quarta-feira, 25 de março de 2020

Só conheço o dissabor e a intemperança, como se o crepúsculo durasse para sempre

Só conheço o dissabor e a intemperança, como se o crepúsculo durasse para sempre. Nesta fria madrugada, tuas palavras são como todas as estrelas, brilham, mesmo que distantes, guiando a nave que carrega meu destino, como se tudo que eu conhecesse fosse o teu norte. Mas o Senhor nos concedeu a quarta-feira, como outra chance de viver um amor - esse amor de serafins - gravado em fogo da tua pele, fruto de ardores e desejos.

Somos como duas sombras, vivendo apenas quando nossos corpos se encontram sob o sol, espectros tristes das pessoas que somos. Mas ainda resta a cria amada: o doce amor de uma semana, que parece não ser parte desse mundo. Me sento à calçada, o que hei de fazer? Sou poeta apenas por ofício, mas, aos olhos de nosso Senhor, sou só mais um amante, seguindo só pela estrada da saudade, essa estrada que, não obstante as direções que escolhamos, só me leva pra mais longe de ti, Monelle. Não se derrames em vão, sou tudo o que quiser que seja, mas não posso ser o mar, que sorveria as tuas lágrimas de sal e solidão.

Não ceda à angústia, não entregue a tua doçura por desalento e desespero. Somos dois desajustados que aos poucos têm se ajustado melhor, dois estrangeiros na terra dos simplórios, ainda nos resta o objetivo derradeiro: ser somente amor. Ofélia nenhuma saberias dizer-lhe como é ser objeto de tamanho sentimento. Se guarde na torre, o mundo lá fora jamais te mereceu.

Atravessando a cerração e violência, logo nos encontraremos.

Ernesto Penaforte


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