frustração

E vou compreendendo o que já não é tão óbvio
Por medo de tanto silêncio falo com minha própria mente
E aos poucos vejo tudo de uma forma diferente
Encontro algum prazer em meio a falta de propósito