Havia dois copos postos na mesa.
Um bem vazio, sem cheiro, sem cor
Um transbordando, vermelho licor
Repousava assim a estranha beleza
Triste, o licor, aos poucos pingava
Atormentava, e sempre silenciava
O copo a seu lado sofria sozinho
transpirava, lamentando o vazio
E o licor sumiu, derramado em tristezas
Guardando consigo algumas certezas
Sentia que esvaziando todo o sofrimento
Se embriagaria aos poucos de esquecimento
O copo vazio, deixado sempre de lado
Assistia a cena, calado, desesperado
Vendo todo o desperdício de seu desejo
Sorveu assim o licor, como num beijo
Mas não há tormenta que cesse sem estrago
E tanto licor começara enfim a ficar amargo
O copo, agora cheio, tentou se libertar
E aos poucos, tão triste, pôs-se a transbordar
O copo que agora repousava vazio
Sentia em seu canto um terrível frio
Sufocado por tanto espaço, pôs-se a beber
Cada gota que viesse a aparecer
E assim se firmou a dança dos copos
Enquanto um assistia o sofrimento do outro
O outro sofria calado em seu canto
E quando os sentimentos trocavam de corpos
O outro sofria igualmente aos poucos
E o derramava-se de novo em pranto
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