sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Intransigente

Levanta o sol e bate a cara do sujeito

_Paciência, meu bom Deus, acorda a ovelha desgarrada do rebanho para que ela se aproxime cada vez mais do lobo. Responde a prece do pobre que bebeu demais pagando menos. Responde o grito do desesperado. Liberdade não me vale nada pra morrer de frio. Toma de volta o verbo, refaz a complexidade de minha alma. 

Tropeça

_Derruba o servo, aproxima-o do inferno. Serve o vinho de sangue de seu filho, mas esquece o filho cujo o sangue é puro álcool, não morrerei pelos pecados de ninguém, mas aceito descansar em paz caso os meus sejam perdoados. O chão é seu, Majestade, deixa-me viver na parte escura em teu jardim. Que venha a chuva, apaga o inferno que causamos.

Soluça

_Louvar a quem esquece a própria cria em sete dias. Não há menção a mim em nenhum dos evangelhos, quem ousaria dizer que faço parte do seu reino? Abre as portas pro povo, Deus misericordioso, mas continua lá de longe no seu trono reluzente. Assistir de longe ao ritual feito em seu favor, aproxima-se da realidade cotidiana dos teus servos.

Engole

_A seco. Cadê o pão de carne humana apodrecida lá na cruz? Devoro o irmão, mas o faço por amor ao pai. Me incumbe do serviço que nenhum outro filho quis tomar, Senhor, me incumbe do serviço de ser ninguém. Ignora-me como eles ignoram, esquece-me como eles esquecem, apaga-me como eles apagam, pois tu pode fazê-lo sem pesar nenhum, dá exemplo aos filhos que tem a tarefa de serem maiores, serem exemplos, serem quase você, só não deixa que eles pensem que são você

Cai

_Caído como seus anjos, seria eu superior? Declara-me o inimigo, para que eu enfim seja parte da história de sua santidade. Mas explica pro teu filho: São os santos outros deuses? São os santos o que além de pobres como eu. Abre o processo seletivo, Senhor, candidato-me a mártir se na canonização tiver banquete. O que não tive em vida, provenha-me na morte

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