quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Dia Dos Olhos

Enquanto todos os olhos passavam por aquele botequim, ele ia contra a maré, fazendo questão de observar cada um dos observadores. Ainda havia um pouco de uísque em seu copo e meio cigarro queimando no cinzeiro. A fumaça que subia dava um ar sombrio ao seu rosto, aquele ar misterioso que ele sempre buscou.

Nada roubava-lhe a atenção, nada tirava-lhe os olhos de outros olhos. Nenhum olhar era incomum. Nem mesmo as cores tinham brilho através daquela nuvem que saia devagar da sua boca. Nada. Nada. Nada... Até aquele olhar passar. Ele acordou, de um longo sono que era a sua introspecção. Precisava encontrar aqueles olhos. Uma rápida passada de olhos no ambiente. Ali estava, aquele par de olhos penetrantes, que o liam como se ele fosse um grande livro aberto, que o devoravam, sim, essa era a palavra, devoravam, como se esfinges. Era preciso desvendá-los, era preciso conhecê-los, descobrir o que guardavam por trás de tanto brilho, tanta cor.

Um leve toque em seu ombro e a fumaça se desfez, como um passe de mágica, era o garçom que lhe perguntava "mais uma dose?", "Por que não?" ele respondeu. O cigarro se apagara e agora não passava de uma pilha de cinzas, mortas. Seu sonho se desfez como uma dose de uísque chegando ao fim - deixando aquele gosto na boca, aquela vontade de mais - e os olhos sumiram como um cigarro no vento, em meio a toda a fumaça, se destruindo devagar.

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