domingo, 22 de março de 2020

Ernesto #2

Ernesto,
Você se veste de Orfeu em seus sonhos, indo procurar no inferno um alguém para chamar de sua doce donzela. Não vou negar que suas palavras e sua melodia me levam a arrepios, lembrança de que ainda vivo, respiro e sinto. Mas mesmo viva e sentindo o sangue púrpura jorrando em minhas entranhas, não posso afirmar que conclua sua aventura satisfeito, pois temo que após enfrentar a angústia, moléstia e o tempo, poderá descepionar-se ao encontrar em meu seio apenas invólucro do que já foi e não mais é, e não cantará mais. Não sei se olhará ou não para trás, mas pelo menos fui sincera escrevendo para ti de minha prisão rodeada de demônios. 

Monelle

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