sábado, 16 de julho de 2011

Desabafo

É bonito ver a vida girando. Bonito e triste.
É engraçado ver como as coisas se repetem na minha vida e como eu torno as coisas repetitivas para as pessoas que estão ao meu redor, eu juro que não posso evitar, por mais que eu queira (e acreditem, eu quero muito) viver coisas novas. Eu tento, diabos, eu tento muito mesmo, eu apaguei tanta gente da minha vida, só pra correr o risco de aprender a viver sem essas pessoas e conseqüentemente, corri o risco de viver sem ninguém, porque ninguém, NINGUÉM, quer viver nesse limite entre necessário e dispensável, ninguém precisa do meu limite diário de amor e ódio. Eu sou o limite, embora não tenha limites nas minhas atitudes estúpidas.

Eu não posso pedir desculpas, porque sei que não vou mudar. Não da pra fugir dessa fuga que é minha vida. Dentro de mim tem outro eu, e um foge do outro... Enquanto o primeiro foge do segundo ele se esconde nas pessoas que eu amo e o segundo, enquanto foge do primeiro, se esconde nas pessoas que me odeiam. Confuso. Meus sentimentos se escondem nas pessoas que eu amo, mas eles fogem da minha razão, que se esconde nas pessoas que me odeiam... E nessa fuga mútua, eu me tornei um homem de dois pesos e duas medidas. Meus amores não sabem o quão racional posso ser, meus inimigos não sabem o quão sentimental eu sou. Não lido com ambos e ainda consigo uma grande dose de culpa. Consegui transformar amor e ódio na mesma coisa... no mesmo veneno que me mantém vivo.

E a fumaça do meu cigarro toma forma. Não sei se por ironia, acaso, azar, álcool, delírio ou destino, mas tudo o que vejo na mancha cinza que saiu de mim é o seu rosto. Mas passa, quase como imaginação, como a fumaça que está no ar, como você na minha vida. Você veio quase como um cigarro. Encheu meu corpo de prazer, me sufocou e saiu da minha vida... deixando apenas as lembranças ruins que intoxicam meu sangue e minha mente, mas como um bom fumante, eu sempre quero outro cigarro. Mas isso passa, é só imaginação.

Quisera eu viver nesse mundo imaginário dos meus textos, onde toda dor é bonita e gratificada. Nessa fria realidade de julho (maldito inverno que congelou minha alma) a dor não é bonita, ela apenas dói e eu só posso sentir. Eu não aprendi nada com minhas vidas passadas e nem com o passado de quem tanto me inspira. Lispector, Meireles, Pessoa, Baudelaire, Sartre, Morrison, Smith... vocês acompanharam silenciosamente minha vida e eu não soube tirar nada disso. Mas o mundo imaginário continua aí e nesse mundo eu me sento a mesa com todos vocês, pra compartilhar estórias e bebidas, só assim a dor passa. Mas na fantasia do meu quarto a dor está estampada nas paredes


Talvez eu tenha amado demais ou talvez seja apenas mais um maço de cigarros que chega ao fim, agora não há mais nada pra me intoxicar. E além do câncer espiritual, eu sofro também da abstinência. Não, eu não amei demais, eu amei tudo o que podia. Ainda resta muito amor nesse peito fraco. Coisa de poeta, esse sadomasoquismo hollywoodiano que só fica bonito exibido pros outros. Talvez a dor não passe porque ela agora é parte da vida de cada um dos miseráveis que leram essas palavras. Talvez a dor não passe porque suas garras são mais fortes que minha repulsa. Talvez a dor não passe porque eu não a quero longe de mim, apenas pra mostrar pra mim mesmo que tudo o que se sente é eterno. Talvez a dor nem exista. Só amor...

Estou doente, sabe. Não. Eu sou doente, SAIBA. Isso me conforta de uma forma asquerosa. Sou canceriano, logo a culpa nunca será minha, mas sim dos meus problemas. Eu sou um produto dos tiros que tomei durante essa juventude interrompida. “Não importa o que fizeram de nós, mas sim o que nós fazemos do que fizeram de nós” Sartre é um gênio. Pois bem, eu me fiz de vítima, mas eu tenho NOJO (tenho nojo da palavra nojo) dessa piedade humana, tão falsa. O que todos querem é te levantar da merda pra sempre que quiserem te soltar de novo, aí onde você está? Na merda. Mas eu me fiz de vítima (sem mais devaneios), é mais fácil aceitar a dor se ela é livre de culpa. Ser traído dói, ser trocado dói mais ainda, mas ser culpado, meu amigo, isso é quase insuportável pra quem julga ter feito tudo certo sempre.

Então, é lindo ver a vida girando, mesmo que a minha gire sempre em torno do mesmo eixo e pare sempre no mesmo lugar. É lindo rever as minhas musas nessa volta. É lindo assistir nossos momentos mais íntimos que só as minhas músicas sabem traduzir. Mas é triste, porque você só pode olhar, nunca tocar e viver de novo. Eu repito os ciclos com reticências, pra poder repetir mais e mais e mais e mais, porque quando a vida parar eu vou ter que começar a agir.

Eu só acendo outro cigarro e penso: “É bonito ver a vida girando. Bonito e triste.”

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