Agradeço pelas palavras doces, mas não as quero,
Nem quero ter de ti qualquer lembrança, nem destas vagas horas que passamos juntos
Entre semáforos e sinais (nas primeiras gotas da tempestade, que ainda cairia)
Displicentemente costurando carros na Avenida do Contorno,
Entre uma parada e outra dessa vida que julgávamos levar
E, pouco a pouco, nos levou ao destino que temíamos
(Mas tu sabias, querida, tu já sabias...)
Nem mesmo quero recordar da voz erguida e do silêncio que abateu-se sobre nós
Nem de quando já não podia mais conduzir este acidente, anunciado e postergado,
Miragem embutida artificialmente em todas as esquinas e pontos de ônibus
Retratando em tons mais cômicos as tragédias que viveríamos,
E - ainda assim - foi tudo em vão.
Agradeço os gestos todos, até mesmo os de barbárie e hostilidade,
Afinal, todos serão anulados pelo mais refinado aço
Desta vontade resoluta que defendes
(e que, a fundo, nada diz de quem tu és).