sexta-feira, 3 de abril de 2020

Não posso afirmar que esta não é a mesma tempestade que caía no dia em que nos conhecemos,

Monelle,

Não posso afirmar que esta não é a mesma tempestade que caía no dia em que nos conhecemos, mas garanto que meus sentimentos são os mesmos, este coração tempestuoso segue relampeando ao ouvir teu nome e desaguando por tua ausência. Não posso afirmar que todas essas madrugadas não foram a mesma madrugada, mas posso garantir que todas elas foram tuas e reconhecer, serenamente, que foram estes os únicos momentos em que vivi, e não apenas existi como um coitado, que se lamenta enquanto assiste o movimento do alto das casas vizinhas.

Sei como é difícil sofrer em solidão. Passo os dias prometendo calar-me e, mesmo diante da revolta, não sair desesperado à tua procura. Sei que é difícil, pois é difícil para mim também. Dói-me não habitar, conscientemente, os mesmos sonhos que sonhas à noite, mas hei de amansar as tempestades de meus olhos, pra seguir minha vigília... Na última noite as sombras chegaram mais perto.

Pelas noites tenho visto cada coisa, meu amor, as vezes penso que seria melhor orar para que o Senhor nos leve, pois não sei se existe proteção contra a perversão humana. Os fanáticos seguem festejando, agora mesmo posso ouvir o som de suas vozes pelas ruas. Enquanto escrevo estas palavras febris, sinto calor e medo. Será que o mundo realmente merece ser salvo? Apenas agradeço por ter encontrado a ti, antes que a morte me encontrasse, mesmo que apenas nossas almas saboreiem o romance. Meu corpo trêmulo se encolhe debilmente, as criaturas da noite estão aqui...

Rezarei, mais uma vez, ao pé da cama. Meu terço velho de tão usado está quente ou talvez seja o meu desejo ou talvez seja só a febre...  Não sei. Gritei seu nome bem forte em minha mente, que é pra espantar todos os males que me acossam e ver se assim eu durmo, em paz, só dessa vez. Todo delírio vai passar amanhã, Monelle, só preciso dormir.

Penaforte

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