quinta-feira, 17 de julho de 2025

Vida Vã

Venho corrigir um erro antigo
E impor limites à tua descompostura.
Chega a noite e tu rende-se ao perigo
À selvagem e inconstante forma pura.

Tu crês que sempre podes mais,
Mesmo que tudo em ti lhe peça menos.
Sei que amas todos os venenos
E já nem pensas que os danos são reais.

Mas afirmo, tudo em ti decai,
Enquanto, louco, tu festejas outro dia
E morre um pouco ao levantar-se de manhã.
Essas feridas mostram o corpo que lhe trai
E só lamentos hoje soam de quem ria.
Até quando vais viver a vida vã?

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Reconstrução Romântica

Chega dessa história
De dar escolha ao coração
Depois sofrer sem opção
De incompetência inglória.

Tu és músculo, daqui em diante
Que, de obediente serventia,
Nunca questiona minha guia
E cega-se ao que é importante.

O corpo estúpido e carente
Deseja o pulso e luta debilmente
Por qualquer traço de ilusão brilhante
Mas eu, agora pérfido tirano,
Já não recaio mais no velho engano
E todo sentimento é só um instante.

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Calmamente

                                                                                              Tuas iniciais aqui.


Um dia tu deixastes claro que 
Em minha vida não dava mais.
Teus apontamentos, de profunda coerência,
Desfizeram a mística que julgava haver
Em mim, certamente em mim,
Mas sobretudo neste caso
Criado e repetido entre nós.

Devastada, busquei entre ciências
E ilusões uma resposta capaz de
Suscitar em mim uma outra vida.
A mim não era claro que tudo se 
Muda,
Mesmo que tu, calmamente,
Houvesse mudado tudo em mim.

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Ao vale cinza

Sonhei por noites a fio
A meu lado tua sombra,
Inquieta lembrança de tudo aquilo que tu deixastes,
Ecos do que era, desejos reparados
E em nossa frente o coração do mistério
Será que poderíamos - outra vez -
Romper a dúvida e encontrar felicidade?

Quis gritar,
Tremi de noite, por medo e solidão,
Não sei se acreditei, por um momento sequer,
Que era capaz de atravessar a imensidão
Sem tua luz.

Confesso que caí,
Lancei-me ao fundo de todas as sarjetas,
Já não podia erguer-me
De toda essa sujeira.
Dormi na vala e reconheci
Um lugar que era, enfim, só meu

E em um destes inúmeros pesadelos
Ouvi a voz da musa
Que em incisivo golpe
Rechaçou meu sofrimento
Sua dureza em decreto me dizia
Que essa sombra já havia tirado muito de mim

Então, em segunda parte de infortúnio,
Larguei o conforto de meu poço lúgubre
E assim subi por desesperadas 
Almas que habitavam o caminho.
Não sei dizer quanto tempo se passou.
Cheguei ao topo e vi a paz.

Hoje sou grata.
Selo o sol
E vou correr em campos verdejantes
Sem nunca olhar pra traz
Ao vale cinza.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Prêmios Literários

Nunca ganhei um prêmio literário.
Nem ganhei sequer um prêmio 
ou uma menção honrosa.
Nunca ganhei placa ou estatueta
Nem mesmo fui lembrado por 
minhas grandes qualidades
- que estão aqui ou ao menos dizem-me.

Nunca ganhei um prêmio
Nem me disseram bom poeta.
Nem vi meu nome em meio aos grandes 
que admiro 
Nunca ganhei nada
e penso poder ouví-los rindo de mim
e dos meus blocos de versos.

Ocorre que gosto daquilo que não presta
e dos quadrados postos sobre mesa
postas sobre qualquer coisa
e canto sobre qualquer coisa.
Talvez por isso não tenha ganhado coisa alguma
nem convencido ninguém como bom poeta
mas calha que estou aqui a escrever ainda assim.

E em flor de minhas trinta e três promessas de mudança,
devo dizer que talvez nunca ganhe prêmio algum
e me chateia a chance factual de nunca figurar entre eles
De escrita livre, leve e memorável.
Mas, caso eu ganhe um prêmio,
agradeço apenas a ti
e ao fato de sempre ter gostado daquilo que não presta.