sexta-feira, 20 de março de 2020

Monelle #2

Doce Monelle,

Quem dera ser o pássaro que me descreves em tua mensagem. Quem dera ter em mim estas asas e estas cores que, por doce desatino, tuas mãos pintam em mim. Se pudesse romper as barreiras destes muros, estaria agora em tua janela, cantando-lhe os versos que escrevo ininterruptamente sobre estes teus olhos tão profundos, tão intensos, a ler em minhas palavras este amor que floresce, mesmo sem o sol. Se o Senhor me desse asas, te levaria pra bem longe, onde nem mesmo a bela Vênus nos perscrutaria, e assim seríamos um só. Mas sigo aqui, engaiolado no tormento de tua ausência, desejando o teu calor e tua luz, que brilha forte, mesmo na obscuridade de tua essência.

São tristes as conjecturas. O começo de nosso caso é frio e mórbido, como se fosse esculpido em gelo, por estes teus finos dedos. Como se fosse pintado em cores frias pelos teus negros olhos. Como se fosse, realmente, o fruto dos males de Pandora. Mas nada disso diz sobre o nosso fim, que se estende pela vida afora. A obra do demiurgo tem nossos nomes no projeto, sei que somos parte de um destino, muito maior do que o perjúrio, muito maior do que a distância, muito maior do que o amor em si, mas nunca, de forma alguma, maior do que este sentimento que me toma o peito e as vias aéreas - como o vírus que se propaga lá fora - e morre, serenamente, em papel branco.

Em ti encontro forças para atravessar estas tristezas, tu és o lume das minhas madrugadas. A própria lua sente inveja, mas o que posso fazer? Estou tomado, cada vez mais, por tua presença que, ironicamente, não se faz presente em carne, mas que, como o próprio mármore, é matéria prima desta obra tão bela que é o nosso desejo mútuo. Não se afastes do objetivo primário, meus beijos estão guardados para ti.

De seu bardo,
Penaforte apaixonado

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