terça-feira, 29 de novembro de 2016

Primavera

Deixa eu me deitar na terra e ser parte disso tudo
E ter em mim a empatia de tudo que aqui vive
Deixa eu ter a consciência desse enorme e absurdo
Instante de clarividência de um mundo que nunca tive

Deixa eu me rasgar nas folhas secas, me queimar, virar fumaça
E estar em meio a tudo que preenche a sua vida
E entre o certo e o duvidoso ser a linha que limita
Entre o que já foi e o que vier, a certeza de que tudo passa

Que hoje eu quero estar do outro lado do que enxergo
Se me ergo e me refaço como a própria primavera
E me misturar à terra, ao ar, à agua, ao universo
E ser nada daquilo que qualquer pessoa espera

Deixa eu escorrer dos poros o que define minha essência
Pra pingar em meio às flores e nutrir a insanidade
Que os deuses me provenham qualquer outra realidade
Já não quero carregar nos ombros minha consciência

E se nada me bastar então aceito ter o nada
E se o nada me assustar, me ilumino no escuro
E se o escuro aprofundar-se é a minha mente já cansada
Gritando que a metafísica é apenas um murmúrio

Por que é que eu me preocupo com o que fica para trás
Se o que vem pela frente é que me abala o chão?
Me desfiz em tantos versos que vocês não lembrarão
Me eternizo nessa obra que jamais esquecerás

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