quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Cometa

Posto que sou chama, digo que queimo frio,

Já não aqueço mais aos que procuram meu abrigo,

Tremulo ao vento gélido da ventana semiaberta,

Semiaberta como eu, fui e tenho sido.


Posto que sou rocha, digo-me oco por dentro,

Já não sustento mais os alicerces desta vida,

Duro por fora e por dentro, pra guardar não sei o que,

Erodindo, solitário, às camadas de influência.


Posto ser o que me mostro, digo que não valho a pena,

Pois me mostro intermitente, como um surto de minha alma,

Com o intento de frisar que sou eu sempre capaz,

Capaz de decorar a minha fala e movimento.


Posto que sou nada disso, devo ser coisa nenhuma,

Devo ser como um cometa, passo pra deixar registro,

Então adentro a noite extensa, o universo e o vazio,

Para todos que ficaram morro no esquecimento.


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