quinta-feira, 6 de abril de 2017

Definitivamente Para Você

Tenho muita coisa pra dizer pra alguém. Não serve se for despejado aqui, pra ser processado e mutilado. Não serve se for pra morrer em mais um verso ou se for pra morrer comigo. Preciso que alguém me olhe nos olhos e entenda de uma vez por toda a verdade dos últimos dias. Eu pago a cerveja.

Preciso que alguém me carregue junto pra outro tipo de amanhã, porque já está muito difícil repetir o dia de hoje. A programação dessa TV vai se repetindo para sempre ou será que eu nunca vivi outro momento que não fosse a última meia hora? Deve ser a décima vez que eu acho graça dessa piada, já está soando como um baixo desespero.

Outro dia a casa estava cheia e eu estava vazio, mas a média bastou pra garantir a diversão. Aí veio outro dia que a casa estava vazia, mas a piscina estava limpa e os meus pensamentos também, até o céu parecia mais baixo e a viagem foi muito mais curta. Então vai chegar um dia que tudo vai ser só vazio, porque eu nunca suportaria estar completamente cheio.

Dia após dia eu venho vivendo essa história, praticamente sem fundamento, porque tem muita inércia em mim. É muito sentimento pra ter mais sentimento agora, por que é que eu me deixo apaixonar? Eu podia apreciar a companhia sem o ensejo de nutrir qualquer desejo, mas gente fascinante é avassaladora pro meu coração, e sendo assim é melhor enfeitar este jardim, porque eu nem tenho me cuidado tanto.

É isso mesmo auditório, nessa madrugada imensa eu estou aqui fazendo cálculos pra ver se justifica dizer que estou encantado por alguém. Eu não tenho coragem e nem idade pra gritar paixões, tem consequências demais na minha mão. Definitivamente eu fui tomado de repente por alguma coisa forte demais, por alguém forte demais. Eu nunca resistiria.

Aí eu relembro tudo o que eu já vivi, dava até pra escrever um livro. Será que vale a pena abrir a quinta-feira de braços abertos? Porque eu não quero riscar outro nome desse caderno e dizer que as baladas foram escritas pra mulher nenhuma. Eu alimento essa vontade, como alimentei várias outras. Eu a quero, como já quis várias outras. Mas dessa vez é forte demais pra só ignorar, eu reconheço não me reconhecer, mas entendo bem do quanto eu sou capaz de amar.

E eu vou me perguntar mais uma vez sobre minha a história, romantizando cada desromance desse passado meio vasto e meio vago, que eu nem sei se me treinou ou me abandonou aqui, onde as coisas são muito mais difíceis, porque os sentimentos foram embora, mais ficaram os calos. Os meus dedos agora estão mais grossos, não dá pra deixar escorrer mais um pouco da minha dedicação por alguém que só devolverá sorrisos, eu preciso de mais apreço por mim mesmo. Preciso de cuidado.

Quando foi que a minha vida se tornou essa maré de sentimentos e tensão?
Alguém há um tempo disse que amor tinha que ser uma coisa boa.
Essa pessoa tinha razão

E quem é que é a dona da poesia?
Que carrega em si o peso de ser inspiração
E sufoca para si toda reclamação
Pra esperar mais versos outro dia

E quem é que é a dona destes sonetos?
E me traz de volta mais cedo pra casa
Já é a sua vez ou é a minha mesmo?
Já é a hora disso ou você ainda atrasa?

Não dá pra usar o mesmo molde pra modelar a gente
Não dá pra vacilar e apertar os passos
Não dá pra me enlaçar e estreitar os laços
Não, dessa vez tudo é pra ser diferente

Eu arrisco, como não arriscaria?
Eu jamais a riscaria tão prematuramente
Se é ela que preenche todo o tempo a minha mente
É só olhar pra mim e ver que eu arriscaria

Mas não dá pra ser assim, preciso de contexto
Eu não sou de me entregar assim tão facilmente
Sendo o fingidor que finge que deveras sente
A dor e o desamor que descreve em qualquer texto

A quem eu vou enganar? Se ela me chama eu devo ir
Já estou me machucando pela antecipação do atrito
Então talvez aceite o impossível e assim limito
Registrar neste caderno tudo o que eu puder sentir

Mas ela já me tem, não dá mais pra negar
Eu deveria estar agora com o pensamento leve
E estou pensando agora que quero que ela me leve
E faça com que todo sentimento possa rimar

São muitas palavras sobre coisas parecidas
E o quão parecidas essas coisas realmente são?
Se eu pareço me repetir talvez eu esteja repetindo a entrega

Mas nunca a mesma sensação.

Parece que eu vivo pra amar outras pessoas, talvez seja um bom motivo pra viver, afinal. Tem muita coisa que me destrói por dentro, mas essa é a única que renova sempre.

Atualizo aqui o meu escrito, pra assinar seu nome.
Que vergonha de escrever essas coisas pra você
Então não se assuste se eu desaparecer
Mas pode ter certeza que isso aqui não some.

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