terça-feira, 28 de julho de 2015

Guia Básico

Pelas linhas mal traçadas de meus passos displicentes, eu proponho aqui o plano de meu futuro em sutilezas. Eu sei que sou capaz. Ergo-me como senhor de minha inconstância, gravando assim no mais proeminente ofício que me coube o desfecho da mais antiga novela: Nunca haverá o felizes para sempre.

Amanhã eu desperto e me sinto renovado. Me atrevo mais um pouco e me faço de guerreiro na guerra diária de ser alguém. Luto por coisas que desconheço, assim como tenho lutado ao lado de pessoas que talvez não estejam realmente ali. Levanto e inicio a epopeia do demiurgo dos ciclos sociais. Hei de criar outro universo para que a união seja efetiva, afinal de contas nesse aqui já começamos derrotados.

Satisfaço-me de minha obra e deixo encher-me de vaidades vãs. O monumento de minha vida é só o que é imensamente inútil. Leio o que só eu entendo e acho graça de minha vida. Já não sofro por passado e aceito o desafio de não ter desafios. Consegui o que queria!

Lentamente a monotonia me corrói. Sinto falta de pensar demais nas soluções para os mais diversos pormenores que a princípio são quimeras. Parto-me. Já não aguento mais a vazies dos meus dias sem torturas. Preciso voltar a me queixar, afinal a poesia tem sua essência no infortúnio e o meu deve ser o maior. Isso deve bastar para um domingo.

Assumo que já não tenho controle do monstro que criei. Disfarço o desespero em um riso seco e sem porquê. Teatralmente entrei em cena, mas parece que o público não captou. Desço as cortinas e me guardo no mais profundo vitimismo, aqui do alto desse pedestal de martírio nada pode me atingir. Olha o que eu faço por vocês.

Canso-me e as coisas perdem graça. Ficam as dívidas, minimizadas por um toque de descaso. Volto-me ao mais antigo passatempo: suicídios controlados. Rejeito primeiramente o corpo, posteriormente a alma, de repente nem sei mais quem sou. Matei-me novamente.

Tal qual clichê do ser humano reergo-me para o retorno. A continuação dessa película terá de certo o mesmo fim.

Afogo as inverdades nas palavras. Percebo que sou inútil e sempre serei mais. Afinal que diferença faz a poesia ou a prosa? Serei sempre aquele que escreve para ninguém, canta para ninguém, atua para ninguém e trabalha para os outros. Aceito a condição de ser humilhado diariamente, apenas recheie minhas possibilidades com os horizontes que me cercam. Sei onde vou me matar aos poucos em qualquer outro amanhã.

Pelas linhas mal traçadas  de meus passos displicentes, eu proponho aqui o plano de meu futuro em sutilezas. Eu sei que sou capaz. Ergo-me como senhor de minha inconstância, gravando assim no mais proeminente ofício que me coube o desfecho da mais antiga novela: Nunca haverá o felizes para sempre.

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