No começo fez-se o laço de armadilha simples
Pra quando teus olhos cruzassem os meus.
E assim, tu, presa de arcanjo torto,
Vistes dois desastres se anunciarem:
O desgosto e o delírio.
No segundo dia foi o poço, a queda livre,
E nós, enfeitiçados pelo sol a pino,
Já não percebíamos mais a ironia detrás,
E aceitamos o encontro
Como se fosse a única saída.
Em seguida veio a trama de nossos jovens fios,
O emaranhamento de todas as essências,
E logo já não era possível dizer
Onde tu começavas
E onde terminava o eu.
Naturalmente, no clímax dessa história,
Há de caber um certo drama.
O outono acabaria em um inverno seco,
E mesmo em meio a tanto frio
Tu vistes que comigo poderia se queimar.
Depois, em tons de uma falsa sinceridade,
Entramos em uma guerra sem vencedores,
Um refinamento agressivo de nossas vontades:
Tu defendias a emancipação de tua vida
E eu jamais lhe entregaria a chave.
E passaram-se os anos, como costuma ser,
Passou o inverno, a tempestade, a fúria,
E no campo de batalha floresceu
A certeza de que sem ti
Nada em mim teria acontecido.
É por isso que venho rogar pragas,
Pra que tu entendas que sinto asco
Não de ti, mas de mim mesmo,
Por ser eu quem devo ser culpado
E tu quem deve ser exaltada.
Então faça, faça agora tua denúncia,
Vai lá gritar ao vento do vilão que sou,
Quem mais poderia te ouvir
Senão eu, teu predador,
Resoluto em não te abandonar, minha presa.