sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Insone e o Covarde Pt. 2

Segundo Capítulo - A Covardia do Covarde

Ele afastou um pouco as cortinas e deu uma olhada na vida lá fora. A luz do dia iluminou um pouco aquele quarto que a muito estava completamente escuro. A quase quatro meses ele estava trancado alí. O covarde voltou pra cama, a vida não era pra ele. Adormeceu novamente.

Acordou poucas horas depois completamente suado, tivera um pesadelo. No sonho ele abria a porta do quarto, saia pra vida lá fora e então o sol queimava sua cara. Aterrorizante, mas não o suficiente pra lhe tirar a vontade de permanecer dormindo, pois sono ele não tinha havia tempo. Virou pro lado e fechou os olhos, mentalizou palavras que o fizessem dormir. "Sono". "Sonhos". "Dormir". Seu cérebro cedeu depois de alguns minutos.

O telefone tocou e o acordou novamente. "Que inferno". Desligou, não tinha nada pra conversar com ninguém. Aliás, tinha, mas lhe faltava a coragem de olhar fundo nos olhos de alguém e dizer o que devia ser dito. Não se considerava covarde, apenas não via o porque de causar intrigas, então ficava calado. No mais, ele sempre estava errado mesmo... era o que o irmão vivia lhe dizendo.

Além da covardia havia também aquele descaso, aquela arrogância. Ele não se julgava capaz de ligar com complicações, mas também não queria lidar com algo que estivesse abaixo de sua capacidade. Adorava desafios, mas só desafios que ele sabia a resposta. Também nunca teve foco. Nunca soube ao certo o que fazer, nem sabia o que queria pra ser sincero, e sempre que tentava começar algo lembrava que não tinha capacidade. Ah, como era fraco.

Adormeceu, não tinha coragem o suficiente pra autocrítica rotineira. Não tinha coragem de enxergar os próprios defeitos. Sempre se sentiu o injustiçado, ninguém nunca conseguia ver sua qualidades. Não conseguia entender que ninguém via o que ele tinha de bom porque ele não tinha coragem de se expor. Algumas vezes se expusera, com entrelinhas... e metáforas... e palavras pela metade, mas tinha se exposto, e depois de algumas verdades pela metade, que obviamente ninguém entendia, ele dizia já ter se mostrado demais e mudava de assunto. Tinha fama de misterioso, mas nunca teve um segredo.

Era covarde desde muito jovem. Lembrava-se de quando ainda lidava com o medo...de quando era só medo. Afinal, o medo é bom, nos move, nos incentiva e nos faz lutar pra sobreviver. Ele agora tinha que lidar com o pânico. O pânico era o contrário do medo, só nos faz ficar parados, sem saber como agir ou reagir e assim vamos aos poucos nos apagando na angústia.

Acordou, pegou o telefone, discou os números. "Alô" seu irmão atendeu... o que ele devia falar? O que? Gaguejou ao telefone, o irmão entendeu quem era e imaginou do que se tratava. "Tudo bem, estou indo aí te fazer uma visita breve".

Visitas?! A quanto tempo não abria a porta de casa... Foi procurar as chaves, talvez fosse um passo para mudar a vida. Abrir a porta, a boca, a mente e o coração. Quem sabe a coragem não entra por si só?

Estava errado, como sempre...

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