quinta-feira, 19 de março de 2020

Ernesto #1

Ernesto,

É só eu pensar em te escrever que as trovoadas anunciam a água a cair, é com o cheiro de chuva e tabaco que eu registro aqui pra você meus pensamentos, a sentir cheiro que eu imagino que seja seu mas que não posso por vivência afirmar. E é assim com quase tudo sobre você, sua imagem é palavra e delírio, translúcida, etérea, é muito mais de mim do que de fato de você e se confunde entre a sua explícita doçura e minha amargura antecipada. Me condeno por tanto delirar mas já estou cativa, e tudo o que você me dá é matéria de sonho, que me faz ir longe em ruas que não andei, de olhos fechados a procurar e atormentada por uma sensação firme molhada e dura de morder a fruta que não colhi, e sem colocar os pés na grama sentir o sol e a brisa que imagino ser o seu abraço. Você fala de tempo, mas dele já fui malabarista, confesso que sorrio ao desalento da sua pressa, sei que quando eu fechar os olhos lá você vai estar, sou cruel em rir de seu estado, mas confesso que pra mim o rosto desse livro que conta a nossa história, é tão interessante quanto o início, meio e fim.


Monelle

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