O resgate não veio
E tu, ao relento desfez-se,
Sem contentamento vê-se
E choras ao vento que passa
Por horas e horas a fio.
Grossas camadas sobre a pele,
As frustrações te endurecem,
As tentações te apetecem,
E as obsessões todas somadas
Velam por tua desesperança.
Não resta-lhe muito,
Tens teus meios e limites,
Tens receios e palpites,
E os devaneios pobres
Que nutres em hipóteses vãs.
Quisera erguer-se belo
Em um pedestal edificado,
Ser tu cristal bem lapidado,
E transitar livre entre os planos
Que ainda não projetara.
O silêncio coroa a distância
Entre tua pessoa e a realidade
E a vida ressoa em maldade
Quando tudo que ouves
Diz nada de ti.
Mas o resgate nunca veio
E tu percebe-se só no boulevard,
Entre seu dó e a força pra mudar,
Em um paletó que não lhe cabe,
Afinal, tua dor expande-se além de ti.
E, já bem tarde, vês que o tempo passa
E tudo tem passado em tua frente,
Tudo tem passado e tem presente,
Mas és tu quem mostrará ao mundo
A novidade que ainda serás.
O futuro reserva a glória e o esquecimento,
Venenos letais que dispõe-se em doses idênticas,
Aguardando apenas teu movimento
De excesso ou ausência,
No mais arriscado dos jogos:
A vida