Sonhei por noites a fio
A meu lado tua sombra,
Inquieta lembrança de tudo aquilo que tu deixastes,
Ecos do que era, desejos reparados
E em nossa frente o coração do mistério
Será que poderíamos - outra vez -
Romper a dúvida e encontrar felicidade?
Quis gritar,
Tremi de noite, por medo e solidão,
Não sei se acreditei, por um momento sequer,
Que era capaz de atravessar a imensidão
Sem tua luz.
Confesso que caí,
Lancei-me ao fundo de todas as sarjetas,
Já não podia erguer-me
De toda essa sujeira.
Dormi na vala e reconheci
Um lugar que era, enfim, só meu
E em um destes inúmeros pesadelos
Ouvi a voz da musa
Que em incisivo golpe
Rechaçou meu sofrimento
Sua dureza em decreto me dizia
Que essa sombra já havia tirado muito de mim
Então, em segunda parte de infortúnio,
Larguei o conforto de meu poço lúgubre
E assim subi por desesperadas
Almas que habitavam o caminho.
Não sei dizer quanto tempo se passou.
Cheguei ao topo e vi a paz.
Hoje sou grata.
Selo o sol
E vou correr em campos verdejantes
Sem nunca olhar pra traz
Ao vale cinza.